• O Presidente da República esteve no Santa Maria há um mês a convite da associação e contou histórias a todas as crianças internadas
    O Presidente da República esteve no Santa Maria há um mês a convite da associação e contou histórias a todas as crianças internadas Site da Presidência da República
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Solidariedade

A Nuvem Vitória quer viajar de Lisboa para o Porto para mostrar que ler dá saúde

Associação de voluntários lê todas as noites às crianças internadas no Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Presidente da República já passou por lá e contou várias histórias.

Os estudos dizem que ler aos filhos, desde a mais tenra idade, contribui para que as crianças aprendam a ler e a compreender aquilo que lêem. Mas a leitura também dá saúde, dizem outras investigações e diz o projecto-piloto levado a cabo pela associação Nuvem Vitória que, antes de ir para as enfermarias pediátricas do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, teve de provar à administração desta unidade que a leitura tinha um "impacto positivo na saúde dos miúdos e na vida dos pais", conta Fernanda Freitas, presidente da organização não-governamental.

Agora, um ano depois, a associação quer chegar ao Porto, onde vai apresentar o seu projecto no próximo dia 18. Só depois de um protocolo assinado é que será possível começar a dar formação a voluntários porque isto de ir ler ou contar histórias a crianças internadas não é fácil, assegura a também jornalista que em 2011 foi presidente do Ano Europeu do Voluntariado.

Há "14 ou 15 anos" que Fernanda Freitas faz voluntariado hospitalar. E havia anos que se foi apercebendo que as horas a que ia ler eram aquelas em que as crianças ainda estavam acompanhadas, durante o dia. Ora, ler aos filhos é uma rotina que se tem antes de as crianças se deitarem. Por isso, Fernanda Freitas perguntou "por que não ler-lhes à noite, antes de dormir?" Nunca ninguém tinha pensado nisso e houve resistências. Por isso, foi necessário fazer um projecto-piloto.

Marcelo contou histórias às crianças

Há um mês, o Presidente da República foi até ao Santa Maria a convite da associação e não contou uma mas várias histórias a todas as crianças que estavam internadas. A Nuvem Vitória assegura que diariamente estejam voluntários à noite no hospital para ler ou contar histórias. Há dias que chegam a ser 30 as crianças que as ouvem. E não pode ser voluntário qualquer pessoa porque além da disponibilidade – que corresponde a duas a oito noites por mês –, é preciso saber como falar com uma criança a quem pode nem sequer apetecer ouvir falar porque está cheia de dores.

Há meninos que na primeira noite dizem que não querem ouvir, na segunda mostram resistência, mas na terceira já estão disponíveis. Também há outros que num segundo internamento ficam contentes porque os voluntários vão cruzar-se com eles. Tudo isto tranquiliza os pais, conta Fernanda Freitas ao PÚBLICO. 

Das 19h30 às 22h30, os voluntários percorrem as enfermarias para contarem histórias que se adequam a cada um dos doentes. "Havia uma miúda que só queria histórias com bróculos", ri-se Fernanda Freitas ao lembrar-se. E emociona-se também ao contar que já leu "a um menino que estava em coma" e que esse gesto serenou a mãe dessa criança. Com outra menina que só dormia com máscara de oxigénio, diz, "com as histórias de princesas e golfinhos, o oxímetro começou a subir à nossa frente" e deixou de precisar da máscara. 

O projecto tem mostrado que a leitura tem o poder de deixar as crianças mais calmas e "mais receptivas ao tratamento" e também permite ajudar os progenitores. "Às vezes a situação hospitalar é mais dolorosa para os pais do que para as crianças", acrescenta a jornalista.

Incutir hábitos de leitura

A Nuvem Vitória ajuda ainda a incutir hábitos de leitura a pais e filhos que, depois da alta hospitalar, continuam a ler em casa. O projecto permite "ajudar na promoção da leitura e da literacia", defende. No Santa Maria, as histórias são contadas às crianças e aos jovens até aos 18 anos. "Não precisamos de saber nada sobre eles – porque lá estão, situação social ou familiar –, só precisamos de saber se se podem mexer, se podem levantar a cabeça."

Ao todo são 60 voluntários e no Porto será preciso criar um núcleo onde estejam disponíveis, pelo menos, três pessoas diariamente. E para ser voluntário não basta querer, é preciso saber ser. "Um voluntário serve o outro, não está ali para preencher o seu ego. Claro que saímos de lá mais ricos, mas se o outro não quiser a minha ajuda eu tenho de o aceitar", salienta Fernanda Freitas.

Agora a associação está a angariar dinheiro para a formação e para cumprir regras como pagar alimentação e seguro aos voluntários. Uma das coisas de que Fernanda Freitas se apercebeu, quando esteve à frente do Ano Europeu do Voluntariado, é que muitas associações não cumprem algumas regras e, por isso, não gostaria que aquela a que preside fizesse o mesmo. Além disso, há o projecto do Porto, avança. Por isso, convida os interessados a irem ao site onde está destacado o número da conta bancária da associação. "Todas as ajudas são bem-vindas", conclui.