O queijo da serra foi um dos vencedores da noite
O queijo da serra foi um dos vencedores da noite CARLA CARVALHO TOMAS / PUBLICO

Concurso 7 Maravilhas da Gastronomia

Da sardinha ao caldo verde, portugueses escolheram pratos típicos

Os portugueses votaram e escolheram sete pratos que consideram representativos da gastronomia nacional. Os resultados foram anunciados ontem.

Alheira de Mirandela, queijo Serra da Estrela, caldo verde, arroz de marisco, sardinha assada, leitão da Bairrada, pastel de Belém – são estas, de acordo com uma votação popular, as sete maravilhas da gastronomia portuguesa. Os resultados foram anunciados ontem à noite, numa cerimónia na Antiga Escola Prática de Cavalaria de Santarém, transmitida em directo pela RTP e, segundo a organização – a empresa Sete Maravilhas, que já organizou outros concursos do mesmo tipo, para escolher as maravilhas naturais ou os monumentos de Portugal – esta foi a mais participada de sempre, com quase um milhão de votos, por chamada telefónica, SMS ou Internet. O processo foi acompanhado por uma auditoria da PricewaterhouseCoopers & Associados.

Por todo o país – cada prato ou produto candidato era identificado com uma região – as pessoas mobilizaram-se para votar nos 21 pratos que chegaram a finalistas, de uma escolha inicial de 70 seleccionados por um júri. Havia sete categorias – entradas, sopa, marisco, peixe, caça, carne e doces – representando dez regiões. Na escolha final, só as entradas acabaram por ter dois representantes, com a alheira de Mirandela e o queijo da Serra. Houve, contudo, quem criticasse o facto de o queijo ter sido incluído nesta categoria, dado que o queijo da Serra da Estrela não deve ser comido como entrada.

Quando há um mês a organização anunciara o estado da votação até ao momento (dia 7 de Agosto), a lista de potenciais vencedores incluía as três sopas a concurso (para além do caldo verde, a sopa da pedra e a açorda à alentejana), e os restantes pratos que acabaram por vencer, à excepção do coelho à caçador, que não ficou entre os vencedores. Ou seja, houve poucas alterações durante o último mês de votação, e as que houve ditaram a saída do coelho, da sopa da pedra e da açorda. A caça foi a única categoria que não ficou representada na escolha final. Havia também uma limitação nesta votação para as sete maravilhas: no final, cada região não poderia ter mais do que dois pratos. Os vencedores representam Trás-os-Montes e Alto Douro (a alheira de Mirandela), Beira Litoral e Beira Interior (queijo da Serra da Estrela, produto com Denominação de Origem Protegida), Entre Douro e Minho (caldo verde), Estremadura e Ribatejo (arroz de marisco, que se candidatou pela Praia de Vieira de Leiria), Lisboa e Setúbal (sardinha assada), Beira Litoral (leitão da Bairrada), e Lisboa (pastel de Belém).

Houve também críticas ao facto de o pastel de Belém ter sido aceite como candidato por se tratar de uma marca comercial e não de um tipo de doce que possa ser feito em diferentes locais, como o pastel de nata. Dentro da categoria dos doces não ficaram entre os vencedores o pudim Abade de Priscos e os pastéis de Tentúgal. Outros pratos que não chegaram à lista final foram o xarém com conquilhas do Algarve, as ameijoas à Bulhão Pato, o pastel de bacalhau, o coelho à caçador de Porto Santo, a perdiz de escabeche, a chanfana, as tripas à moda do Porto, o bacalhau à Gomes de Sá, e o polvo assado dos Açores. As candidaturas a este concurso podiam partir de qualquer entidade (empresa, confraria, restaurante ou outra) ou pessoa individual, que apresentasse uma receita “genuína e integrante dos valores tradicionais portugueses” e com mais de cinquenta anos de história.

Os vencedores

Alheira de Mirandela: Faz-se alheira noutros sítios do país, mas a de Mirandela é IG (produto com Indicação Geográfica), e só existem sete produtores certificados. É feita com pão e carnes de galinha, porco, perú e caça, que são misturadas com piripiri, colorau e pasta de alho. No concurso aparece como entrada, mas é muitas vezes comida como prato principal, e é cada vez mais usada pelos chefes de restaurante para fazer diferentes tipos de pratos. Tradicionalmente é comida frita e acompanhada por grelos e batatas cozidas.

Queijo Serra da Estrela: É um produto DOP (Denominação de Origem Protegida) e isso significa que só pode ser feito com leite de ovelhas da raça Bordaldeira Serra da Estrela ou Churra Mondegueira. O leite é coalhado com o cardo Cynara cardunculos, moído num almofariz e colocado no leite ao mesmo tempo que o sal. O tempo de cura define a forma final do queijo – menos tempo (sempre no mínimo 45 dias) significa que vai ficar mais amanteigado. Mas também existe Serra da Estrela velho, com uma cura de 120 dias.

Caldo Verde: Come-se por todo o país, mas nasceu no Minho, onde era muito comum nas casas populares, cozinhado numa panela de ferro à lareira. O creme é feito com batata esmagada, que recebe depois a couve galega cortada em ripas fininhas (idealmente a couve deve ser cozida dentro do caldo). Leva uma rodela de chouriço e come-se acompanhado por um pedaço de broa. João Guterres, o promotor da candidatura, diz que decidiu lançá-la por achar que o caldo verde é um prato típico que estava a ser esquecido pelos restaurantes minhotos.

Arroz de Marisco: É uma candidatura da Praia de Vieira de Leiria. Embora se faça arroz de marisco em vários pontos da costa portuguesa, a praia de Vieira diz que o faz de forma diferente, usando um tacho de barro, no qual o arroz é servido ainda a fervilhar. Leva polpa de tomate e pipipiri, mas o mais importante é a qualidade do marisco usado: amêijoas, camarões, lagosta, sapateira (os restaurantes da Vieira usam essencialmente marisco importado).

Sardinha Assada: Também se come por toda a costa, mas a candidatura foi apresentada por Lisboa (onde é muito procurada durante a época dos santos populares) e Setúbal. É muito simples de fazer: salga-se e põe-se a assar. A ciência está apenas em fazer um bom lume. Em Setúbal gostam da sardinha mais pequena, em Lisboa comem-na maior, mas o mais importante é que seja gordinha. Este ano, por exemplo, a sardinha fez-se esperar e só começou a engordar já em Agosto.

Leitão da Bairrada: Na região da Bairrada existem perto de 200 e mais de 100 assadores, a servir três mil leitões por dia. O fenómeno começou no início do século e foi sempre crescendo. Os leitões usados têm mais ou menos seis semanas de vida e não devem pesar mais do que onze quilos (o que dá cerca de quatro quilos no final). São usadas as raças bísara e malhado de Alcobaça. Os animais são temperados com uma pasta feita com pimenta e assados em fornos de lenha durante cerca de duas horas. Comem-se normalmente com batata frita, mas há quem defenda que é melhor com cozida.

Pastel de Belém: É já uma das imagens de marca de Portugal, presente em muitas campanhas de promoção turística do país. Conta-se que a receita veio do Mosteiro dos Jerónimos, mas é mantida secreta desde meados do século XIX, e só seis pessoas a conhecem - são os “mestres do segredo”, que confeccionam o creme dos pastéis na Antiga Confeitaria de Belém, em Lisboa, junto ao mosteiro. Não se vendem noutro lado. Têm uma massa folhada estaladiça e devem ser polvilhados com açúcar em pó e canela.