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Homossexualidade

O meu filho é homossexual, o que fazer?

Não há um manual, mas ter o espírito aberto ajuda a encontrar um equilíbrio, dizem os especialistas.

Ter um filho homossexual “é como ter um filho toxicodependente”, disse a presidente da Associação de Psicólogos Católicos. A declaração gerou polémica, a Ordem dos Psicólogos recebeu dezenas de queixas e abriu um inquérito ao caso. Desde 1973 que a homossexualidade não está na lista das perturbações mentais e é vista como uma característica pessoal.

À partida a opção sexual deverá ser olhada com naturalidade pelos progenitores, mas a homossexualidade continua a ser, para muitos, um tabu. Assim, o Life&Style foi perguntar aos especialistas o que fazer quando os pais descobrem ou são informados que o seu filho é homossexual.

Não há “um manual de procedimentos que resolva o assunto”, diz Hermínia Prata, mãe e tesoureira da Associação de Mães e Pais Pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género (Amplos). Esta associação foi fundada há sete anos e procura dar aconselhamento a pais e mães e familiares para aceitar e integrar os jovens.

O tema da sexualidade continua a ser uma “questão pessoal e muito sensível” e a abordagem a fazer depende da “educação e maneira de ser dos pais”, continua a responsável que aconselha que “não deve haver tabus entre pais e filhos”, mas uma “abertura de espírito” para que possam conversar.

Também Sara Trindade, psicóloga do Serviço de Aconselhamento Psicológico da Associação ILGA Portugal, defende que os pais devem “encarar e abordar directamente” a homossexualidade, olhando-a como qualquer outro assunto da “identidade dos filhos”.

E quando os pais não aceitam?
Hermínia Prata sabe que há pais que têm relutância em aceitar a homossexualidade dos filhos, em parte devido aos estigmas sociais e ao grau de sofrimento que daí advém.

“Os pais têm de pensar que os filhos não têm de concretizar a ideia tradicional de família”, diz Margarida Gaspar de Matos, coordenadora nacional do estudo Health Behaviour in school age children da Organização Mundial de Saúde. Devem, sim, estar preparados para ter uma “abertura para a diferença” capaz de pacificar os filhos quanto ao tema.

Para José Morgado, psicólogo e professor no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, em Lisboa, é essencial “que os pais estejam atentos às inquietações, se há algum comportamento mais fugidio ou reservado” e sempre que possível “estar disponível, sem intrusão, mas dar-lhe sempre a sentir que há toda a disponibilidade do mundo para ouvir o que o filho tem para dizer, dúvidas ou ansiedades que esteja a sentir”.

A homossexualidade é uma realidade cada vez mais comum e “bastante normativa durante a fase da adolescência” mas que não está isenta de ocorrências de bullying e das suas versões virtuais no seio escolar ou na vida quotidiana, alerta Margarida Gaspar de Matos.

Sara Trindade aconselha que é preciso “instruir” os jovens a “reagir e a falar”, preparar os seus espíritos para serem resilientes contra este tipo de situações.

Por isso, o papel dos pais é preponderante. A família, segundo José Morgado, deve ser o “céu protector” para a criança ou adolescente que esteja eventualmente desconfortável com as dúvidas e ansiedades de quem ainda está a aprender a lidar com o seu corpo e com a sua sexualidade e só os pais podem “acomodar e promover o bem-estar” dos seus filhos, conclui.

Texto editado por Bárbara Wong