Psicóloga de Família

"E agora que tenho de voltar ao trabalho?"
Ao fim da primeira semana de trabalho de Tânia, o casal vai jantar ao restaurante de sushi que tanto gostam e onde não iam já há muito tempo.
Tânia: Miguel vamos ter que repensar a organização das rotinas. Nunca pensei que fosse tão difícil... preciso mais da tua ajuda, sinto-me exausta! Parece que tenho de estar em todo o lado e não estou em lado nenhum! Estou no trabalho e penso nela, estou com ela e penso que não rendi aquilo que rendia... Que pressão!
Miguel: Se calhar é isso mesmo...
Tânia: O quê?!
Miguel: Não podes estar em todo o lado! Não és a super-mulher! Agora tens dois papéis: trabalhas e és mãe.
Tânia: Tenho?! Temos! Se não te importas!
Miguel: Claro, claro que sim. Temos que rever as coisas. Também não te quero nessa exaustão. E também tenho que me atirar mais para a frente, mas nem sempre me dás esse espaço...
Tânia: Chego ao trabalho já atrasada porque ela demorou mais tempo a mamar e tenho a sensação que já estou acordada desde o dia anterior, depois ainda ter que tirar o leite com a bomba na casa de banho, com os colegas a precisarem de entrar...
Miguel: Se calhar devias parar de amamentar. É um esforço muito grande para ti.
Tânia: Não, isso não! Sabe-me tão bem dar-lhe de mamar pela manhã, e então ao fim do dia! E imaginar que ela também bebe o meu leite quando eu não estou, aconchega-me. Não sei explicar...
Miguel: Eu sei, é uma forma de te sentires mais ligada a ela. Isto vai melhorar. Afinal foi a a primeira semana. É preciso tempo!
Tânia lançou um pedido de ajuda a Miguel que revela claramente a exigência que muitas mães sentem no assumir destes dois papéis, o de sentirem que têm de cumprir na perfeição, o que significa com verdadeira entrega e êxito. Sabemos que actualmente isto acontece para muitas mulheres, até porque para elas é instintivo fazerem as coisas desta forma, e para muitas como viram as suas mães fazer, mas com a diferença de que, então, algumas não tinham uma vida profissional.
Actualmente, homens e mulheres são trabalhadores, para além de pais e mães, logo os problemas inerentes aos filhos e organização das tarefas domésticas exigem partilha. Apesar de percebermos que a partilha exactamente igualitária não é possível, há um equilíbrio para todos que deve ser defendido. Com a certeza de que a sua não existência acarretará mais tarde um preço a pagar, sobretudo ao nível da união do casal, tão ameaçada hoje em dia.
O envolvimento maior do pai na esfera de tudo o que está relacionado com a família traduz-se numa maior profundidade ao nível da relação com as crianças, mas também, e sobretudo, num suporte mais próximo e efectivo à mulher. É desta forma fundamental que em momentos de mudança no ciclo de vida da família o casal reavalie a sua organização familiar, criando oportunidades para a partilha dos sentimentos de cada um.
De facto, é importante que os jovens pais tenham consciência de que os primeiros anos de crescimento dos filhos são de grande exigência, sobretudo quando ocorrem acontecimentos inesperados, como por exemplo, as doenças. Nestas ocasiões, fruto da culpa pela ausência e do desejo de ser eficaz no seu papel mais importante surge a necessidade de vestir o fato de “supermulher ou supermãe”.
Muitas vezes os confrontos com o pai representam um confronto consigo própria pela dificuldade que sente em assumir plenamente a conjugação dos dois papéis (mãe/profissional). Esta adaptação, que leva tempo, vai mostrando que nos períodos de crise ou doença, uma das partes, inevitavelmente, será menos compensada em função da prioridade da outra. Mas aceitar esta premissa é também aceitar a nossa limitação e agir de acordo com ela, partilhando-a com o outro.
Estes são de facto tempos de stress, mas que têm uma duração limitada, para a maioria das famílias. A criatividade e flexibilidade são essenciais para a manutenção do equilíbrio. Os primeiros anos de crescimento dos filhos são de grande exigência mas também de grande compensação. Quanto maior for a capacidade de envolvimento melhor exemplo os pais serão para os seus filhos contribuindo para a construção de um padrão relacional coeso.
O desempenho destes dois papéis – pais/profissionais – é tão exigente quanto compensador, se pensarmos que o crescimento, aprofundamento e aperfeiçoamento enquanto pessoas depende, também, do alcançar do equilíbrio destas duas funções profundamente interligadas.