PÚBLICO/Arquivo

Psicologia Hospitalar: um percurso construído!

Esta iniciativa foi encabeçada por um grupo ousado de psicólogos que desenvolvem o seu trabalho nos vários Serviços do Hospital de Santa Maria. Bem hajam! Aproveito também a oportunidade para agradecer o convite que me fizeram para participar activamente neste momento. Durante um dia feliz para a Psicologia, foi possível a partilha do trabalho desenvolvido em áreas muito distintas e que revelam o saber de experiência acumulada.

A abertura do encontro foi encabeçada pela dra. Isabel Trindade e pelo professor Daniel Sampaio. Este último, com a frontalidade e coragem a que já nos habituou, afirmou a sua defesa pela independência da disciplina de Psicologia relativamente à Psiquiatria, que no nosso hospital e em muitos outros, se encontra sob a direcção e supervisão desta última.

O professor Telmo Mourinho Baptista, bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses, defendeu o papel da Psicologia como um agente auto-regulador dos processos hospitalares, tanto ao nível da intervenção clínica, como das relações humanas. Destacou a mudança como uma função e responsabilidade da Psicologia, que para acontecer precisa de uma compreensão destes processos, para poder intervir mais e melhor. Reafirmou o papel que desempenhamos na promoção e prevenção da saúde psicológica e familiar, nos centros de cuidados primários; nos programas de eficácia comprovada na intervenção da dor, na preparação pré-cirúrgica dos doentes, entre muitas outras intervenções praticadas pela psicologia hospitalar.

Facilmente se compreende a forte motivação e pressão para que a ciência psicológica integre cada vez mais as equipas de saúde primárias, secundárias e terciárias – pela defesa da promoção e prevenção da saúde, a humanização e eficácia dos cuidados, de onde resultam sobretudo ganhos para os doentes e a redução dos custos financeiros na saúde, entre outros.

A psicologia hospitalar, como foi unanimemente defendido ao longo deste encontro, há muito que deixou de ter como perspectiva a mera avaliação e intervenção sobre as vulnerabilidades e fragilidades do doente. A perspectiva é agora mais sistémica e positiva, valorizando as competências dos doentes e das famílias. Estes têm agora, um maior poder nos processos de tratamento, ajudando-nos a clarificar o caminho terapêutico a seguir, respeitando o percurso das suas histórias de vida e desejos, resultando por isso num processo de co-construção mais verdadeiro, satisfatório e de sucesso.

Os grupos de trabalho, com discussão interpares, representaram uma oportunidade para emergirem ideias e linhas de orientação centrais e claras, sobre temas fundamentais como a articulação do hospital com os cuidados de saúde primários e a comunidade; a avaliação psicológica como o diagnóstico diferencial; custos e efectividade das intervenções e adesão terapêutica; investigação e melhoria da prática clínica, entre outros.

A riqueza e variedade das intervenções foi realmente grande, sendo difícil fazer uma passagem por todas, mas seguramente reflectem de forma inequívoca uma vivência de novos paradigmas no nosso hospital. Foram participantes os serviços de Pedopsiquiatria e Saúde Mental da Infância e da Adolescência, o de Psiquiatria, o de Endocrinologia, o de Genética, o de Doenças Infecciosas, a Unidade de Cuidados Paliativos, o Núcleo de Estudos do Suicídio, entre outros. Ficou claro que para os psicólogos é um previlégio trabalhar com e sobre as necessidades das pessoas, que revelam a confiança de partilhar connosco as suas vidas. Conscientes da contribuição que tal representa para o nosso crescimento profissional, mas também pessoal, e com toda a responsabilidade que envolve, por inevitavelmente fazermos parte do sistema e percurso de vida da pessoa e da família!

Este encontro também foi possível pela dedicação e confiança revelada pela professora Maria do Céu Machado que tem percorrido um caminho de exigência e compromisso com o nosso grupo profissional, que nos desafia diariamente a ir mais além. Bem haja!

Finalmente, recebemos com alegria o anúncio da criação do Núcleo de Psicologia Hospitalar que se irá dedicar à Formação e Investigação Clínica, pela voz do dr. Pedro Dias Ferreira que certamente nos trará notícias do mesmo nas II Jornadas de Psicologia do Hospital de Santa Maria, a realizar em Novembro de 2015! Parabéns!