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Testemunho

O que a mãe da Taylor Swift e eu temos em comum? Nenhuma de nós quer uma filha demasiado educada

O que realmente quero para qualquer um dos meus filhos não é que sejam educados, mas que mostrem respeito àqueles que os respeitam.

A minha filha mais nova e única rapariga da casa, a Lucy, teve ontem o seu primeiro dia de aulas do seu 1.º ano.

Durante semanas, preparou-se para este dia com um entusiasmo tal que nenhum dos seus três irmãos alguma vez demonstrou. Exigiu ir comprar o seu próprio material escolar e pô-lo no carrinho das compras. Encheu a mochila de arco-íris com os seus novos lápis e dossiers. Quis escolher o vestido e as sandálias de festa que ia usar para conhecer a sua nova professora. Tal como tinha dito à directora da escola, nunca houve ninguém tão entusiasmado por ir para a escola como a Lucy.

Ontem de manhã, enquanto caminhávamos até à sala de aula, a Lucy estava literalmente aos pulos de alegria. “Mãe, quero andar nesta escola para sempre. Adoro tudo aqui”, disse-me com uma risada. “Ah, e amanhã não precisas de vir comigo. Já sei o que fazer.”

Parte de mim estava, obviamente, cheia de orgulho e contente por a minha filha gostar tanto da escola. No entanto, outra parte de mim tinha medo que ela fosse muito melhor nisto que os irmãos dela com esta idade. Ela respeita tanto as regras, talvez demasiado. Por vezes, tenho medo que o seu desejo de querer ser considerada “boa” a impeça de arriscar ou de falar quando tem de falar.

A Lucy contou-me o sistema de ímanes da sua sala. “Se não obedecermos e respeitarmos as regras, o nosso íman na parede passa da zona verde para a amarela”, explicou-me. “Mas se ficarmos no verde a semana toda, podemos ver o baú do tesouro!” É o mesmo sistema de recompensa que os meus filhos tiveram nas salas deles ao longo dos últimos 11 anos. A diferença é que eu sei que a Lucy nunca irá deixar que o íman dela se aproxime da zona amarela. O dela vai estar sempre no verde.

Pelo que vejo, a Taylor Swift também gosta de manter o íman dela no verde. Há muito que sigo a carreira dela e fui ao concerto “1989” como uma autêntica fã de 41 anos (e sem uma adolescente ao meu lado para justificar a minha presença). Sei que é uma mulher forte, ambiciosa, talentosa e uma empresária fiel à sua imagem de marca (mais de 230 milhões de euros). Quando se envolve em disputas e debates públicos consegue sempre fugir das luzes da ribalta rapidamente.   

Contudo, Swift não deixou de testemunhar em Denver num julgamento relativo a um incidente de 2013, no qual a cantora afirma que o DJ de uma rádio de Denver, David Mueller, a terá apalpado durante uma sessão fotográfica num evento com os fãs após um concerto seu. Aliás, foi até bastante franca e clara acerca do que lhe teria acontecido. Quando os advogados do DJ perguntaram o porquê de ter continuado a sessão com os fãs se tinha sido assediada e estava realmente perturbada com a situação, a mãe da artista, Andrea, testemunhou que a situação “a tinha feito questionar, enquanto mãe, o porquê de a ter educado a ser tão cordial”.

Percebo a questão de Andrea Swift. Enquanto mãe, já me questionei várias vezes se os meus filhos são educados o suficiente. Relembro-os para que digam “por favor” e “obrigado”, dêem apertos de mão e que olhem nos olhos das pessoas, dou-lhes o conhecido “olhar de mãe” se não respondem aos adultos que lhes fazem alguma pergunta. Mas ao pensar nas palavras de Andrea e no que aconteceu à sua filha, acho que talvez me enganei no meu objectivo enquanto mãe. O que realmente quero para qualquer um dos meus filhos não é que sejam educados, mas que mostrem respeito àqueles que os respeitam e que não tenham medo de chamar a atenção daqueles que não o fazem.

