Carlos Lopes

Escola

Um local onde se deve aprender a comer

São milhares os jovens que neste mês de Setembro iniciam um novo ano escolar. Regressam a uma rotina feita de pequenas ansiedades, novos colegas, novos professores e também novas matérias para estudar. Muito regressam também para o espaço escolar onde irão permanecer muitas horas por dia. Este será um espaço de estudo mas, ao mesmo tempo, um local de convívio e alimentação.

É na escola, por vezes mais do que em casa, que se aprende a gostar de certos alimentos, a provar pela primeira vez alguns pratos e a conviver em torno das pequenas refeições. A escola é por isso um local onde se aprende mais do que matemática ou português. É onde se aprende a comer quase sem se dar conta disso. Tremenda responsabilidade esta. Porque, e como diria o mestre Emílio Peres (1982) “A alimentação é a base de todo o desenvolvimento, contribuindo para sermos pequenos ou grandes, imbecis ou inteligentes, frágeis ou fortes, apáticos ou intervenientes, insociáveis ou capazes de saudável convivência… no fundo somos aquilo que comemos.”

Hoje sabemos que quando falta o pequeno-almoço piora a atenção na escola. Sabemos também que jovens com défices nutricionais possuem menores capacidades e aptidões para a aprendizagem e a realização de trabalho, bem como menor imunidade e resistência a infecções.

Tendo em atenção estes aspectos, a escola torna-se num espaço central para a aprendizagem da boa alimentação. E como pode ela cumprir estes objectivos? Hoje sabemos que se aprende a comer…comendo. Ou seja, mais do que identificar onde estão os minerais ou as proteínas, os jovens que frequentam uma cantina ou bar escolar devem encontrar alimentos saudáveis, apetecíveis, bem apresentados e também a um preço razoável. Para que tal aconteça a escola e a comunidade educativa deve ter como objectivos:

- Ajudar as crianças a aprender competências e não apenas factos. Por exemplo, ensinando a cozinhar o básico de forma saudável.

- Dar aos alunos repetidas oportunidades de comer de forma saudável na escola. Por exemplo, disponibilizando sumos de laranja naturais a baixo custo.

- Transformar as aulas de educação alimentar em algo emocionalmente apelativo e participativo. Por exemplo, envolvendo os produtores locais e seus produtos através de provas de alimentos ao longo das estações do ano.

- Envolver toda a comunidade educativa e construir mensagens de alimentação saudável, consistentes, como parte integrante do resto das actividades escolares.

- Envolver os encarregados de educação, divulgando antecipadamente as estratégias e iniciativas para promover a alimentação saudável na escola. 

A escola do seu educando ensina a comer saudável…comendo? Ou apenas ensina de forma teórica a boa alimentação, continuando a oferecer comida de má qualidade, rica em açúcar e gordura, de baixo valor nutricional e afastada dos hábitos e tradições da região? Se assim é, a responsabilidade também é sua. Não deixe que tal aconteça e intervenha.

Pedro Graça, Nutricionista
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto/Direcção-Geral de Saúde