Terceira idade
Um dos benefícios do ginásio, para os mais velhos, é o convívio
Talvez não seja surpreendente que estudos tenham associado relações sociais fortes a uma maior longevidade.
Até uma lesão o ter colocado no banco dos suplentes recentemente, Burt Abramowitz, de 81 anos, e o seu parceiro de treino de 76 anos tinham um compromisso, três vezes por semana: Iam ao ginásio, o Gold's Gym, em Rockville, Maryland, e depois iam comer fora, normalmente ao Dunkin' Donuts ou ao Silver Diner. Abramowitz brinca que por vezes a comida anulava qualquer benefício do exercício feito, mas que a comida nunca era o mais importante. Era o espírito de companheirismo que ele gostava.
A experiência de Abramowitz espelha a de uma população sénior activa, em que o ginásio se tornou num sítio usado não só fortalecer os músculos mas também a comunicação.
Talvez não seja surpreendente que estudos tenham associado relações sociais fortes a uma maior longevidade. Num estudo da revista científica British Medical Journal, os investigadores contam como as actividades sociais podem ser tão eficientes como o exercício físico para reduzir o risco de mortalidade. Estudaram, durante 13 anos, mais de 2800 pessoas com mais de 65 anos. Os investigadores acabaram por concluir que havia uma maior probabilidade de as pessoas activas estarem vivas no fim do período do estudo. Mas também observaram que as actividades sociais “conferiam vantagens de sobrevivência equivalentes às das actividades físicas”. O que significa que “actividades de pouco ou mesmo nenhum esforço físico também podem ser benéficas”.
Em 2010, três investigadores realizaram uma meta-análise de 148 estudos feitos entre 1990 e 2007, que verificou a ligação entre isolamento social e mortalidade, e descobriram que “as experiências sociais dos indivíduos previam significativamente o risco de mortalidade”. Por outras palavras, há uma maior probabilidade de pessoas com relações sociais mais fortes viveram até mais tarde. Quanto à direcção do efeito, quer seja a socialização que tem um efeito positivo na saúde ou as pessoas doentes tenham simplesmente menos relações, os autores dizem que os dados “oferecem provas mais concretas de influência das relações sociais no risco de mortalidade do que o contrário”. Com base na meta-análise, os investigadores descobriram que nesta influência à longevidade o isolamento social é comparado a factores de risco como fumar ou beber álcool e que pode até exceder outros factores de risco como obesidade.
O problema é que as relações sociais, os laços que nos unem à nossa comunidade, vão-se esbatendo com o passar do tempo. Os amigos e familiares reformam-se, alguns mudam-se e outros morrem. Para alguns, os lares de idosos ou centros de dia são a salvação. Mas para os que escolhem envelhecer na sua casa, pode significar viver sozinhos numa comunidade em constante mudança e onde as caras familiares vão desaparecendo.
É por isso que muitos acham que o ginásio é um bom sítio para fortalecer as relações sociais. É um local de encontro que reúne pessoas para participar numa só actividade. Além de que fazer exercício físico com um parceiro é um compromisso. É mais provável aparecermos se formos ter com alguém. Foi isso que atraiu Abramowitz. “O que nos motivava, a mim e ao Jay, era o companheirismo”, diz. “Era a amizade. Alguém com quem comentar sobre o que nos rodeia.”
Nick Crossley, professor de Sociologia na Universidade de Manchester, estudou a formação de comunidades em ginásios. Conta como estes locais são particularmente eficazes porque fomentam a socialização de uma forma rotineira, frequentemente com as mesmas pessoas, ainda que por acaso. “As pessoas acabam por se familiarizar umas com as outras assim”, diz Crossley.
Há estudos que têm provado a importância do papel que os ginásios desempenham na manutenção de laços sociais entre os mais velhos. Num estudo publicado na revista científica Preventing Chronic Disease, que acompanhou grupos-alvo num ginásio para adultos idosos, uma senhora disse que “ter a possibilidade de socializar com pessoas e rir ajuda o corpo a melhorar e a fortalecer a mente”. Os investigadores repararam ainda na forte sensação de união entre os membros, “um processo dinâmico reflectido na tendência de um grupo permanecer unido enquanto tenta alcançar o seu objectivo”.
Bob Ray, de 84 anos, treina no Hebrew Home of Greater Washington e gosta de motivar os restantes colegas na sala. “Estou sempre a encorajar as pessoas à minha volta enquanto treinam. Sou o presidente da sala de exercício. Gosto de falar muito e de ser social e o ginásio dá-me tudo isto”, diz. Por vezes, a conversa pode ser uma muito bem-vinda distracção do exercício ou da vida fora do ginásio.
A recuperação pós-treino oferece-lhes ainda uma oportunidade de socializar. É fácil encontrarem-se porque já estão todos juntos. No seu relatório intitulado “(Net)working Out: Social Capital in a Private Health Club”, Crossley descreveu a intimidade na sauna de um ginásio, “onde as pessoas estão quase sempre coladas umas às outras” e onde a conversa é quase uma necessidade.
Stan Ginsberg, de 73 anos, treina em Washington D.C. no LA Fitness e diz que depois da sua aula de hidroginástica o grupo segue para o jacuzzi, onde é mais fácil falar. “Falamos sobre a aula desse dia, mas gostamos mais de falar de assuntos de fora [do ginásio], como as nossas viagens”. Antes de um membro da aula de Ginsberg se mudar, o grupo organizou-lhe uma festa de despedida.
No caso de Abramowitz, a socialização depois do treino era quase tão importante como o treino em si. “O tempo de qualidade do pós-treino, quando íamos comer fora, era algo por que ansiávamos”, diz. “Não via o meu amigo três vezes por semana se não fosse pelo ginásio.”