O humorista aloja as suas crónicas na página de Facebook
O humorista aloja as suas crónicas na página de Facebook "Sensivelmente Idiota" DR

Livro

Leitores ofendidos interrompem apresentação do livro de Diogo Faro

"Somos todos idiotas" lançado entre polémica. Humorista recebeu ameaças de morte.

O lançamento do novo livro do humorista Diogo Faro esteve envolto em polémica desde que duas das crónicas que integram Somos Todos Idiotas foram publicadas num artigo da revista Visão.

A causa? Uma crónica onde o autor que tem mais de cem mil seguidores na sua página de Facebook, a que chamou Sensivelmente Idiota, relata um dia de praia de duas famílias: “as betas e as mitras”. No texto, Diogo Faro fala de crianças com trissomia 21, no registo que lhe é próprio e recorrendo à ironia e ao sarcasmo.

No entanto, o texto não foi bem recebido por muitos leitores e seguiram-se os insultos e as ameaças de morte. Houve mesmo quem ameaçasse aparecer na Fnac do Centro Comercial Colombo, em Lisboa, esta segunda-feira, onde decorreu a apresentação.

A ameaça cumpriu-se e ao início da apresentação do livro, levanta-se do público um dos leitores que se sentiram ofendidos com o conteúdo da crónica. Conta que com ele está um grupo de mães e sublinha que “as crianças sabem ler” e que se sentem visadas ao ler estas crónicas. O autor, que dizia na sua página estar pronto “a dar o corpo às balas” e defender o seu trabalho e as suas convicções, afirmou não querer cortar a palavra a ninguém e pediu que o deixassem apresentar primeiro o livro, para que pudessem ouvir o que ele tinha a dizer e depois lhes daria tempo e espaço para que fizessem “os comentários que quisessem”.  

Assim foi. A apresentação prosseguiu com a presença do locutor da rádio Cidade, Gonçalo Câmara, Pedro Durão, amigo e humorista, e a avó do autor. Depois de ler a crónica em questão e de sublinhar que aquela não é sobre crianças com trissomia 21 “mas sobre algumas situações” onde, acredita, que “existe um aproveitamento das famílias para exporem as crianças em troca de capas de revistas de imprensa cor-de-rosa”.

Como tinha escrito na sua página de Facebook – onde está bloqueado até ao final do mês, devido às denúncias feitas contra a página –, “muitas pessoas fizeram questão de interpretar isto como uma ofensa gratuita às pessoas com trissomia 21. É relativamente fácil (provavelmente, não o suficiente) perceber qual é o foco daquele parágrafo, mas mais fácil ainda é cair na tão actual e popular vitimização pueril”.

Para o humorista, “têm toda a legitimidade para o fazer, para interpretar como bem entenderem, sentirem-se ofendidos e, mais uma vez, como acharem que lhes dá mais impacto comercial. Não me parece é que o insulto e a ameaça seja coerente com o apregoamento de serem bondades ambulantes”, continua Diogo Faro na sua publicação.

"Não me parece que faça muito sentido que se incomodem com o que escrevi e que depois me enviem mensagens a dizer 'és um atrasado mental'", conta, durante a apresentação.

Tal como prometido, no final do evento, o autor prestou-se a ouvir as perguntas colocadas e admitiu que todos tinham o direito de se sentir ofendidos, mas não deixava que o acusassem de uma coisa que não fez, voltando a destacar que a sua crítica não pretende discriminar, mas assenta sim numa crónica social, “tal como todas no livro, sobre tantas outras coisas”, disse.

As vozes de defesa ouviram-se mais alto e, pela sala, os fãs de Diogo Faro iam dizendo que também eles tinham mães, pais, tios, filhos e filhas doentes, e que compreendiam que não era esse o foco do livro.

O PÚBLICO contactou a editora Esfera dos Livros, que não quis comentar a polémica durante o lançamento.