Personalidade
Viktoria Modesta, a primeira estrela biónica
Tem 27 anos, é modelo e cantora. Aos 20 anos amputou uma perna. Agora quer mostrar que as incapacidades físicas não são barreiras para o sucesso. E quer redefinir o que é "sexy".
Apresentada como a “primeira artista pop biónica”, a história da letã Viktoria Modesta, agora famosa, começou com uma malformação na perna esquerda identificada no momento do nascimento. Ao longo da infância e juventude, passou por 15 cirurgias até que se mudou para o Reino Unido e, aos 20 anos, escolheu amputar a perna para ganhar qualidade de vida e reduzir problemas de saúde.
“Eu tinha confiança mas tornou-se claro que o meu físico não conseguia coincidir com a minha ambição”, explicou Modesta à revista Elle britânica. “Havia muita incerteza a pairar sobre a minha saúde e eu estava determinada a corrigir isso para que pudesse fazer as coisas com que sempre sonhei”, acrescentou. “Foi um upgrade. Como ir de económica para primeira classe”, diz sobre o processo de remoção da perna.
Sete anos depois, a artista utiliza próteses com cristais Swarovski – caso da escolhida para a actuação no encerramento dos jogos Paralímpicos de Verão de 2012, em Londres, numa performance no gelo –, com luzes, ou em bico. Sem nunca esconder, antes pelo contrário. É um dos seus “maiores trunfos”, declara.
O primeiro videoclip da artista, Prototype, realizado por Saam Farahmand – lançado a 12 de Dezembro e já com quase três milhões de visualizações – resulta de uma parceria com o canal de televisão britânico Channel 4, que lançou a campanha “Born Risky”, para mudar a percepção do público em relação às pessoas com algum tipo de incapacidade e criar diálogos.
“Forget what you knew about disability” (“esquece o que sabes sobre a deficiência”) é a mensagem que aparece no início do vídeo. Durante seis minutos, Viktoria Modesta canta, dança, simula cenas de sexo e derrota inimigos, mostrando sempre de forma desinibida a perna amputada.
“Eu sou uma personagem genuína”, diz à Elle, “e parece que as pessoas estavam à espera disso, de serem capazes de se identificarem com alguém que não está a tentar vender-lhes algum tipo de sonho inalcançável”.
O Guardian questiona se estamos prontos para permitir que a incapacidade de alguém seja simplesmente considerada parte da sua identidade. “Estamos prontos para que eles sejam super estrelas? Estamos prontos para que eles sejam sexy?”. Modesta responde: “Se não estamos, devíamos estar. A ideia de que as pessoas com deficiências físicas não podem ser sedutoras é totalmente inaceitável. É por isso que no vídeo eu fiz questão de explorar a minha sexualidade até ao limite. Não se trata de querer agradar a um público masculino, é sobre representar uma sexualidade com que me sinto confortável”, frisa.
Viktoria Modesta quer ser um “catalisador da mudança que precisa de acontecer” na indústria, contribuir para a diversidade do mundo da música e da moda e quebrar barreiras como as que enfrentou quando tentou entrar no negócio do entretenimento. “Espero realmente que, depois do foco inicial sobre as incapacidades, as pessoas vejam que o que eu realmente estou a representar é uma força de liberdade para mostrarmos o nosso verdadeiro eu, para sermos nós próprios”, remata.