Na ponta da língua
Aprender a fazer uma Margarita perfeita é uma boa maneira de descobrir a fórmula fácil para muitos outros cocktails
Para uma introdução espectacular ao mundo dos cocktails não há como fazer uma Margarita. Basta comprar duas garrafas: uma de tequilla e outra de Cointreau. Precisará também de sumo de lima.
Parece um fácil primeiro parágrafo. Mas não é. Hoje em dia há quem faça Margaritas sem Cointreau, só com tequilla, sumo de lima e xarope de agave ou de açúcar. Vai-se à Internet e as receitas parecem sempre simples e fáceis. Não são.
A verdade é que, como todos os cocktails, a Margarita precisa de quatro ou cinco sessões de experimentação. Uma receita apenas fornece as medidas com que se começa. É a partir daí que se começa a afinar a Margarita até estar inteiramente ao seu gosto. A melhor Margarita, obviamente, é a Margarita que cada pessoa prefere.
Mesmo os preguiçosos ganham em fazer estas experiências — todas aprazíveis, já que nenhuma das Margaritas será recusável — para poder ganhar uma ideia de como pedir uma Margarita a um profissional. Com mais tequilla? Mais doce? Mais ácida?
Claro que uma Margarita fica melhor com uma tequilla 100% agave. Basta uma blanca, sem envelhecimento ou cores. Uma boa política é comprar a tequilla mexicana 100% agave que for a mais barata. Pode ser a Herradura, por exemplo, ou mesmo El Jimador. Cuidado com a graduação alcóolica: 40% é o que se quer para esta receita. Se for desgraçadamente 38 ou 37,5 terá de se aumentar proporcionalmente a dose de tequilla — e a Margarita não ficará tão boa.
Prove-a sozinha, sem mais nada (sem limas ou sal, por exemplo). Se for agradável assim, óptimo. Se for um bocadinho agressiva, experimente fazer a Margarita. É preciso não esquecer que os cocktails foram inventados para disfarçar bebidas alcóolicas aceitáveis mas não dignas de beber sem mais nada.
As tequillas variam tanto como os whiskies em idades, qualidades e preços. A confusão existe para confundir os consumidores — sobretudo aqueles que querem gastar mais dinheiro.
É preciso cuidado com as tequillas mais baratas. Todas aquelas que não são 100% agave têm apenas 51% agave. O resto é álcool de cana ou pior.
Quem é que quer beber uma tequilla que não é só agave? A resposta, complicadamente, é muita gente.
Whiskies, brandies, runs e outras bebidas também são reforçadas com álcool e alguns não deixam de ser bebíveis. Como é que se descobre quais é que podem ser usados? É preciso saber, caso a caso.
É possível fazer Margaritas aceitáveis com tequillas mistas? Só para quem nunca provou as tequillas 100% agave. Deveriam chamar-se 100% tequillas porque as mistas (de marcas tão conhecidas como a Sauza e a José Cuervo) só são 51% tequilla. Mas atenção: tanto a Cuervo como a Sauza vendem tequillas 100% agave, pelo dobro do preço. É admirável que o México seja tão severo com a tequilla. Cabe-nos saber beneficiar desse cuidado.
Como guia de compra, não gaste menos de 20 ou mais de 35 euros para comprar uma tequilla 100% agave destilada e engarrafada no México. Se a tequilla for boa para beber sozinha, é uma pena estar a diluí-la. Há que resistir à tendência actual para usar bebidas caríssimas para fazer cocktails. Os artistas do Dead Rabbit, por exemplo, estão no Claridge’s em Londres onde desperdiçam cognac Martell Cordon Bleu para fazer sidecars desnecessariamente complicados.
As proporções clássicas e iniciais de uma Margarita são três de tequilla, duas de Cointreau e 1,5 de sumo de lima. A partir daqui é preciso ir afinando o Cointreau, para cada vez menos, até equilibrar. O equilíbrio está na cabeça de cada um.
Para o meu gosto, por exemplo, prefiro três de tequila, uma de Cointreau e uma de sumo de lima. Há muitas pessoas que gostam mais de só duas de tequilla e uma de Cointreau e uma de sumo.
Quando se começam a aplicar e a afinar as fórmulas elas perdem a aparente dificuldade. 3-2-1, 2-2-1, 3-2-1,5 são três possíveis pontos de partida. O ponto de chegada é o descobrimento e o privilégio de cada um.
No meu livro Com os Copos demonstrei a aplicação destas fórmulas a outros cocktails. 2-1-1 em que 2 é um destilado, 1 é um licor e 1 é um sumo é a fórmula de muitos cocktails. As afinações fazem-se primeiro em meias-medidas, um ingrediente de cada vez. Vai-se, por exemplo, para 2,5-1-1 e depois para 2,5-1,5-1, de onde se poderá ir para 2,5-1-1,5.
Mais fácil ainda é decidir qual é a versão da Margarita que fica mais deliciosa.