Letras Pequenas... A Árvore dos Desejos

No dia do seu aniversário, Dulcie teve um despertar diferente: "Fazes anos – disse uma voz perto dela, e os seus olhos abriram-se logo. De pé, ao lado da cama, um estranho rapaz, de rosto feio e fino, e cabelos tão ruivos que faziam o quarto resplandecer. Vestia um fato de veludo preto com meias e sapatos vermelhos, e do ombro pendia-lhe, vazia, uma enorme sacola."

A partir daí, começa uma aventura em que as personagens partem à procura da árvore dos desejos. Uma delas, a Alice, vai muito contrariada.

Com Dulcie, Alice e o rapaz ruivo (Maurice), hão-de também seguir viagem o pequeno Dicky, George e o velho Egbert, que se lhes juntará depois. Mais adiante, o grupo ficará completo com a chegada de Êxodo, ex-marido de Alice, um soldado que lá foi conseguindo escapar da fúria da ex-mulher e se tornou determinante no regresso de todos a casa. Foi o seu chapéu que os protegeu quando se tornaram minúsculos e foi nele que os transportou quando todos desejaram que voltasse ao tamanho normal. Para os salvar.

O editor deste livro, Vladimiro Nunes, define-o como um cruzamento entre 'Alice no País das Maravilhas' e 'O Som e a Fúria', isto "porque a história é feita na mesma altura e serve para testar algumas questões narrativas desta obra". Palavras ditas à agência Lusa em Maio, quando se iniciou o lançamento da colecção infanto-juvenil assinada por escritores que não são desta área da literatura.

"A Árvore dos Desejos" foi escrito pelo norte-americano William Faulkner (Prémio Nobel em 1949) para ser oferecido a uma menina no seu oitavo aniversário, em 1927. Esta menina, chamada Victoria Franklin, era filha de uma namorada de adolescência do escritor por quem continuava apaixonado. Viriam a casar-se em 1929.

Um outro exemplar seria oferecido a uma filha de amigos, uma menina muito doente. "Em 1948, repetiu o gesto com outras duas crianças. No entanto, até à sua morte, em 1962, a história nunca foi publicada", escreve-se numa nota inicial. Também aí se conta que, em 1964, a Random House divulgou finalmente o texto que ficara na posse de Victoria, num livro-objecto ilustrado por Don Bolognese com tiragem limitada de 500 exemplares. Seguiu-se, em 1967, uma edição convencional, também ela há muito esgotada, que serviu de base a esta edição portuguesa."

Exceptuando o uso infeliz da expressão "à séria", é uma edição cuidada, que valoriza as ilustrações serenas e ricas em pormenores de Don Bolognese, artista plástico e professor formado na Cooper Union Art School.

A Árvore dos Desejos
Texto | William Faulkner 
Tradução | Vladimiro Nunes e Fátima Fonseca
Revisão | Nuno Quintas 
Ilustração | Don Bolognese 
Edição | Ponto de Fuga 
72 págs., 13,30€ 

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