Dietas
É possível perder uns quilos com uma dieta vegan, mas cuidado
Se quiser livrar-se de algum peso que ganhou durante o Inverno, há estudos que sugerem que tornar-se vegetariano – ou mesmo vegan – pode ajudar.
Se quiser livrar-se de algum peso que ganhou durante o inverno, há estudos que sugerem que tornar-se vegetariano – ou mesmo vegan – pode ajudar.
Em 2003, cientistas observaram o índice de massa corporal (IMC) de mais de 37 mil britânicos de todas as idades e descobriram que o IMC médio de um homem consumidor de carne era cerca de 24,4 – muito perto da obesidade – enquanto o vegan médio tinha um IMC de 22,4. Nas mulheres, observaram-se padrões semelhantes. Um estudo de 2009 sobre membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia em toda a América do Norte revelou uma diferença ainda mais notável a nível do IMC: mais de cinco pontos de diferença entre quem seguia uma dieta omnívora (28,8) e quem consumia apenas alimentos de origem vegetal (23,6).
Estes resultados podem ser facilmente explicados com base nas diferenças nos estilos de vida entre os vegans e os que gostam de carne. Alguns cientistas descobriram que as pessoas que seguem dietas à base de plantas têm tendência a estar mais atentos à saúde do que o resto da sociedade: os vegans bebem menos, fumam menos e têm tendência a fazer mais exercício.
No entanto, experiências em que as pessoas são colocadas aleatoriamente a seguir dietas diferentes sugerem que o vegetarianismo pode ajudar perder o peso em excesso, independentemente da filosofia de vida da pessoa ou da sua atitude em relação a caminhar na passadeira.
Ainda assim, a maioria destes estudos foram feitos usando amostras muito pequenas – alguns com a participação de apenas 16 pessoas. “Os ensaios clínicos aleatórios não foram muito conclusivos. Mas ao fazer uma meta-análise podemos olhar para o conjunto de resultados como um todo e compreender o que acontece de facto,” diz Wendy Bennett, professora de medicina na Escola de Saúde Pública Bloomberg da Universidade Johns Hopkins.
No ano passado, uma meta-análise que teve em conta 12 estudos que envolveram mais de mil adultos concluiu que as pessoas que seguiam uma dieta vegetariana perderam, em média, mais dois quilos do que as que seguiam outros planos alimentares. Quem comia exclusivamente alimentos à base de plantas e se abstinha de lacticínios e ovos (uma dieta vegan) emagreceu mais – uma média de 2,5 quilos.
Combater o excesso de peso com uma dieta à base de vegetais pode levar a uma saúde melhor. Estudos demonstraram que seguir dietas vegetarianas reduz o risco de sofrer de diabetes, doença coronária e até cancro.
Mas, claro, a questão essencial é esta: Por que é que as dietas à base de vegetais são mais eficazes para nos mantermos magros do que outros planos de perda de peso, incluindo alguns muito conhecidos, como a dieta Atkins, com baixo teor de hidratos de carbono?
“O mais importante, na minha opinião, é a densidade energética e a quantidade de fibra destas dietas”, afirma Jim Mann, professor de nutrição da Universidade de Otago, na Nova Zelândia. “Um vegetariano rigoroso tem de comer uma montanha de comida para obter as calorias suficientes.” Experiências centradas exclusivamente na fibra apontam para a propensão deste nutriente para prevenir os quilos indesejados.
“Há dois tipos diferentes de fibra – insolúvel e solúvel,” diz Brie Turner-McGrievy, nutricionista da Universidade da Carolina do Sul. “A fibra insolúvel é só volume, por isso enche-nos fisicamente, enquanto a fibra solúvel tem um baixo índice glicémico, pelo que não causa grandes picos de açúcar no sangue. Ela é digerida lentamente, por isso não temos aquela sensação de estarmos cheios e, de repente, meia hora depois, estarmos com fome outra vez. Deixa-nos saciados. ”
Por outro lado, em comparação com a alimentação típica de um americano (hambúrgueres, bife, frango), as dietas vegans não estão carregadas de proteína, que costuma ser promovida como uma enorme ajuda na perda de peso, por ajudar as pessoas a sentirem-se cheias durante mais tempo.
Mas, segundo Mann, a proteína tem “pouco significado, no longo prazo” para perder quilos a mais e não voltar a ganhá-los. Em experiências que foram feitas, verificou-se que as dietas com alto teor de proteínas ajudam a perder peso rapidamente e a controlar o apetite, mas estes efeitos costumam desaparecer ao fim de um ano.
“Nas dietas hiperproteicas”, diz Turner-McGrievy, “estamos a gastar as nossas reservas de glicogénio e a água que as acompanha, por isso vamos perder muito peso. Para algumas pessoas, isso é muito motivante – mas, na verdade, o que se está a perder não é gordura corporal, é água.” Isto não acontece com as dietas vegetarianas, que “contém sempre hidratos de carbono adequados e por isso não causam essa perda de glicogénio e de água.”
Alguns estudos de pequenas dimensões sugerem que proteínas derivadas de alimentos vegetais, como favas e ervilhas secas, podem fornecer uma sensação de saciação mais prolongada do que as proteínas de origem animal. Outro estudo sugeriu que quem segue uma dieta vegetariana pode queimar mais calorias durante o descanso a seguir ao exercício. No entanto, Mann lança o alerta contra uma obsessão com os mecanismos que poderão fazer com que as dietas vegetarianas e vegan nos ajudem a perder quilos indesejados.
“É muito importante não se tentar identificar um único factor,” afirma. “Porque então as pessoas dizem que só se cingem a esse factor. Vão só tomar um suplemento de fibras. É muito arriscado simplificar demasiado a nutrição”, alerta.
Por vezes, o mais importante numa dieta é não desistir dela e a ideia de não comer carne pode ser desencorajadora ou assustadora para quem nunca experimentou. “Costumamos dizer às pessoas para experimentarem a dieta vegetariana durante três semanas. Assim é menos assustador – não vamos seguir a dieta para sempre, só durante três semanas. Mas isso dá às pessoas a oportunidade de a experimentar e de ajustar as papilas gustativas,” afirma Turner.
Para quem se sentir intimidado com a ideia de uma dieta vegan, existem produtos novos e de aspecto familiar no mercado que podem facilitar a mudança. Já existe uma grande oferta de queijos vegan, maionese Hellmann’s vegan, gelado Ben & Jerry’s vegan e pizza vegan. Além de vários restaurantes terem disponível refeições vegetarianas e vegan.
Por outro lado, à medida que aumenta a oferta de produtos vegan, é importante referir que nem todos podem ser bons para a saúde – ou para a cintura. “Há uma linha ténue entre ter opções suficientes e criar alimentos que transformam produtos de origem animal que não são saudáveis em versões de origem vegetal que fazem igualmente mal,” conclui Turner-McGrievy.
PÚBLICO/The Washington Post