Pedro Cunha

Quanto precisamos de beber para nos mantermos hidratados?

A água é essencial à vida, o principal constituinte do organismo humano, sendo especialmente importante na regulação da temperatura corporal. Ocorrem perdas diárias de água através da pele, pulmões, fezes e urina, sendo fundamental que estas reservas sejam repostas para assegurar uma boa saúde.

É grande a variabilidade de critérios em que se baseiam as recomendações de ingestão de água existentes. A Organização Mundial de Saúde preconiza para adultos sedentários e sob condições ambientais temperadas uma ingestão diária de água de 2,9 litros diários para homens e 2,2 litros diários para mulheres.

Já o Institute of Medicine (IOM) dos Estados Unidos, responsável pelo estabelecimento das recomendações de ingestão nutricional, estabeleceu valores de AI (Adequate Intake) para a ingestão total de água, de 3,7 litros diários para homens e 2,7 litros diários para mulheres.

Na Europa, a European Food Safety Authority (EFSA) publicou em 2010 valores de referência para a ingestão de água, tendo como base valores de ingestão de água total reportados por vários países europeus, valores desejáveis de osmolaridade [quantidade de partículas dissolvidas num determinado solvente] urinária, e volumes desejáveis de água por unidade de energia consumida, preconizando 2,5 litros diários para homens e dois litros diários para mulheres.

Em Portugal, o Instituto de Hidratação e Saúde (www.ihs.pt) adoptou os valores de referência europeus, uma vez que os valores de ingestão de água reportados pelos portugueses se enquadram nos valores observados em várias populações europeias, apesar da variabilidade observada entre países.

Os resultados dos estudos de caracterização do aporte hídrico dos portugueses, promovidos pelo IHS em 2009 e 2010, que incluíram amostras representativas da população portuguesa, evidenciaram a existência de alguns segmentos da população com ingestão de líquidos inferior aos valores de referência (1,9 litros e 1,5 litros/dia para homens e mulheres, respectivamente) destacando-se, pela negativa, os inadequados conhecimentos sobre hidratação entre esses segmentos da população.

Deste modo, considera-se importante consciencializar a população para uma hidratação adequada, informando sobre a ingestão hídrica recomendada que pode incluir, para além da água natural, outras bebidas e alimentos (dos quais se destacam os produtos hortícolas e a fruta). Os valores de referência não devem ser interpretados como um requisito específico, dado que ingestões mais elevadas de água serão necessárias para pessoas fisicamente activas, expostas a ambientes quentes ou altitudes elevadas, e em situações fisiológicas específicas como gravidez, lactação ou doença acompanhada de diarreia e vómitos.

Destaca-se a importância de se ingerir pequenas quantidades de líquidos de cada vez e frequentemente ao longo do dia, pelo facto de existir evidência científica que sugere que a absorção de água é superior quando o volume de líquidos é repartido por vários episódios de ingestão. Adverte-se também para a necessidade de se atentar a sinais/sintomas associados a desidratação como a sede, a cor da urina e manifestações de défice cognitivo como sejam a diminuição da capacidade de concentração, atenção e memória, que poderão ser interpretados como sinais de alerta para a falta de água no organismo.

*Nutricionista e professora
Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto
patriciapadrao@fcna.up.pt