Corinne Bourgela, directora internacional de marketing, e Gilles Daure, diretor internacional da marca, vieram a Portugal, no 60.º aniversário da René Furterer
Corinne Bourgela, directora internacional de marketing, e Gilles Daure, diretor internacional da marca, vieram a Portugal, no 60.º aniversário da René Furterer Mário Lopes Pereira

Cosmética

René Furterer: há 60 anos a cuidar dos cabelos

Tinha um fascínio pela botânica. Foi partir dos ingredientes que encontrava na natureza que começou a marca de cuidados de cabelo, em 1957.

Reza a lenda que, enquanto discutiam a venda da marca, René Furterer fez a massagem de couro cabeludo e o ritual de três passos a Pierre Fabre. Assim terá ficado selado o futuro da marca, que no final da década de 1990 deu o grande salto comercial e ganhou lugar nos mais prestigiosos salões de beleza à volta do mundo. Este ano, celebra-se o 60.º aniversário da sua fundação.

René morreu há 20 anos e o homem no qual confiou a sua marca – já que as duas filhas tinham outros interesses – há quatro anos. Para contar a história da marca estiveram em Lisboa Gilles Daure, director internacional, e Corinne Bourgela, directora de marketing.

Natural da zona de Provença, em França, Furterer partilhou com a avó, desde cedo, uma paixão pela botânica – fascinava-o o potencial que poderia ter no cuidado do couro cabeludo. Eventualmente, mudou-se para Paris, onde começou a trabalhar como cabeleireiro. Estávamos nos anos 1950, altura em que Marylin Monroe cantava “diamonds are a girl’s best friends”, em Os Homens Preferem as Loiras, e as mulheres procuravam ter cabelo como a estrela de Hollywood.

Como cabeleireiro, René ficava aborrecido ao ver o resultado que técnicas e produtos agressivos tinham no cabelo e couro cabeludo das suas clientes. Por isso, decidiu criar produtos que contrariassem os efeitos nocivos da coloração – começou com um champô verde, outro amarelo e um creme revitalizador.

Gilles Daure caracteriza o fundador da marca como “um homem criativo, com convicções fortes”. Nos primeiros tempos, contou com a ajuda de um professor de botânica da Universidade de Montpellier. Também frequentava um clube parisiense dedicado ao desenvolvimento na área da cosmética – que teve uma grande influência em França, acrescenta  Daure.

Assim, Furterer começou a vender produtos directamente às clientes e, eventualmente, as encomendas começaram a chegar de salões em vários pontos do globo, inclusivé dos Estados Unidos. No final da década de 1970 já tinha uma marca prestigiada, mas ainda relativamente pequena. Empresas como a L'Oréal, Wella e Schwarzkopf tentaram comprá-la, garante Daure, mas René – sem descendência para dar continuação ao seu trabalho – preferiu procurar alguém que partilhasse os seus ideais de cuidado da pele com ingredientes naturais. Essas qualidades encontrou-as em Pierre Fabre, o dono da empresa francesa de farmacêutica.

Fabre, por sua vez, – além de lhe ter sabido bem a massagem – viu na marca um potencial de crescimento a nível mundial. Quando o negócio se deu por concluído, Furterer decidiu oferecer-lhe um presente bastante peculiar: “um grande cão”, revela Daure entre risos. “Acho que ele ficou um bocadinho assustado.”

De França para o mundo

Sob o guarda-chuva e a capacidade de investimento da Pierre Fabre, a marca teve o seu maior período de crescimento no final dos anos 1990. Os canais de distribuição mantiveram-se, como sempre, limitados a salões de beleza, farmácias e alguns pontos selectivos, tais como o El Corte Inglés. Em comércio de massas, "nunca", é peremptório Gilles Daure.

Até porque, como sublinha Corinne Bourgela, a René Furterer não é “uma marca fácil”. A longa gama de produtos especializados implica que o consumidor precise de ajuda para perceber quais os que melhor se adequam ao seu caso, garante. “Não tem produtos dois em um, nem cinco em um”, acrescenta Daure.

Uma das bandeiras da marca continua a ser o ritual de três passos. Começa com uma inspecção do cabelo através do capiloscópio – um aparelho com uma câmara que serve para diagnosticar problemas como couro cabeludo irritado ou oleoso, perda de cabelo e caspa. O primeiro passo do ritual é a preparação do cabelo com o Complexe 5, um concentrado vegetal regenerador com óleos essenciais. O cabelo é massajado de forma a aumentar a microcirculação sanguínea e a preparar o couro cabeludo. Segue-se, então, a lavagem – fase a partir da qual já entra em consideração o diagnóstico inicial – e, finalmente, o tratamento.

O ritual completo – com direito a diagnóstico e massagem – está disponível apenas em alguns espaços. Além do spa capilar situado no Instituto René Furterer, na Madeleine, em Paris, pode encontrá-lo também, por exemplo, nos salões Marina Cruz.

A Pierre Fabre – e consequentemente a René Furterer – pertence hoje à Fundação Pierre Fabre – dedicada a melhorar o acesso a saúde e medicina em países do Sul. Fabre criou o instituto, mas sem descendência, decidiu passar 95% das acções para o controlo da fundação. 

Gilles Daure partilha ainda um adjectivo sobre o fundador da empresa farmacêutica: “era muito rigoroso”. Durante anos, o seu maior cuidado era “manter a marca como era quando a comprou”.