Causas sociais
Patricia Arquette está disponível para trabalhar sobre a igualdade de género
A Casa Branca pode ligar à actriz, que lembra em entrevista que já era activista antes de abraçar a profissão.
Patricia Arquette tem jeito para receber prémios – e para fazer discursos polémicos ao mesmo tempo. Dias depois de nos encontrarmos com ela para falar sobre o fim da disparidade salarial nos primeiros Equality Awards (Prémios para a Igualdade) da Salesforce em Washington, D.C., a actriz de 48 anos esteve em Los Angeles, nos GLAAD Media Awards, e denunciou o Procurador-Geral Jeff Sessions ao subir ao pódio.
Também é impossível esquecer o discurso dos Óscares em 2015, em que a estrela de Boyhood saudou todas as mulheres que tinham dado à luz um contribuinte. “Está na hora de termos igualdade salarial de uma vez por todas e direitos iguais para as mulheres nos Estados Unidos da América.”
É óbvio que ela não tem problemas em falar de política. Segundo Arquette, foi assim que foi educada.
Esteve no Tribunal Superior de D.C. em Janeiro a testemunhar a favor da sua amiga Natalie White, que foi presa por pintar com tinta de spray “ERA now” (ERA é a sigla de Equal Rights Amendment, a Emenda para Direitos Iguais) no passeio do edifício do Capitólio. Há formas de protesto certas e erradas?
Bem, em primeiro lugar, era tinta lavável, não era tinta de spray. Quando falámos sobre isso em tribunal, eles estavam a tentar alegar que tinha sido um dano permanente e eu disse que 240 anos sem estar protegida pela Constituição é que é um dano permanente.
Touché. Acha que os direitos das mulheres deram três passos atrás e dois em frente?
Na semana passada, o Iowa aprovou uma lei segundo a qual mulheres adultas tinham de ter a autorização dos pais para fazer um aborto. Isto é voltar ao modo como as mulheres eram vistas no tempo em que a Constituição foi escrita, quando as mulheres eram propriedade dos maridos ou dos pais. Acho que neste momento estamos em perigo.
Em Janeiro, quando os procuradores lhe perguntaram qual era a sua profissão, descreveu-se como activista em primeiro lugar e actriz em segundo.
Já era activista muito antes de ser actriz. Fomos criados como activistas. Os nossos pais levaram-nos a Diablo Canyon quando se ia construir uma bomba nuclear perto da Falha de Santo André. Toda a vida participámos em causas de justiça social.
E a representação?
Representar faz-me feliz e alegre. Mas ser activista é mudar as coisas que consideramos injustas no mundo. Representar é uma celebração da condição humana. Para mim, são aspectos muito diferentes.
As duas coisas encontram-se?
Sim. Ao representar, podemos fazer de mau da fita mas é preciso gostarmos do mau da fita. Como activista, eu podia lutar ao máximo contra alguém e depois, como actriz, podia fazer o papel dessa pessoa. Tento lembrar-me de que todas as pessoas são inteiras, que toda a gente sofre e que todos temos os mesmos sentimentos do que os outros. Podíamos mudar tanto o mundo se destacássemos mais este aspecto uns nos outros.
É presença assídua na Colina do Capitólio. O que acontece depois de uma conferência de imprensa, quando entra nos bastidores e começa de facto a trabalhar?
Acho que as pessoas não reconhecem que os grupos exteriores fazem muito. Trazemos muita informação para que a equipa consiga fazer uma análise aprofundada. Às vezes, quando achamos que sabemos alguma coisa, isso não quer dizer que o nosso representante também saiba. Uma das coisas que defendi foi que se processassem todos os kits de violação que estão na prateleira há anos. Fiquei chocada quando percebi que havia tão poucos membros do Congresso que sabiam que isso existia nos estados deles. Sinceramente, foi muito perturbador para mim. Quando entramos, não podemos assumir que eles sabem mais sobre o estado deles do que nós sabemos.
Já está farta de falar sobre o seu discurso político nos Óscares em 2015?
(Pausa longa) Não sei. Não penso nisso assim. As coisas são como são, falamos sobre isso.
Certo, mas depois do discurso disse que achava que ele lhe tinha custado trabalhos em Hollywood. É verdade?
Acho que há sempre um preço a pagar por dizer a verdade. Mas vale a pena.
O que é que a assusta?
Assusta-me que as pessoas não façam o que está certo e que os nossos filhos paguem o preço. Olho para estas meninas que vão entrar no mercado de trabalho e fico mesmo triste. Se as coisas ficarem como estão, elas vão reformar-se com muito menos dinheiro. O mais provável é estarem na pobreza quando forem velhas. A ideia de que temos de estar dispostos a esperar 40 ou 100 anos? Isso é absolutamente inaceitável.
A primeira-dama Melania Trump e a primeira-filha Ivanka Trump tornaram as “questões das mulheres” parte das suas plataformas. Estaria disposta a trabalhar com a Casa Branca, se fosse convidada?
Sim. É claro que discordo de Trump em imensos temas. Mas acho que podemos trabalhar juntos nisto. Sugiro que Ivanka se reúna com a Lisa Maatz, do AAUW (Associação Americana das Mulheres Universitárias) para ver em que posição estamos, estado a estado, o que é que não está a funcionar, o que está a funcionar e o que é que poderia ser claramente útil.
Tem esperança?
Neste momento há muita gente activa e isso é entusiasmante. Há muita gente boa a trabalhar muito para melhorar as coisas.