Os responsáveis pela Nutri Ventures (da esquerda para a direita): Rodrigo Carvalho, Rui Lima Miranda e Pedro Van Zeller, com algumas das personagens da série de animação
Os responsáveis pela Nutri Ventures (da esquerda para a direita): Rodrigo Carvalho, Rui Lima Miranda e Pedro Van Zeller, com algumas das personagens da série de animação

Nutri Ventures aposta nos EUA

Portugueses na casa de Michelle Obama

A Nutri Ventures foi a única empresa não americana convidada por Michelle Obama para lutar pela alimentação saudável das crianças. É portuguesa, embora o nome não o indique.

Empenhada em combater a obesidade infantil, Michelle Obama reuniu-se na semana passada com especialistas em marketing alimentar para crianças, sob o lema Let’s Move, a causa por que luta desde que Barack Obama foi eleito Presidente dos EUA. Entre as cerca de 20 empresas presentes, estava a portuguesa Nutri Ventures, que criou em 2010 uma série de animação infantil que promove hábitos alimentares saudáveis e já chega a 23 países.

Os fundadores do projecto, o gestor Rui Miranda e o engenheiro aeroespacial Rodrigo Carvalho, já tinham estado na Casa Branca com a equipa de trabalho de Michelle Obama, mas não com a própria anfitriã. “Tem uma maneira simpática de estar, muito próxima e descontraída, mas também muito profissional”, descreve Rui Miranda em conversa telefónica a partir de Nova Iorque. E prossegue: “É muito elegante e muito alta. Eu tenho dois metros e mesmo assim ela parece-me muito grande.” 

Também o discurso lhe agradou: “Com clareza, define o problema, reconhece que temos feito progressos e depois diz: ‘Mas isto não chega.’ E explica porquê.” Em resumo: “É uma mulher muito inspiradora. Cria um sentimento de desafio, mas ao mesmo tempo de reconhecimento. Fez-nos sentir que quem estava na reunião eram as pessoas certas para a sua causa e disse-nos que contava connosco para resolver o assunto.” Ou seja, inspira e responsabiliza.

Presentes na reunião (The White House Convening on Food Market to Children) estiveram marcas “globais” e que abarcam o retalho, os media e o entretenimento, como a Disney, a Kelloggs, a Mars ou a Walmart, a Burger King e a Coca-Cola, entre outras.

Michelle disse: “Vocês são as marcas e os profissionais que melhor trabalham as áreas de entretenimento e marketing, e nós precisamos que nos tragam iniciativas que atraiam mais as crianças para a alimentação saudável.”

Rui Miranda satisfaz-se com esta “atitude concertada [nos EUA] entre os vários sectores e a parte institucional para encontrar soluções que permitam promover a alimentação saudável das crianças”. Prefere esta forma de agir a uma outra que considera mais comum noutros países, “a de continuar a denegrir o que está mal, sem haver mobilização conjunta para resolver os problemas”. 

Arriscar tudo pelo mercado americano

A Nutri Ventures está a querer “estabelecer a marca” nos Estados Unidos e os resultados dos últimos três meses estão a dar um bom impulso para desenvolver o negócio. “Na área digital, atingimos mais de um milhão de utilizadores únicos no nosso canal de YouTube. E na plataforma americana YouView contabilizámos três milhões de views dos nossos primeiros três episódios.”

Esta vontade de consolidar o negócio nos EUA fez com que Rui Miranda e a família (mulher e quatro filhos) optassem por viver em Nova Iorque nos próximos tempos. “Não dá para arriscar só um bocadinho, tem de se arriscar tudo. Os EUA valem 35 a 40% do mercado a nível mundial de entretenimento. E não é só por ser apetecível, é ele que dita as tendências dos outros mercados. Nos próximos dois anos, ficarei por aqui. É o prazo para estabelecermos a marca.” 

Um dos contributos da Nutri Ventures para a equipa do Let’s Move foi o de ter provocado “a criação dos standards para produtos alimentares que podem utilizar o licenciamento de personagens de entretenimento para a sua promoção”. Rui Miranda explica com um exemplo: “Conseguir impedir, por exemplo, que personagens como o rato Mickey ou o Shrek apareçam associados a alimentos não saudáveis.” Segundo Rui Miranda, até à data, os EUA não tinham esta prática de validação de produtos que podem ser licenciados, nem qualquer outro país.

“No caso da Nutri Ventures, oferecemos os nossos conteúdos para o sistema de ensino público poder utilizar no seu papel de educação, com todo o reforço de marketing e comunicação que a nossa marca aporta. Procuramos sempre um parceiro institucional em cada mercado que seja capaz de avaliar o perfil nutricional dos produtos alimentares com quem podemos entrar em parcerias comerciais. Será a esse parceiro que vamos exigir a validação dos produtos alimentares para garantir que somos uma marca que promove apenas uma alimentação saudável. Para isso, temos de ter alguém que faça a parte científica e institucional. E que a valide. Nos EUA, essa validação dos produtos que podem ser licenciados pela Nutri Ventures vai ser feita pela equipa de Michelle Obama, no âmbito do programa Let’s Move.”

Michelle vestia Prada

Em Portugal, a Nutri Ventures atingiu os 120 mil utilizadores registados no site (crescimento de 50% desde Maio, quando tinha falado com o Life&Style); em Espanha, o share do Canal Disney, onde passa a série, aumentou 8%. E no Brasil, no SBT (Sistema Brasileiro de Televisão), a audiência cresceu 25%.

“Queremos semear outros mercados.O nosso objectivo é tornar a Nutri Ventures uma marca global”, diz Rui Miranda, mas assegura que não se estão a distrair do essencial, que são as narrativas e os episódios que vão conquistando as crianças de várias geografias. 

“Já temos mais mil minutos de animação produzidos, antevemos 104 episódios no mínimo para contar toda a história Nutri Ventures e já escrevemos até ao episódio 75, o que é imenso. Totalmente feitos com talento português. Já produzimos 40 episódios e estamos a entrar na pré-produção dos restantes. Queremos continuar a desenvolver a parte criativa, com mais personagens e mais histórias à volta das personagens.” E conclui: “Estamos muito felizes.”

Pormenor final da reunião na Casa Branca, que Rui Miranda confessa ter reconhecido apenas com a ajuda da mulher: “Michelle vestia Prada.”