Nélson Garrido

A saudável rivalidade entre irmãos

“Mãe, podemos devolvê-la?!”

O nascimento de um irmão pode despertar o sentimento de que o seu mundo nunca mais será o mesmo. A aprendizagem da partilha do amor dos pais com o outro é um caminho exigente e nem sempre fácil de entender para o próprio e para quem está por perto.

Regressões que o aproximam dos comportamentos do irmão mais novo, birras, desobediência, queixas somáticas, entre outras, podem fazer parte deste percurso que reflecte uma ocupação de um espaço que era só seu e o convívio com a admiração dos pais pelas conquistas “patetas” do bébé.

Os pais devem ser auxiliares atentos e discretos nesta adaptação envolvendo o irmão mais velho nos cuidados e rotinas do bebé, reservando um espaço de exclusividade que sempre existiu ou evitando comparações entre um e outro.

Rivalidade, competição e ciúme são formas de os irmãos comunicarem e reconhecerem os limites de uma relação que se quer para a vida. Perante situações que envolvem dois filhos nesta dinâmica os pais sentem-se quase sempre frágeis – “Quem tem razão? Quem começou?” Encontrar estas respostas não é fundamental.

A competição, o amor, o ciúme e a cumplicidade são ingredientes da receita da relação de amor fraterno. Todos eles têm de estar presentes para que esta seja uma relação equilibrada. Os pais não devem interferir sob pena de a desequilibrar ou intensificar os comportamentos de rivalidade, até porque há tácticas que fazem parte desta relação e que os pais desconhecem e nunca irão entender por completo.

Naturalmente há que estar atento, sobretudo quando existem diferenças de idade, mas raramente os irmãos exercem verdadeira violência entre si. As relações fraternas caracterizadas pelo conflito ou pela distância, que se mantêm até à idade adulta, reflectem quase sempre uma história familiar passada onde o papel dos pais teve uma profunda influência na construção desta relação

Ao longo do caminho desta relação, os pais devem estar muito atentos aos seus próprios sentimentos para que não interfiram directamente na construção desta forte relação. Todos sabemos que há filhos com quem mais nos identificamos ou que mais nos compensam, podendo gerar uma tendência para uma maior protecção; filhos mais facilitadores ou desafiadores do nosso papel de pais; histórias de alianças na nossa própria infância que nos fragilizaram ou nos fizeram sentir preteridos e que podem interferir fortemente na forma como olhamos para esta dinâmica. Estes, entre outros, são aspectos aos quais devemos dedicar alguma reflexão e servir para nos questionarmos ou nos colocarmos em causa, para que possamos fazer diferente...

Psicóloga familiar