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Dia Internacional da Viúva

Estou viúva e agora? Dez conselhos

A especialista Margarida Vieitez responde a dez perguntas que um viúvo pode ter. 23 de Junho é o Dia Internacional das Viúvas.

Quando um dos elementos do casal morre, além da perda e da dor, muitas são as questões que o sobrevivente coloca. A 23 de Junho assinala-se o Dia Internacional das Viúvas, uma data reconhecida desde 2010 pela Organização das Nações Unidas (ONU). O Life&Style falou com Margarida Vieitez, especialista em mediação familiar, para colocar algumas questões sobre esta fase da vida.

De acordo com dados da ONU, metade das 259 milhões de pessoas viúvas no mundo vivem na pobreza. São sobretudo mulheres, que vivem em regiões do globo onde são perseguidas, ignoradas e maltratadas e foi por causa delas que foi criado este dia internacional. Mas também em países desenvolvidos, as pessoas que enviuvam lidam com questões fundamentais, alerta a The Loomba Foundation, que lançou inicialmente o Dia Internacional das Viúvas, antes de ser adoptado pelas Nações Unidas. “Enfrentam isolação social e frequentemente vivem em insegurança e pobreza”, explica a organização, no seu site.

Margarida Vieitez, formada em Mediação Familiar – uma das seis pós-graduações que detém – e autora de vários livros sobre o relacionamento humano, lançou recentemente Verdades, Mentiras e Porquês. Nele, coloca e dá resposta a 500 perguntas sobre a vida, a família e o amor. O Life&Style falou com a especialista e acrescentou algumas questões, na voz de quem perdeu o parceiro e está a reorganizar a sua vida.

Quanto tempo é que devo esperar para poder encontrar um novo parceiro? Há um mínimo?
Não me parece que exista um tempo definido. As pessoas são todas diferentes e vivem o período de luto também de forma diferente, consoante os seus recursos psicológicos e emocionais. Quando chegar o momento saberá. Sentir-se a apaixonar por alguém é o primeiro sinal.

Estou a trair o meu parceiro/a por voltar a namorar?
É natural que surja esse sentimento de culpa. Não, não está a trair o seu companheiro, nem a fazer nada de errado. Está a viver uma nova vida e a expressar a necessidade de amar e de se sentir amado. A descoberta e a vivência do amor é o que dá verdadeiro sentido à nossa existência.

Porque me sinto culpado/a?

Porque durante a relação existia o compromisso de serem fiéis um ao outro e ele está bem marcado na sua memória; porque pensa que está a fazer algo errado; porque acha que essa atitude pode de alguma forma ser desrespeitosa para com a lembrança do seu companheiro; porque as outras pessoas podem criticar e fazer comentários para os quais ainda não tem resposta; porque receia aquilo que as crianças possam pensar e assume uma culpa antecipatória de tudo o que possa vir a acontecer.

Como é que conto à família que voltei a encontrar um/a parceiro/a ou que tenho interesse em procurar?
Conte quando sentir que a pessoa com quem namora é a companheira que quer ao seu lado. Primeiro, conheça e conheça e conheça... Depois namore! Isto aplica-se especialmente a quem tiver filhos.

Porque sinto dificuldade em relacionar-me com a família do meu falecido marido, principalmente depois de ter um novo companheiro?
É natural que aconteça, pois pode sentir que de alguma forma a está a desrespeitar ou desconsiderar por estar a viver um novo amor. Não está! Está simplesmente a viver a sua vida assim como a família do seu falecido marido está a fazer, da forma que considera ser a melhor e que a faz mais feliz. E, se nos primeiros tempos sentir algum desconforto, saiba que ele vai passar. Afinal, todos temos consciência de que merecemos estar bem e de que os outros merecem ser felizes.

Vou passar o resto da vida a comparar a minha relação àquela que tinha?
As comparações são inevitáveis. Todos as fazemos quando temos uma nova relação. Com o passar do tempo vão tornando-se mais esporádicas, especialmente se a nova relação for satisfatória. Pode existir uma tendência de idealização da pessoa que partiu, pelo menos nos primeiros meses, mas se a experiência presente for realmente gratificante, irá esbater-se com o passar do tempo.

Porque sinto que nunca vou viver algo igual?
Porque passado algum tempo após a ruptura, a nossa memória tende a lembrar mais vezes os bons momentos e a colocar de lado os menos bons. No caso da perda, os bons momentos são os mais lembrados e pode existir tendência a idealizá-los. Mas todos os momentos, mesmo os mais gratificantes, são únicos e por isso irrepetíveis. Uma boa razão para evitarmos comparações, focarmo-nos no presente e direccionarmos a nossa criatividade para a elaboração de mais momentos únicos e maravilhosos.

Porque resisto em partilhar a minha vida de novo?
É natural acontecer e pode ser ocasionado pelas experiências por que se passou. Medos, receios de voltar a sofrer e de se magoar. No caso da perda do companheiro, pode existir o receio de voltar a experienciar a perda.
É muito comum pensar que não vai conseguir amar mais ninguém, não só nessa situação, mas também em caso de ruptura da relação ou mesmo separação e divórcio. Precisamos de fazer o luto – que é uma espécie de hibernação –, elaborar a experiência que tivemos, viver e sentir todas as fases do próprio luto – o choque, a negação, a raiva, a aceitação e a reorganização, assim como emoções subjacentes, especialmente a tristeza e a angústia. Só depois estamos preparados para viver um novo amor.

E se eu quiser passar o resto da minha vida sem ninguém, há algum problema?
É a própria pessoa que decide a sua vida, o que é melhor para si e o que a faz feliz. Se passa por viver sozinho que o seja! O mais importante é o que pensa!

Estou a namorar com uma pessoa viúva. Devo ter algum cuidado especial?
Será importante perceber qual o seu estado psicológico e emocional e quais as suas expectativas relativamente a si. Se nos primeiros encontros chegar à conclusão de que essa pessoa precisa muito mais de um amigo do que um namorado/a, opte pela primeira possibilidade. É natural as pessoas que vivem esta dolorosa experiência sentirem transitoriamente uma espécie de incapacidade de amar e dar – que pode ser muito difícil de gerir e aceitar por quem está ao seu lado. O processo de luto tem um tempo que não deve ser ignorado, nem apressado. Qualquer esforço no sentido de que passe depressa poderá significar grande desgaste para si sem quaisquer resultados. Se ama essa pessoa, respeite o que ela está a sentir, o seu tempo e as suas necessidades emocionais. Essa é a maior expressão de amor por alguém.