Psicóloga de Família

As festas, a família real e a família imaginária
"O verdadeiro significado do Natal é poder estar com toda a família reunida! A palavra Natal significa nascimento pois foi nesse dia que nasceu o menino Jesus.
O Natal é amor, amizade e alegria!
Eu gosto muito do Natal porque posso reencontrar as pessoas da minha família que não vejo há muito tempo...
No Natal, às vezes, também neva e as crianças começam a pedir para ir brincar lá para fora e fazer bonecos e anjinhos de neve! Na véspera de Natal fica-se acordado até tarde a conversar e distribuir presentes!
Eu acho que toda a gente adora o Natal!"
As celebrações do Natal e Ano Novo envolvem quase sempre um reencontro com as famílias de origem ou família alargada. É uma época de emoção e reflexão sobre o que somos ou fomos, o que sentimos como necessidade de mudança ou perspectivamos como importante a implementar no futuro.
Tal como nesta quadra, ao longo da nossa vida vamos vivendo entre o desejo e a possibilidade, a ilusão e a realidade, entre o que imaginamos e o que realmente é. Por um lado, queremos sentir os pés na terra e olhar para as pessoas e situações tal como são, para não nos desiludirmos e sabermos com o que podemos contar. Mas há sempre uma parte de nós que mantém o desejo por uma vida perfeita, com pais e filhos perfeitos, família e amigos perfeitos, até porque, muitas vezes, o confronto com a realidade é duro ou mesmo impossível de suportar. E assim vamos vivendo neste limbo, até que circunstâncias ou fases de vida "obriguem" a que nos reencontremos e renovemos.
Naturalmente que aqueles que nos são mais próximos aumentam o desafio e a inevitabilidade deste jogo de compreensão do Outro que é real mas também idealizado!
Este é um caminho que tem início antes do nascimento! Um bebé antes de nascer já ocupa um lugar próprio na família que vai sendo construído ao longo da gestação, no imaginário dos pais e através das conversas, da decoração do quarto, da preparação do enxoval, etc... Neste tempo vão recebendo informações sobre o seu bebé pelas ecografias, pelos movimentos dentro da barriga, o que lhes permite um conhecimento mais real sobre o filho que esperam. Os pais vão fazendo este esforço permanente de ajustamento psicológico entre o bebé que imaginam e o bebé real e que assume o seu ponto máximo nos primeiros meses de vida do recém-nascido. Agora, o trabalho psíquico é ainda mais exigente, pelo verdadeiro confronto com um bebé com características e necessidades próprias, totalmente dependente dos pais. É uma relação que se vai construindo pelo desinvestimento no bebé perfeito imaginado e a progressiva aproximação ao bebé real! É um caminho que exige maturidade, entrega e respeito, que se vive e aprende ao longo de todo o ciclo de vida.
Também na etapa da adolescência, o desejo de maior liberdade e autonomia pelos filhos obriga a um distanciamento e confronto com os pais, para que os primeiros possam ter novas experiências e finalmente optar pelos valores e estilo de vida que mais fazem sentido na construção do que desejam Ser e Viver. Este é talvez o segundo momento no ciclo de vida da família em que os pais sentem a desilusão pela criança que controlavam e mimavam e o adolescente que questiona. Igualmente, a saída de casa dos pais, a criação de uma nova família também são momentos que exigem algum afastamento das famílias de origem para que possam criar com a maior liberdade as suas próprias regras e forma de estar.
A distância, deve ser olhada como um factor protector das relações intrafamiliares, para que todos vão tendo tempo e espaço para se adaptarem às mudanças constantes de papéis, que são exigidas ao longo da vida. Um filho passa a ser pai, marido e genro; o seu pai passa a ser avô e sogro, o que exige um assumir de mais papéis onde as hierarquias e poderes se terão que redefinir com um grande respeito e esforço por parte de todos.
Nestas festas, as famílias reúnem-se mais e por vezes com a necessidade de ficarem sob o mesmo tecto!
Naturalmente que entre pais, filhos e netos, a alegria é quase sempre grande por estarem juntos mas não nos enganemos de que também são dias muito exigentes do ponto de vista emocional! Particularmente, quando estamos com a família de origem do Outro, que não é a nossa. As tradições poderão ser muito diferentes, desde os rituais típicos da quadra, ao local onde se está, até ao que se come. Há sempre um esforço de adaptação que é necessário.
As emoções que a época transporta e a proximidade inevitável, podem contribuir para circunstâncias de maior tensão ou confronto, que surgem por muitos motivos, com destaque para a "confusão" de papéis dentro da família, na tentativa de manter os poderes adquiridos na etapa do ciclo de vida anterior! No entanto, não nos esqueçamos que também são estes momentos que nos permitem desinvestir na família imaginária e aproximar-nos da família real para que nos situemos nestas relações de uma forma mais definida, livre e verdadeira!