Amamentação
Marta quer que as mães amamentem onde (e quando) quiserem
Na Semana Mundial do Aleitamento Materno, Marta Nabais decidiu lançar uma campanha informal para a promoção da amamentação.
Quando Marta Nabais teve o primeiro filho, em 2012, decidiu partilhar num blogue os desafios e dúvidas que estava a vivenciar. Com o Gaspar nascia também o OvO. Três anos depois, quando engravidou da filha Carolina, tomou uma decisão mais radical: sair da empresa onde trabalhava há sete anos como designer e fazer do OvO um projecto maior sobre maternidade, com partilha de histórias, apoio à amamentação e uma loja com artigos de puericultura. “Sempre senti muita frustração em não dedicar mais tempo ao Gaspar, ainda hoje sinto que perdi fases da vida dele. Com a segunda gravidez não queria passar por isso”, conta ao Life&Style.
Marta queria ter mais tempo para os filhos mas também ser uma voz activa na promoção de um apoio que diz faltar nas experiências pós-parto da maioria das famílias, afectando sobretudo as mães. “Tive uma experiência de amamentação muito forte, com muitas dificuldades. Era uma coisa que queria muito. Se não tivesse conseguido amamentar tinha entrado em depressão”, confessa. Procurou ajuda junto da consultora de lactação Cristina Pincho e ainda hoje recorda uma frase que a ouviu dizer várias vezes: “a amamentação é natural, mas muitas vezes não acontece naturalmente”. Marta recorda a sua própria experiência familiar: “Não me lembro de ver bebés a ser amamentados em pequena. E eu fui amamentada durante dois ou três meses. Depois a minha mãe teve uma mastite e desistiu”, explica.
Em 2013 fez formação em aleitamento materno e de seguida o curso de Doula da Bionascimento. Com o projecto do Ovo criou também o grupo AMAmenta! que se reúne uma vez por mês, em Almada, para partilhar experiências que vão quase sempre para lá do tema da amamentação. “Já houve mães do grupo que deixaram de amamentar. Mas tudo bem, eu senti que fiz a minha parte a tentar ajudar”, explica Marta.
A recomendação da Organização Mundial de Saúde é que os bebés sejam amamentados em exclusivo com leite materno até aos seis meses de idade. Um estudo europeu divulgado no passado mês de Julho, desenvolvido no âmbito de um projecto europeu que juntou dados dos projectos Geração XXI (Portugal), ALSPAC (Reino Unido), EDEN (França) e EuroPrevall (Grécia), revelou que cerca 60% das crianças portuguesas são amamentadas durante seis meses ou mais, período superior ao registado em França, Grécia e Reino Unido. Quando Marta amamenta a filha Carolina, de 18 meses, ainda ouve comentários como 'isso já é demais', mas confessa que vão sendo cada vez menos frequentes. Ainda assim, expressa a necessidade de combater o que diz ser o rótulo de “alternativo” ou “freak” que sente que é lançado às mulheres que decidem amamentar em público e para lá dos seis meses. Lançou, por isso, na Semana Mundial de Aleitamento Materno, que se assinala de 1 a 7 de Agosto, uma campanha informal nas redes sociais de promoção da amamentação. Marta e a filha são as protagonistas em fotografias que ilustram vários cenários: Marta a amamentar na casa de banho, em frente a um restaurante de fast-food ou em andamento com a ajuda de uma mochila de transporte para bebés. “A ideia era, com algum humor, tentar desmistificar estas coisas de ‘ah, a cigana mostra a mama, dá em casa, dá na rua’”. As frases que acompanham as imagens são em inglês para tentar chegar a uma audiência global, mas sem fundamentalismos: “É preciso um equilíbrio. Tive uma amiga que sofreu bastante porque foi criticada por dar biberão e não amamentar, por exemplo”.
Este domingo, às 17h30, Marta Nabais estará pelo Fundão para participar no Encontro Nacional de Amamentação, que se realiza desde 2013. Uma iniciativa que decorre em várias cidades do país, estendendo-se à ilha Terceira, nos Açores. No sábado, Marta publicará a última fotografia da sua campanha, onde ela e Carolina estarão acompanhadas por outras mães. O próximo passo é fazer crescer o OvO, com o sonho de um espaço de trabalho partilhado para mães: “um ninho para o ovo”, explica Marta, "em que as mães possam desenvolver os seus projectos e até criar o próprio emprego", com uma babysitter disponível e actividades paralelas em torno do tema da maternidade.