• Nélson Garrido
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As caras por trás das marcas

Da venda ambulante à Eugénio Campos Jewels

Eugénio Campos começou aos 21 anos com uma mala e um livro de facturas nas mãos e hoje tem uma empresa que factura quatro milhões de euros.

Esta história começa com um “era uma vez um menino que nasceu em Vila Nova de Gaia e cresceu por entre pares de sapatos no negócio dos pais”. Eugénio Campos tinha 21 anos quando decidiu percorrer o país como vendedor ambulante, numa mão levava uma mala a abarrotar de pratas que comprava fiado em Gondomar, e na outra um livro de facturas, conta. Recentemente inaugurou as novas instalações da sua empresa na cidade que o viu nascer. Dali sai ourivesaria e joalharia para todo o mundo.

É no novo edifício de paredes de pedra e tecto alto com traves de madeira que o empresário recebe o Life&Style. Enquanto se passeia pela galeria, onde salta à vista a frase “since 1987”, Eugénio Campos conta que sempre seguiu à risca os conselhos dos pais sobre “a importância de ser responsável, estudar e trabalhar para ser alguém na vida”. Aos 15 anos trabalhava de dia com os pais e à noite estudava Gestão Industrial; e aos 40 anos licenciou-se em Gestão.

Aos 21 anos quis trocar o calçado pela ourivesaria e lançou-se em nome individual. “Mandei fazer facturas e cartões comerciais, e aventurei-me pelo país, ao volante de um carro muito velhinho, para vender anéis, brincos e pratas de adorno pessoal aos ourives”, recorda.

Os primeiros tempos não foram fáceis: “A maioria dos ourives não abria as portas ou ria-se quando me via entrar, porque eu era muito novo num sector tradicional com vendedores com mais de 50 anos.” Só dois ou três anos depois é que “perceberam que não estava ali para brincar”. Costuma recordar aos filhos, de 21 e de 24 anos, esses tempos difíceis longe da família e dos amigos. Ainda assim, admite, “valeu a pena todo o esforço”. Já no final do terceiro ano na estrada, contratou um vendedor, e dois anos depois seguiu-se um segundo para o ajudar.

Hoje tem cerca de 40 funcionários e uma empresa com notoriedade, com colecções próprias e algumas delas em parceria com figuras públicas, como as apresentadoras Sónia Araújo e Diana Pereira, a actriz Mariana Monteiro e o jogador Cristiano Ronaldo — só esta última tem cerca de 50 peças para homem entre anéis e pulseiras. Ao lado das peças dos seus “embaixadores da marca”, Eugénio Campos mostra um coração de filigrana. Exemplares deste coração andaram nas bocas do mundo quando o empresário Mário Ferreira, da Douro Azul, os ofereceu à modelo Sara Sampaio e à cantora Joss Stone.

Actualmente, a marca chega a Espanha, Itália, Luxemburgo, Suíça, Rússia, EUA, Cabo Verde, Congo, Angola e Moçambique. Isto ainda que a exportação represente apenas 15% do total de facturação da empresa que, em 2016, atingiu os quatro milhões de euros. Este ano, Eugénio Campos espera aumentar em 10% a sua facturação e também ampliar a quota de mercado nos segmentos premium da joalharia, embora o produto mais vendido continue a ser feito de prata. Além das colecções de joalharia, a empresa explora novos segmentos do mercado como a relojoaria e os acessórios de moda.

Regressando à galeria, ali estão pratas de adorno pessoal que remetem para as peças que vendeu nos primeiros anos, como pulseiras com berloques para mulheres ou com chapa para pôr o nome para homens, bonecas, anéis e fios. Já numa segunda década marcada pelas pratas decorativas, a empresa ganhou quota de mercado e notoriedade, e chega a fazer publicidade em revistas nos finais dos anos 1990. Chegaram os anos de crise em 2000 e a empresa baixa a venda das pratas decorativas, acabando mesmo por deixar de as comercializar. “Em dois anos, perdemos cerca de 50% da facturação.”

Na oficina vê-se como o trabalho de joalharia é minucioso: desde o esboço ao molde da peça em cera. Segue-se o trabalho manual para apurar a peça — com uma lixa grossa tiram-se as rebarbas —, que, de seguida, é polida. “Depois entra numa máquina para limpar e num banho que pode ser em ouro branco ou amarelo”, descreve. Por ali trabalha-se já na colecção que será lançada na feira da Porto Jóia, em Setembro. A escassos metros, há ainda um miniestúdio de fotografia para as sessões com os modelos das peças de joalharia.

O conjunto mais caro, constituído por anel, brincos e colar, ronda os 50 mil euros e é de ouro branco, diamantes e rubis. Trata-se de uma série limitada a dez conjuntos. “Mas a peça mais cara que fiz até hoje foi um colar com diamantes de 72 mil euros, personalizado”, revela.

“Como joalheiro, quero diferenciar-me sempre dos outros e trabalhar todos os dias para ser melhor.” É por isso que já está a pensar abrir pontos de venda próprios, no Porto e em Lisboa. Para já, as suas peças podem ser compradas online ou em ourivesarias multimarcas.