Daniel Rocha

Peso & Medida

Dietas: Faz restrição rígida ou flexível?

Ao tentar perder peso é comum associar-se a restrição alimentar à magnitude dos resultados que esperamos obter.

Quando se pensa em dietas, “restrição” é um dos conceitos que desde logo nos vêm à cabeça. Contudo, ao tentar limitar o consumo de um determinado alimento de uma forma rígida, por vezes acabamos por pensar muito mais nesse alimento e, mais tarde ou mais cedo, damos por nós a consumi-lo. Talvez até de forma exagerada.

Ao tentar perder peso é comum associar-se a restrição alimentar à magnitude dos resultados que esperamos obter. Pensamos: “quanto mais conseguir restringir a minha alimentação, mais peso conseguirei perder”. Embora este raciocínio não esteja totalmente errado, existem diferentes tipos de restrição alimentar com diferentes resultados. Um dos aspetos mais importantes a considerar é se o perfil de restrição alimentar é mais rígido ou mais flexível.

Há cerca de duas décadas que se sabe que a restrição alimentar rígida e flexível são formas distintas de reduzir a ingestão, e que possuem relações diferentes com o sucesso na gestão do peso e até com o desenvolvimento de distúrbios de comportamento alimentar. Por exemplo, um estudo de intervenção com mulheres portuguesas com obesidade, mostrou que um perfil de restrição alimentar mais flexível foi uma das variáveis com maior poder explicativo do sucesso na gestão do peso (quer perda, quer manutenção posterior do peso).

Vejamos a diferença entre um perfil de restrição alimentar rígida e um perfil de restrição alimentar flexível. O primeiro caracteriza-se por ser pouco ajustável, envolvendo a imposição e limites rígidos, tais como a perceção de que existem alimentos proibidos que não podem ser consumidos sob pena de “deitarmos tudo a perder”. Habitualmente, apresenta um registo dicotómico “tudo ou nada”, “estar em dieta” ou “não estar em dieta”, onde sucessivamente se iniciam dietas rígidas às quais se seguem fases de ingestão descontrolada de alimentos (qualitativa e/ou quantitativamente). Ultrapassados os limites rígidos autoimpostos, podem surgir ainda sentimentos de culpa ou de incompetência como consequência da frustração induzida pela quebra do padrão desejado e da sensação de perda de controlo.

É a interação de todos estes fatores que tornam a restrição rígida “inimiga” da manutenção das alterações alimentares induzidas e consequentemente da boa gestão do peso.

Em contraponto, adotar um perfil de restrição alimentar mais flexível pode ser importante para atingir uma perda de peso sustentada. Existe evidência nesse sentido, desde estudos controlados e randomizados até revisões sistemáticas da literatura recentes.

Estamos perante um perfil de restrição alimentar flexível, quando a dieta nos permite pensar: “amanhã vou ter um aniversário” ou “vou passar o fim-de-semana à terra” sem que isso nos traga ansiedade porque corremos o risco de “quebrar a dieta” ou de comer alimentos que já andávamos a evitar há algum tempo. A capacidade de adaptar a ingestão alimentar em função das exigências do dia-a-dia, torna possível cometer alguns excessos alimentares (por exemplo, num jantar especial com amigos; após oferta de uma fatia de bolo por terceiros), e apreciar o prazer que se proporciona, sem prejuízo de voltar ao padrão de dieta habitual em seguida. Esta é uma das facetas principais de uma restrição alimentar flexível. A quebra esporádica dos limites estipulados não nos faz sentir a perder o controlo nem culpa, pois é enquadrada numa visão mais holística da alimentação e como algo natural.

Em suma, indivíduos com um perfil de restrição alimentar mais flexível regulam a ingestão alimentar e energética sem considerarem comportamentos específicos como obrigatórios (Ex: “tenho que comer todos os dias de 3 em 3 horas”) ou alimentos específicos como proibidos (Ex: “não posso comer doces”), sentindo menos pressão aliada ao processo e um entendimento mais gradual sobre o impacto da dieta no balanço energético.

Considerando importância que o tipo de restrição alimentar que adotamos pode ter na gestão do peso, é de especial relevo que se reforcem estes conceitos a todos aqueles que fazem “dieta”, bem como aos profissionais que os apoiam.

Nutricionista, Faculdade de Motricidade Humana

O autor deste artigo escreve ao abrigo do novo Acordo Ortográfico