Alimentação
O chocolate faz bem ao coração
O chocolate está relacionado com um menor risco de arritmia cardíaca.
Comer uma pequena quantidade de chocolate todas as semanas pode reduzir o risco de um tipo comum e grave de arritmia cardíaca, de acordo com um novo estudo realizado na Dinamarca.
Os investigadores descobriram que as pessoas que comiam chocolate entre uma e três vezes por mês tinham menos 10% de probabilidade de ser diagnosticadas com fibrilhação auricular do que as que comiam este doce menos de uma vez por mês.
“Como parte de uma dieta saudável, um consumo moderado de chocolate é uma escolha saudável para um lanche”, disse a autora responsável do estudo, Elizabeth Mostofsky, da Harvard T. H. Chan School of Public Health e do Beth Israel Deaconess Medical Center em Boston.
Contudo, o estudo não pode afirmar com certezas de que foi o chocolate que preveniu a fibrilhação auricular.
Mostofsky e os colegas escrevem na revista Heart que comer cacau e alimentos que contém cacau pode contribuir para a saúde do coração porque estes têm um volume elevado de flavonóides – componentes que se acredita terem propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e que relaxam os vasos sanguíneos.
Estudos anteriores descobriram que comer chocolate – principalmente chocolate preto, que contém mais flavonóides – está relacionado com melhores índices de saúde cardíaca e com um risco reduzido de certas doenças, como ataques cardíacos e insuficiência cardíaca, acrescentam os investigadores.
Não existe muita investigação sobre a relação entre o chocolate e um menor risco de fibrilhação auricular, que acontece quando as cavidades superiores (aurículas) do coração batem de maneira irregular.
Pelo menos 2,7 milhões de pessoas nos Estados Unidos sofrem de fibrilhação auricular, que aumenta o risco de coágulos sanguíneos e, consequentemente, de AVCs, de insuficiência cardíaca e outras complicações, de acordo com a American Heart Association.
Para a nova análise, os investigadores usaram dados recolhidos para um estudo a longo prazo de 55.502 pessoas na Dinamarca. Estes homens e mulheres tinham entre 50 e 64 anos de idade no início do estudo e forneceram informações sobre a sua dieta enquanto participaram no estudo, entre 1993 e 1997.
Posteriormente, os investigadores relacionaram estes dados sobre a dieta com os registos nacionais de saúde da Dinamarca, para saber quem tinha sido diagnosticado com fibrilhação auricular.
No geral, ocorreram cerca de 3346 casos de fibrilhação auricular ao longo de uma média de 13,5 anos.
Com base nas suas dietas no início do período de estudo, as pessoas que só comiam uma porção de cerca de 28,35g de chocolate por semana tinham menos 17% de probabilidade de ser diagnosticados com fibrilhação auricular no final do estudo do que as pessoas que indicaram comer chocolate menos de uma vez por mês.
Do mesmo modo, quem comia entre 56,7g e 170g de chocolate por semana tinha menos de 20% de probabilidade de ser diagnosticado com fibrilhação auricular, enquanto os que comiam mais de 28,35g de chocolate por dia tinham menos 16% de probabilidade de sofrer desta doença.
Entre as mulheres, a maior redução de risco estava ligada a comer uma porção de chocolate por semana. Para os homens, a maior redução veio de comer duas a seis porções de chocolate por semana.
“Penso que a nossa mensagem é que o consumo moderado de chocolate, como parte de uma dieta saudável, é uma opção”, contou Mostofsky à Reuters.
Os investigadores alertam que não podem ter em conta outros factores que não foram medidos, como a doença hepática e a apneia do sono, que podem influenciar o risco de fibrilhação auricular. Também não têm dados sobre o tipo de chocolate ou a quantidade de flavonóides que os participantes consumiram. As suas dietas também podem ter mudado ao longo dos quase 14 anos de recolha de dados.
Os dados também sugerem que os participantes que comiam mais chocolate consumiam mais calorias mas tinham um menor índice de massa corporal – uma medida do peso em relação à altura – do que as pessoas que comiam menos chocolate, apontou Alice Lichtenstein, directora e cientista sénior do Laboratório de Nutrição Cardiovascular na Universidade Tufts, em Boston.
“É muito provável – se tivesse de apostar – que estas pessoas eram mais fisicamente activas”, disse Lichtenstein, que não esteve envolvida no estudo. A cientista disse que, provavelmente, as pessoas não podem contornar o facto de que, para optimizarem a sua saúde, precisam de ter uma dieta saudável, de ser fisicamente activos e de não fumar. “Não existem soluções rápidas”, disse ela à Reuters.
Sean Pokorney e Jonathan Piccini escrevem num editorial que acompanha o artigo que as conclusões do estudo são interessantes e merecem ser mais desenvolvidas, apesar das suas limitações. “É necessário um ensaio duplo-cego aleatório e controlado para avaliar a eficácia real do chocolate na prevenção da (fibrilhação auricular) e este ensaio precisaria de incorporar porções quantificadas de cacau”, escrevem Pokorney e Piccini, do Duke University Medical Center em Durham, na Carolina do Norte (EUA).