Psicóloga de Família
O nosso filho é vítima de bullying?
Numa conversa com pais sobre bullying, com filhos em idades muito diferentes, podemos encontrar um sentimento comum a todos eles: o sentido de desprotecção dos filhos e a impotência enquanto pais de não os conseguirmos proteger destas situações.
O bullying é um fenómeno relacional que ocorre sobretudo em escolas, caracterizado por comportamentos agressivos, intencionais e repetidos, sem motivação aparente. Crianças e jovens que passam por situações desta natureza, seja qual for a idade, apresentam sempre sentimentos de tristeza, medo e solidão.
Na realidade, enquanto pais não conseguimos evitar que possam vivenciar estas situações, e mesmo que estejamos muito atentos, pode ser que nunca consigamos detectar o que se está a passar. Esta, também é uma grande angústia: não sabermos o que se está a passar na vida dos nossos filhos, e consequentemente, não intervirmos no sentido de os ajudar. Nesta situação, como em tantas outras, a capacidade de um filho se abrir connosco e pedir ajuda pode depender, em grande medida, do estilo de relação e comunicação que fomos estabelecendo desde o berço.
Se as expectativas que temos enquanto pais para com os filhos é que sejam sempre os melhores ou estejam sempre entre os melhores em todas as áreas da sua vida, dificilmente um filho, nestas circunstâncias, terá a iniciativa de nos confessar as suas fragilidades, os seus medos ou exclusão. Esta, é também uma forma de não nos desiludir e também de preservar parte da sua vida. De igual forma, se as nossas expectativas forem frequentemente muito baixas, a partilha da vivência deste tipo de situações só servirá para confirmar a ideia que os pais têm de si, e portanto, algo a evitar.
Desenvolver ao longo da vida um estilo de comunicação franca e aberta, com capacidade para aceitar e acolher opiniões divergentes por parte dos nossos filhos, torna-se fundamental para o estabelecimento de uma relação que lhes permita confiar.
Crianças e jovens também nos falam muito através do seu comportamento. Vivências de bullying podem contribuir para a alteração do comportamento habitual: desculpas para faltar às aulas, queixas físicas como dores de cabeça ou barriga, desmotivação com os estudos ou quebra de rendimento escolar, dificuldades de concentração e aprendizagem.
A percepção da alteração do comportamento habitual pode funcionar enquanto sinal de alarme de algo que poderá estar a passar-se de diferente e dar-nos a possibilidade de estarmos mais atentos, mais perto e disponíveis para podermos intervir. Quer directamente com os nossos filhos, quer junto do sistema escolar. Quase sempre, os filhos são sensíveis, percepcionam e valorizam os nossos movimentos de aproximação, tornando-se também eles mais próximos, sobretudo em fases de fragilidade onde sentem que precisam de ajuda.
Relativamente a um filho, imaginamo-lo sempre no papel de vítima, nunca de agressor. No entanto, qualquer que seja o papel que assuma neste contexto, precisa ser ajudado. Quem agride poderá já ter estado no papel de agredido e apresentar sentimentos e sintomas semelhantes ao que é agredido. Seguramente, algo não estará a correr bem no seu percurso de vida e deve ser alvo de ajuda.
Debates de prevenção junto dos alunos na escola, bem como acções de formação junto dos professores que os ajudem a avaliar correctamente estas situações (cujo grande número ocorrem dentro da sala de aula), permitindo-lhes intervir de forma eficaz, torna-se cada vez mais urgente. Esta não deve ser apenas uma iniciativa a partir das escolas. Todos, enquanto pais e cidadãos, temos o dever de promover estas acções e sermos agentes activos de mudança. As crianças e os jovens agradecem!