Saúde
Saúde sexual: pode haver sexualidade sem sexo?
Neste Dia Mundial da Saúde Sexual é lançado um vídeo que alerta que as relações são mais do que sexo.
Existe sexualidade sem sexo? Isto do sexo é só para os jovens e para os casais heterossexuais? O Gabinete de Atendimento à Família (GAF) de Viana do Castelo e a AO NORTE - Associação de Produção e Animação Audiovisual respondem, nesta segunda-feira, com um vídeo sobre a temática do amor, da ligação e da intimidade. O objectivo é sensibilizar a comunidade, no Dia Mundial da Saúde Sexual, que se celebra nesta segunda-feira, e quebrar alguns mitos associados ao tema.
Este vídeo, com versão portuguesa e inglesa, conta com o apoio da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica (SPSC) e vai ao encontro do que a Associação Mundial de Saúde Sexual defende: as relações são mais do que sexo; deve haver laços emocionais. O vídeo alerta para a importância de se viver de "forma positiva, afectiva e livre as relações amorosas e sexuais com protecção”, diz Carina Parente, impulsionadora deste projecto e psicóloga do GAF de Viana do Castelo. A profissional passa ainda a mensagem de que se pode ter relações amorosas e íntimas em diferentes idades e contextos.
Pode parecer estranho, mas a sexualidade sem sexo "é possível", garante Patrícia M. Pascoal, vice-presidente da SPSC. E até “pode ser vivida de forma satisfatória sem sexo”, acrescenta a psicóloga Carina Parente. Por exemplo, pode não existir sexo quando se decide abdicar dele numa relação. “Mas tudo é possível desde que partilhado e definido em conjunto”, aconselha. Por outro lado, também é possível não sentir atracção sexual por outras pessoas ou não ter desejo, a chamada assexualidade.
Mas a sedução e a intimidade têm um papel importante na satisfação sexual e no bem-estar pessoal, continua. Por isso, esta campanha nacional também visa questionar os mitos associados à sexualidade como: com o avançar da idade o interesse sexual diminui; as mulheres não têm iniciativa sexual; a protecção é para os/as mais jovens; ou uma relação amorosa acontece entre duas pessoas de géneros diferentes.
Carina Parente defende que se evite a discriminação: “Importa questionar a heteronormatividade e criar um olhar mais tolerante face a outras vivências da sexualidade, como a bissexualidade, homossexualidade e o poliamor”. Assim como contrariar a pressão social e cultural que impõe a heterossexualidade como norma. A psicóloga relembra o discurso de Pedro Nobre, presidente da Associação Mundial de Saúde Sexual por altura da tomada de posse: “O direito ao prazer sexual é «inalienável» e a manifestação das preferências deve ser respeitada."
Os promotores do vídeo pretendem ainda romper com a ideia formada de que a protecção só deve existir em contextos em que a actividade sexual está desligada do amor e da intimidade. É importante passar a mensagem de que usando protecção, as pessoas estão a ter cuidado com o companheiro/a, defende Patrícia M. Pascoal, da SPSC, sobretudo numa altura em que infecções sexualmente transmissíveis, como o VIH/SIDA, afectam um número significativo de pessoas a nível mundial.
“Acontece em qualquer idade, desde que as pessoas sejam sexualmente activas”, alerta Carina Parente. Da sua experiência desde 2008 no Centro de Atendimento Psicossocial VIH/SIDA, a psicóloga tem constatado que “um diagnóstico de infecção por VIH ou doença de SIDA é marcante em primeiro lugar para a pessoa afectada”. Mais, continua, “é inacreditável o desconhecimento que, existe acerca da infecção”. As pessoas acusam-se logo umas às outras, falando em infidelidade ou nos trabalhadores/as sexuais. Em grande parte das situações foram os companheiros/as, maridos/esposas ou namorados/as que transmitiram o vírus, por desconhecimento da sua própria infecção ou por terem optado por não revelar. Alegaram medo da reacção e do afastamento. A solução é enfrentar e lidar com a realidade, e procurar apoio especializado, conclui.