Pedro Cunha

Conservas de peixe

Uma embalagem barata com um conteúdo precioso

Parece hoje consensual, quer entre a comunidade estritamente científica quer na população em geral, a opinião de que o consumo de peixe pode trazer inúmeros benefícios para a nossa saúde. Existem, de facto, várias provas de que consumir peixe, em detrimento de outros alimentos como as carnes, nos pode trazer benefícios ao nível cardiovascular, de algumas doenças como a asma e mesmo no desenvolvimento do cérebro em crianças, para dar apenas alguns exemplos. Recomenda-se, a este propósito, a leitura do excelente artigo de Pedro Carvalho sobre a sardinha no Life&Style.

Infelizmente, a grande maioria do peixe que consumimos hoje em dia é, para a maioria das nossas bolsas, excessivamente dispendioso. Acresce que, para algumas espécies, existe ainda uma forte componente da sazonalidade (a sardinha, por exemplo) e que a captura do peixe selvagem está sujeita a normas internacionais progressivamente mais restritivas, o que apenas tenderá a tornar este tipo de alimento cada vez mais caro. Muitos advogam que, num futuro não muito distante, o peixe capturado na Natureza irá ser considerado como um produto de luxo.

Significará isto que deixaremos de poder contar com tão interessante alimento? Pensamos que não. Para além do peixe proveniente de aquacultura, existe ainda a alternativa das conservas. As conservas de peixe fazem parte da nossa alimentação há muitos anos e possuem, regra geral, características muito interessantes que vale a pena destacar.

Em primeiro lugar, o processo de conservação não retira nenhuma propriedade nutricional relevante ao peixe, conforme podemos constatar pela análise rigorosa das composições respectivas. Vitaminas, minerais, proteínas e mesmo os preciosos ácidos gordos ómega-3, a fonte de tantos dos benefícios do peixe, estão lá todos intactos nas conservas. Dado que a maioria dos peixes que utilizamos em conserva, como o atum ou a sardinha, são ricos em gordura, esta manutenção das propriedades nutricionais significa que estamos na presença de um produto muitíssimo interessante sob o ponto de vista nutricional.

O processo de conservação acarreta ainda um benefício adicional, que não é de desprezar. A cozedura faz com que parte do cálcio presente na espinha da sardinha passe para o músculo. Se acrescentarmos que, também devido à cozedura, se torna perfeitamente possível ingerir essa espinha, então passamos a ter também um bom fornecedor de cálcio, um nutriente reconhecidamente importante para a manutenção de ossos fortes e saudáveis.

Muitas das conservas disponíveis fornecem, além do próprio peixe, óleo alimentar ou azeite, factor que lhes aumenta, de forma significativa, o valor energético. Existem, todavia, alternativas para aqueles que pretendem controlar o seu peso, nomeadamente as conservas “ao natural” ou “em molho de tomate”, por exemplo, onde se pode beneficiar de todas as propriedades benéficas do peixe sem esse extra de calorias. Uma leitura atenta dos rótulos será sempre a melhor forma de optarmos pelo produto que mais nos convém.

Não podemos ainda esquecer que muitas das conservas disponíveis no nosso mercado são de marca Portuguesa, produzidas em Portugal. E, claro, que estes produtos são bastante acessíveis para a maioria das pessoas, servindo as necessidades de crianças, adultos e também de indivíduos mais idosos.

Se algum defeito lhes podemos apontar é a por vezes excessiva quantidade de sal que é acrescentada. O sal em excesso é um dos grandes problemas da nossa alimentação e por isso é bom que cada consumidor opte sempre pelas conservas menos salgadas. Com alguma imaginação, podemos conceber vários pratos com estas conservas e assim beneficiar da acessível riqueza que nos proporcionam.

*Nutricionista e professor
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação Universidade do Porto nunoborges@fcna.up.pt

Leia na Fugas o artigo sobre a loja e bar de conservas Sol e Pesca