Paulo Ricca/Arquivo

Como nos sentimos quando os nossos filhos precisam de ajuda…

Sabemos que as crianças são diferentes dos adultos e que têm muitas vezes dificuldade em expressar verbalmente e com clareza os seus estados de inquietação ou sofrimento. A forma como o fazem deixa muitas vezes os pais confusos e com dificuldade em contextualizar as reacções que apresentam.

São os comportamentos diferentes e que se afastam da forma como a criança é e reage habitualmente que surgem como alerta para os pais. Muitas, reagem através de uma maior agitação, agressividade ou oposição face aos adultos ou tarefas que têm que desempenhar no seu dia-a-dia; outras, através de uma manifestação mais clara de tristeza ou isolamento, que apesar de tudo são mais fáceis de identificar para quem está à sua volta.

O que nos pode ajudar a distinguir sobre a necessidade de pedir ajuda técnica na compreensão destas alterações é a frequência e durabilidade das mesmas, bem como a avaliação de como estão ou não preservadas as várias áreas da vida da criança ou adolescente (desempenho escolar, relação com os amigos, sono, alimentação). Uma conversa inicial com o médico pediatra que conhece bem a realidade da criança e da família, pode ser um primeiro passo importante na tomada de decisão de avançar ou não para uma ajuda mais especializada (psicólogo, pedopsiquiatra, etc.).

Independentemente da ajuda que venhamos a receber sabemos imediatamente enquanto pais que este é um tempo em que vamos precisar de mais tempo. Tempo de qualidade para dedicar ao filho e à relação. As crianças sentem claramente quando lhes dedicamos o nosso tempo e a nossa atenção. Sentem-se queridas e sentem-se olhadas, o que num período de grande fragilidade representa um grande conforto e aceitação.

Mas pedir ajuda é muitas vezes mais difícil para os pais, do que para os filhos. Inevitavelmente, há o desejo de resistir a outras intervenções… há sempre um sentimento de falha… de que não fomos capazes de, sozinhos, ajudar os nossos filhos a resolver os seus problemas… Tememos igualmente as questões que nos vão colocar, as emoções que vão despertar e as relações que vão ser remexidas. Receamos que tudo isto aumente os nossos sentimentos de culpa e incapacidade para conseguir dar aos nossos filhos aquilo que precisam para se apaziguar e seguir em frente. E como tentamos chegar a eles… e tantas vezes, não conseguimos.

Um técnico de saúde mental experiente saberá fazer a avaliação, acompanhamento e/ou encaminhamento das situações que lhe surjam, pelo que confiar e ultrapassar os nossos medos e preconceitos será sempre o melhor caminho.

A preocupação com uma dificuldade ou sofrimento de um filho é sempre um caminho solitário, por mais conversas que tenhamos com amigos ou familiares. As decisões serão sempre nossas.

Sei, enquanto mãe e enquanto psicóloga e terapeuta familiar, como os pais anseiam encontrar alguém em quem sintam poder confiar para “entregar” os seus filhos num momento em que se sentem tão perdidos; alguém em quem se possam apoiar neste caminho para a tomada de decisões mais seguras e escolha de melhores atitudes parentais que contribuam para um crescimento dos filhos mais tranquilo e feliz.

Não há soluções perfeitas neste caminho de exigência, mas é fundamental para o sucesso desta relação terapêutica assegurar aos pais que não há lugar para culpas ou culpados, o que terá grande significado num momento em que as competências parentais estão tão fragilizadas.

A ajuda técnica pode restituir aos pais esta segurança, mas o papel parental será sempre o mais importante e insubstituível, pois são eles os verdadeiros especialistas dos filhos. Serão necessárias mudanças no fazer e dar largas à criatividade. Não há resultados mágicos ou definitivos. Poderemos sim conseguir melhores respostas de cada um, para que todos se sintam mais adaptados, aumentando o bem estar e competência da criança e da família. Sem nunca esquecer que há sempre um ritmo e tempo necessários para todos que deve ser respeitado e aguardado com muita paciência e esperança!

Psicóloga e terapeuta familiar