- Stand by me (1986) Screenshot
- Lost Boys (1987) Screenshot
- Flatliners (1990) Screenshot
- Com o pai, Donald Sutlherland, na estreia de Oubreak, em 1995 Reuters/Fred Prouser
- Eye for an eye (1996) © STR New / Reuters
- O actor deixou a sua marca no Passeio da Fama a 9 de Dezembro de 2008 © Reuters/Mario Anzuoni
- Kiefer Sutherland (à direita) com o pai, o actor Donald Sutherland, depois de ter sido homenageado com uma estrela no Passeio da Fama de Hollywood © Reuters/Mario Anzuoni
- Kiefer Sutherland com elementos da Royal Canadian Mounted Police Officers (RCMP) durante a ceromónia que oficializou o seu nome no Passeio da Fama do Canadá, de onde o actor é oriundo Reuters/Mike Cassese
- Kiefer Sutherland com a mãe, Shirley Douglas, no dia em que ela recebeu a Ordem do Canadá, a mais elevada condecoração civil para uma pessoa daquela nacionalidade Reuters/Jim Young
- Com a filha Sarah, em 2001 © Reuters/Fred Prouser
- Jack Bauer, a personagem de Sutherland na série 24
- Com a sua co-protagonista em 24, Kim Raver, na festa de lançamento em DVD da quinta temporada da série Reuters/Mario Anzuoni
- Os protagonista da nova série Touch © 2012 Fox and its related entities. All rights reserved
- Uma cena de Touch © 2012 Fox and its related entities. All rights reserved
Depois de 24
Kiefer Sutherland agora é um homem de família
Entre 2001 e 2010, Kiefer Sutherland queria fugir da televisão. E, por isso mesmo, quando ligava o televisor em casa, fugia através dele. “Durante as filmagens de 24 só via documentários e canais de viagens, porque estava tão desesperado por sair de LA” – e do ecrã, já que entrava em quase todas as cenas. O agente do CTU foi “o papel de uma vida” e ele reconhece-o em Madrid, num encontro com jornalistas. Perguntam-lhe muitas vezes que talento escondido tem para escolher séries e filmes vencedores, êxitos como 24 ou Melancolia (Lars von Trier, 2011). Para Kiefer Sutherland, ler uma história e decidir participar nela é como estar numa banda.
“Gosto da banda e talvez vá ser o baixista, o guitarrista, o baterista ou só o manager em digressão”, exemplifica, rápido e a disparar 100 palavras por minuto. “O meu interesse é sempre contar a história, não necessariamente qual o papel a partir do qual gostaria de a contar.” Foi o que o fez filmar com Lars Von Trier no ano passado. Mas também foi o que o fez dizer “não” a vários projectos. Como Batman (Tim Burton, 1989), cujo primeiro rascunho de argumento incluía Robin, papel que Sutherland recusou por não gostar da ideia de andar de collants durante semanas. “Não percebi que iam fazer o filme mais fixe de sempre”, riu-se na digressão promocional da sua nova série, Touch (estreia terça-feira na Fox), citado pelo site On th Box. Tinha 19 anos. Pouco depois, não quis participar em A Caminho de Idaho (Gus Van Sant, 1991), um filme que marcaria a entrada nos anos 1990 de uma geração de actores, porque quis ir esquiar. River Phoenix, seu amigo, acabaria por ficar com o papel.
Em Madrid, numa série de mesas redondas com jornalistas de vários países e numa de muitas paragens da ronda promocional de Touch (vinha de Londres e seguia para Moscovo), tinha as respostas prontas, algumas ensaiadas, outras mais espontâneas. Quando lhe perguntaram pelo avô, um dos fundadores do Serviço Nacional de Saúde canadiano, rapidamente resumiu a sua história e lhe prestou homenagem. Mais à frente, e porque em Touch, a série com que volta à TV depois de, terminado 24, ter prometido a si mesmo que não queria fazer mais televisão serializada (daquela que obriga a ver todos os episódios sob pena de se perder o fio à meada), é um pai viúvo que luta para comunicar com o filho, deliciou-se a falar da sua própria filha.
Para um actor que é conhecido por momentos tensos com a imprensa e alguns problemas com álcool e violência, parecia termos ali um novo Sutherland. Mas, por outro lado, Touch e a sua nova personagem puxam ao sentimento. A série de Tim Kring (Heróis) foca-se na relação do pai Martin Bohm com o filho Jake e na sua capacidade de, através dos números e da tecnologia, identificar ligações entre as pessoas mundo fora. Depois há elementos místicos, muitos ingredientes de séries e filmes passados (Perdidos, Heróis, Babel) e tensão emocional fácil. Jake não fala, apesar de ser o narrador da série da americana Fox, e não permite que lhe toquem. “Sou pai de uma criança com necessidades especiais que foi erradamente diagnosticado com autismo profundo. E o Estado decidiu que, por eu ter perdido tantos empregos para tratar dele [antes de a mulher ter morrido nos atentados de 11 de Setembro, era jornalista], e porque não consigo evitar que ele fuja às escolas que frequenta, que eu posso não ser capaz, como pai, de tratar dele. E ameaçam tirar-mo, o que tem um grande significado e é muito importante ao longo da primeira temporada.”