Isto não é um problema para os meus três filhos. Expressam a sua raiva livremente e não tentam esconder quando se sentem cansados ou rabugentos. Mas preocupo-me que eu, e ainda mais a sociedade, tenha diferentes espectativas para a Lucy. Este Verão, dei por mim a perder a paciência com ela sempre que tinha crises sobre coisas que para mim não tinham importância, como a necessidade de ser sempre ela a carregar no botão do elevador, ou a vontade de usar os chinelos brilhantes mas muito pouco práticos em vez dos ténis ou a raiva dela quando um dos irmãos não concordava com a sua escolha de DVD para ver.

Não podemos sempre ceder aos caprichos da Lucy e por vezes tenho de pôr um ponto final à discussão. Foi neste Verão que lidámos com a tensão entre esses factos e a sua crescente sensação de autonomia.

Mas admito que nesses momentos, foi a raiva dela que me deixou desconfortável. A forma como me gritava em público quando se descontrolava ou como desatava a chorar. Ela não se estava a “comportar”. Tinha de “se controlar”. Eu tinha vergonha daquelas demonstrações públicas. Só queria que ela parasse e que fosse mais educada.

Claro que ela tem de aprender a expressar a raiva de uma forma mais apropriada e de me respeitar a mim e às minhas decisões. Visto que ela ainda só tem cinco anos tenho esperança que o faça. Mas depois de ver o desenrolar do julgamento de Taylor Swift tenho de me perguntar “como é que a ensino a expressar a sua raiva e a proteger-se quando o tem de fazer, sem ter de se preocupar com o que o mundo pensa dela por fazê-lo?”

Passei grande parte da minha vida a tentar que gostassem de mim e a respeitar as regras; a tentar não chatear nem perturbar ninguém. Sempre que me defendi ou pedi algo que queria fui vista como “mal-educada”, “difícil” ou pior. Demorei os meus 43 anos a chegar a um ponto em que já não me importa (tanto).

A Taylor Swift tinha apenas 23 anos quando a alegada apalpadela aconteceu. Na idade dela, também teria ficado até ao fim do evento, grata por ter pessoas ali para me ver, com medo de as desiludir. Chocada, chateada e apanhada demasiado de surpresa para ter uma reacção imediata. Eu também teria posto as necessidades de todos os demais antes das minhas só para ser educada.

Uma das melhores prendas que já dei à minha menina foi os seus três irmãos mais velhos. Eles não a vão proteger e afastar os seus pretendentes como as pessoas assumem assim que ouvem que ela é a única menina. A Lucy sabe-se defender muito bem sozinha. Contudo, ela teve a oportunidade de crescer a ver os irmãos sem perspectivas de agradar a todos. Pedem descaradamente o que querem. Os ímanes deles já passaram do verde para o amarelo.

O primeiro dia de escola da Lucy correu muitíssimo bem, à excepção da aula de Educação Física, na qual teve de correr. “Estava demasiado calor”, exclamou. Estava feliz por ela, mas parte de mim lamentava esta entrada no “mundo dos crescidos”, onde o coração dela pode ser partido, onde a podem magoar ou onde pode ser apalpada sem dar consentimento. Quero que ela continue a ser esta menina pequena, confiante e enérgica que acha que é dona do mundo para sempre.

Não a posso proteger de tudo, mas posso aumentar a auto-estima dela de forma a não depender da opinião de terceiros e dar-lhe voz (algo que os irmãos dela certamente testemunhariam que já conseguimos). Posso ensiná-la a quando ser cordial e quando ser tudo menos isso. Posso dizer-lhe que não faz mal o íman dela, por vezes, mudar de zona. E quando for mais velha, vou contar-lhe como a Taylor Swift usou a sua voz não só para cantar a música preferida da Lucy, Bad Blood, mas como também a usou para se defender a si e a todas as mulheres e quanto foi importante fazê-lo.

PÚBLICO/The Washington Post

Tate é uma editora e escritora freelance e mãe de quatro filhos. Escreve com regularidade sobre parentalidade para a TODAY Parents.