• Nelson Garrido
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As caras por trás das marcas

Juliana Vieira deixou a cosmética para criar os sapatos Inguz

O calçado, com um toque masculino, da Inguz assenta num conceito por medida e com edição limitada. É feito de modo artesanal.

Cresceu rodeada de peles e de sapatos na fábrica de calçado do avô, mas confessa que nunca lhes ligou nenhuma. Juliana Vieira, 32 anos, trabalhou na indústria farmacêutica e regressou às suas origens, em Santa Maria da Feira, onde, desenha os sapatos da marca Inguz.

Juliana Vieira sempre piscou o olho à moda. “Mas nunca pensei fazer disto a minha vida”, porque em miúda as ocupações eram outras. “Corria pelos campos, remexia na terra e brincava com os bichinhos”, recorda. Quando cresceu trabalhou, durante algum tempo, na área da dermocosmética da indústria da farmacêutica. Mas a vontade que sempre teve de criar e montar um negócio próprio falaram mais alto.

Há três anos, a designer de calçado acabou por seguir as pisadas do avô. Não começou logo pelo calçado, andou lá perto no que toca ao uso da mesma matéria-prima, a pele, cuja arte de cortar aprendeu com o pai. Criou a primeira carteira de pele “sem formação nenhuma na área”. Resolveu arriscar e criou a marca Maria Boneca para a qual já fez mais de cem malas, conta, apontando para três que estão expostas no seu atelier, que é também loja. “Estas são únicas, personalizadas e destinam-se a ocasiões especiais.” Também por lá há porta-moedas feitos de pele.

Foi há dois anos que Juliana deixou a dermocosmética e abriu uma concept store em Santa Maria da Feira, onde, além das malas de pele tem dezenas de produtos portugueses como, por exemplo, as faianças de Bordalo Pinheiro. Mas faltava mais qualquer coisa… “Um dia, por brincadeira”, conta, olhos grandes brilhantes, Juliana começou a imaginar um par de sapatos e deu-lhe um nome – Oxford dos Santi. “Fui buscar o nome Santi às palavras Santa Maria da Feira” como que uma espécie de homenagem à terra onde cresceu. O sapato tinha de ser elegante, prático, confortável, bonito e com um design único. “Também tinha de gostar de o calçar”, diz, sorridente, enquanto mostra a secretária onde desenha, preenchida com formas de sapatos.

A reacção dos clientes foi tão positiva, que Juliana ainda não parou. A brincadeira transformou-se numa coisa séria e a jovem empreendedora decidiu fazer formação em modelação de calçado, em São João da Madeira. Foi assim que nasceu a Inguz, uma marca 100% portuguesa de sapatos, cujo nome alude “a uma runa que significa ‘onde há vontade, há um caminho’”.

Juliana Vieira passou a esboçar modelos de sapatos com traços um pouco masculinos, mas a pensar no público feminino. Estes são feitos à mão por artesãos da área, “com pele genuína de alta qualidade, numa paleta de cores minimalistas com um toque de extravagância”, descreve. Alguns dos seus modelos são de edição limitada, 20 pares. “Os Santi, feitos de camurça e abertos, são os que mais vendo agora, juntamente com os Tomi”, diz enquanto aponta para outros modelos, como as sabrinas. Um par pode custar entre 90 e 160 euros e é procurado por clientes com mais de 35 anos, que gostam de calçado confortável. Juliana acredita que o que a diferencia é fazer “sapatos personalizados, confortáveis, bonitos e práticos”. Antes de serem vendidos são personalizados com um cartão com a inscrição “She’s got that je ne sais quoi”, postos dentro de uma bolsa e, por fim, na caixa de cartão.

Por estes dias, a colecção de Outono/Inverno já está pronta. “Tudo começa na minha cabeça”, com as ideias a fervilhar e depois passa para o esboço no papel.” De seguida, uma das coisas que lhe dá mais gozo, neste processo de criação e produção, é o escolher as peles. “Gosto muito de ir aos armazéns, como se fosse a uma loja de brinquedos do tempo em que era miúda.”

A designer de calçado costuma participar em mercados no Porto, como o Urban Market, e sabe que os seus sapatos chegam a todos os cantos do mundo. “Começo agora a vender online”, informa entusiasmada. Está esperançosa que o futuro lhe reserve muito sucesso com cada vez mais Inguz Lovers – é assim que chama, com carinho, a quem compra os seus sapatos.