“Estamos a viver com um calendário e sistema de moda de outra era”, criticou Tom Ford, juntando-se à marca de moda britânica Burberry, que anunciou na sexta-feira que as suas colecções deixam de ser sazonais e vão estar à venda logo após os desfiles: a colecção Outono/Inverno de Ford será apresentada apenas em Setembro. O colectivo Vetements também comunicou que não continuará no actual calendário das semanas de moda.

O calendário de moda actual prevê duas apresentações anuais – entre Fevereiro e Março mostram-se as propostas para o Inverno e entre Setembro e Outubro desfila o Verão do ano seguinte. Na era digital, as peças são logo partilhadas nas redes sociais mas às lojas só chegam meses depois.

“Gastamos uma quantidade enorme de dinheiro e energia para encenar um evento que cria entusiasmo com demasiada antecedência em relação à altura em que ficará disponível para o consumidor. Mostrar a colecção ao mesmo tempo que esta chega às lojas vai remediar isto e permitir que a emoção criada pelo desfile ou evento impulsione as vendas e satisfaça o desejo crescente dos nossos clientes de ter as peças de roupa quando estão prontos para as vestir”, justifica Tom Ford num comunicado, onde cancela a apresentação marcada para 18 de Fevereiro, na Semana de Moda de Nova Iorque. Ao invés, o seu pronto-a-vestir feminino e masculino para o Outono/Inverno 2016 desfilará em Setembro.

Thakoon, Rebecca Minkoff ecoam a decisão de Tom Ford e da Burberry. Minkoff vai apresentar em Nova Iorque a sua colecção para esta Primavera – a mesma que apresentou há seis meses. Já o colectivo Vetements, a partir do início de 2017, irá apresentar as suas colecções para homem e mulher em conjunto e em Janeiro e Junho, antes do calendário oficial, prolongando o ciclo de vida das peças em loja.

Ao site especializado Business of Fashion, Demna Gvasalia, responsável do colectivo Vetements e actual director criativo da Balenciaga, criticou o sistema de moda actual e critica a inexistência de relação entre “visão criativa e visão comercial”. “Toda a indústria trabalha tão rápido porque precisamos de entregar algo novo nas lojas a cada duas semanas, para o cliente não se aborrecer. Eles não querem esperar seis meses, por isso temos de fazer uma pré-colecção e uma pré-pré-colecção, e a colecção principal, que ninguém está a comprar”, atesta.

Gvasalia acredita que o “ciclo vicioso” está a matar tanto a criatividade como o negócio. “Ao fim do dia, muitos de nós sobrevivemos a criar malas e perfumes. Com algumas excepções, o pronto-a-vestir, que a plataforma e a base da moda, está realmente na sombra hoje em dia”, diz.

Guram Gvasalia, irmão de Demna e director-executivo do colectivo Vetements, diz à Vogue norte-americana que há uma coisa que ninguém se pode esquecer: “Os designers são seres humanos que precisam de tempo livre para descansar e ganhar forças. Em vez disso, são postos sob uma enorme pressão e calendários insanos.”

A reformulação do calendário de moda actual “parece uma maneira da indústria da moda se actualizar, a fim de tirar o máximo partido das suas colecções”, acredita a revista Dazed Digital.