Depois de oito anos a fazer 24, sempre a correr para evitar uma tragédia terrorista, Kiefer Sutherland estava farto de televisão – apesar de, a meio da série, ter sido o actor mais bem pago da TV. Escreveu e protagonizou The Confession, uma webseries com John Hurt que agora passa para a televisão (em Portugal, no AXN) e continua à espera do filme 24, adiado esta semana pela 20th Century Fox devido a questões orçamentais. Kring, que não escreveu a série a pensar em Sutherland, convenceu-o a voltar à TV. “Quando li o guião, ele disse-me imediatamente: isto vai ser um procedural, cada episódio tem princípio, meio e fim e a única coisa serializada é a relação com o teu filho e a sua evolução. A pergunta que lhe fiz a seguir foi: o meu filho alguma vez vai falar? E ele disse-me que não.”
Apesar de Bauer ser, provavelmente, o papel pelo qual será lembrado – sim, também há Conta Comigo (Rob Reiner, 1986), o seu primeiro filme nos EUA, Os Rapazes da Noite (1987), Jovens Pistoleiros (1988) ou Linha Mortal (1990), que lhe deu um noivado com Julia Roberts, mas quase uma década com uma só personagem tão sintomática dos anos Al-Qaeda é inseparável do nome Kiefer Sutherland. Tanto que Bauer foi personagem, com a voz de Sutherland, n’Os Simpsons. E agora, depois de se ter estreado na Broadway com a peça That Championship Season, quis fazer um procedural e uma personagem que considera a antítese de 24. “Há algo maravilhoso em fazer um procedural, porque ter um princípio, meio e especificamente um fim, dá-nos algo que almejar como actores.”
Homem de família
O facto de a relação com o filho ser o fio condutor emocional de Touch (que vai ter estreia quase simultânea em mais de cem países, num passo para tentar combater a pirataria na web) faz os jornalistas europeus reunidos em Madrid arriscar perguntas pessoais ao actor. E ele mergulha com gosto. A filha, Sarah Jude (tem três enteados, dos seus dois casamentos, e dois netos), “foi uma das coisas que me fez relacionar-me com esta série. Porque me partiu o coração - as minhas coisas favoritas em ser pai e as de que me lembro mais eram coisas simples, como levar a minha filha à escola. E um dos elementos-chave dar-lhe a mão; adorava aconchegá-la na cama depois de lhe ler uma história, com ela toda brilhante e depois de ter tomado o seu banho; tudo momentos que Martin Bohm não vai ter” pelo facto de Jake não se deixar tocar e não comunicar de forma convencional. “Uma das coisas que mais respeito nele [na personagem Martin Bohm] é o facto de ele saber, todos os dias, que não vai tê-los, nunca - momentos que consideramos típicos.”
Kiefer Sutherland, primeiro nome de tributo ao realizador que deu o primeiro emprego ao seu pai, apelido do gigante Donald. A mãe era Shirley Douglas, também actriz, e Kiefer e a irmã gémea ficaram com dupla nacionalidade – britânica e canadiana – porque nasceram em Londres e os pais são do Canadá. Viveu em Toronto com a mãe depois do divórcio dos pais e passou lá a maior parte da juventude. Foi também no Canadá que fez os seus primeiros papéis e viu os filmes do pai, com quem mal tinha contacto, em vídeo.
Hoje, a relação entre os dois actores é muito próxima. Kiefer fala apaixonadamente da sua nova série, enfatizando sobretudo as coisas que todas as culturas do mundo têm em comum – valorização da família, dos mais velhos, das crianças – e defendendo que o olhar positivo e optimista de Touch faz falta nos tempos que correm.
“A história é baseada numa fábula chinesa, a história do fio vermelho que a todos liga pelo tornozelo; de alguma forma, a nossa sociedade quebrou esse fio. O meu filho consegue ver esse fio e está a usar-me para voltar a ligá-lo - episódio atrás de episódio, vou cruzar-me com alguém que precisa desse reajustamento, dessa mudança, para encontrar outras pessoas, para criar outras circunstâncias, para voltar a pôr o mundo onde é suposto estar. O que será constante é a forma como o filho manipula a minha personagem para fazer estas coisas, resultante de um esforço desesperado do pai para comunicar e se ligar ao filho”, resume Sutherland.
Agora, de tão embebido no tecido ligeiramente sobrenatural, ligeiramente Efeito Borboleta da narrativa de Tim Kring, Kiefer Sutherland diz congelar em vários momentos do dia a pensar que consequências podem ter os seus actos mais banais. “Dou por mim à espera de um elevador a pensar que devo ou não apanhá-lo”, exemplifica. “Mas para mim foi muito revelador e poderoso perceber [através dos guiões] que as coisas que eu faço importam. Tornou-me um pouco mais consciente do que faço - e hoje, uma coisa que nos faz estar cientes disso só pode ser boa.”
O PÚBLICO viajou a convite da FOX