Na ponta da língua
Deite fora os sabonetes e champôs e substitua-os todos pelo sabão da cabra serpentina
Para fazer um bom sabão basta soda cáustica, água e uma gordura qualquer, animal ou vegetal. A soda cáustica diluída torna a gordura em sabão. É o milagre da saponificação. Nada mais é necessário.
No sabão mais antigo do mundo — o de Aleppo — a versão mais simples que contém apenas azeite de oliveira tem apenas dois ingredientes: azeite e hidróxido de sódio (soda cáustica).
O melhor sabão que pode haver é aquele que fizer em casa com o melhor azeite que arranjar. A feitura é fácil, à parte alguns cuidados e alguma paciência. Por menos de 100 euros (incluindo uma varinha mágica) compram-se todas as ferramentas necessárias.
Esta é a verdade. As mentiras são de todos os sabonetes que andam para aí, desde os mais baratos aos mais caros. Se tiver mais de cinco ingredientes desconfie. Desconfie de todos os ingredientes com nomes complicados.
Em Portugal há pelo menos uma marca de sabão que é inteiramente de confiança: é a Olivae, de Évora, onde a bióloga Elza Neto e a engenheira zootécnica Carla Janeiro produzem artesanalmente um sabão muito bom, usando apenas matérias-primas locais, sustentáveis e de grande qualidade.
Está à venda nas lojas de A Vida Portuguesa e em muitos outros locais, conforme se aprende no excelente site olivae.wix.com. É reconfortante ver, na página dos recortes de imprensa, as reportagens da RTP e da SIC em que vemos o sabão a ser feito, impecavelmente, sem aldrabices ou mistificações. Que alívio são a inteligência e a limpeza de ideias destas duas mulheres!
Uma barra de 100 gramas feita e embalada à mão custa 5 euros. É caro.
Mas compare-se com o que custam os sabonetes das grandes marcas, cheias de preservantes, água, estabilizadores e enchimentos inertes e verá que 5 euros é o máximo que deve gastar por um sabão da mais alta qualidade.
O encanto e a inteligência da Olivae são evidentes. Utilizam leite de cabras serpentinas — umas cabrinhas muito bonitas que são uma raça autóctone portuguesa e que estão em risco de extinção.
A Olivae recebe o leite directamente da Associação Portuguesa de Caprinicultores da Raça Serpentina. O azeite que usa é azeite virgem vindo da Cooperativa Agrícola de Portel. Até os óleos essenciais que usam (alecrim azul, tomilho bela-luz e rosmaninho) são destilados por ele a partir de ervas cultivadas em Portugal.
Mas não é por ser 100% português e 100% natural e 100% artesanal que o sabão Olivae é bom. É a fórmula que resulta num banho luxuriante que deixa toda a pele muito bem limpa e hidratada, não sendo necessário a aplicação de qualquer outro hidratante.
É um prazer cheirar a nossa pele — ou melhor ainda, a pele da pessoa com quem partilhamos a vida — sem cheirar a sabão ou a mais nada. Não é um cheiro a nada: é o cheiro da pele limpa, que é o melhor cheiro do mundo.
Experimentei durante uma semana as quatro versões do sabão (não gosto da palavra “sabonete”) que produzem: o sabão sem aroma nem ervas e as três variações, com alecrim, tomilho bela-luz ou rosmaninho.
As versões com ervas são bonitas e cheirosinhas mas acho que a melhor é a que não tem nem aroma nem fragmentos de ervas. A cor é clarinha — o que é tecnicamente difícil — e dilui-se muito bem, sem esboroar ou amolecer excessivamente.
Seria bom, apesar de tudo, dispor de uma versão ainda mais simples, sem leite nem cera de abelhas, com a máxima percentagem possível de azeite virgem. Talvez pudesse ser vendido em barras inteiras para os consumidores (como eu) que gostam de comprar o conteúdo de um molde inteiro e ir cortando à medida que se vai precisando.
Também há lugar para um sabão preto para limpezas domésticas, de preferência líquido (como o savon noir de Marselha do Marius Fabre) que poderia ser feito com azeites e óleos mais baratos, porventura já usados.
Entretanto faça um favor a si próprio e à sua família: deite fora todos os sabonetes e champôs que tem lá em casa e substitua-os todos por sabão de Aleppo ou o sabão líquido do Dr.Bronner ou, sem dúvida alguma, pelo sabão magnífico da Olivae.