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Não há nada como um Dry Martini feito à medida. Quanto mais polémico e individual, melhor

O Dry Martini é um cocktail mágico. Só leva gin, vermute branco e casca de limão. É uma combinação estranha mas funciona.

O Dry Martini bebe-se muito frio, o mais frio possível. Com essa temperatura é difícil provar o gin mas, lá está, os bons gins para Dry Martinis são aqueles que brilham quando estão quase gelados.

A temperatura também engrossa o Dry Martini. É como a grossura de certas vodkas quardadas no congelador: o mouthfeel, a sensação física na boca, faz parte essencial do prazer.

Há duas verdades sobre os Dry Martinis: não se podem fazer de avanço e precisam de um bocadinho de diluição.

Para obter uma temperatura extrema, deixe o gin e o copo no congelador.

Guarde a garrafa de vermute branco extra-seco na parte mais fria do frigorífico. Cá fora tenha apenas um limão recém-apanhado, de bom e fresco cheiro.

Encha o copo de vermute frio. Deite tudo fora e encha de gin. Corte uma tira de casca de limão (com um descascador de batata) e torça por cima da superfície do gin, até fazer um spray de bolhinhas de óleo de limão. Deixe-a cair no Dry Martini. Prove.

Isso é um Dry Martini sem água, sem mexer. É servido assim nalguns dos melhores bares de Londres. Em Portugal acho que os estabelecimentos estão proibidos de guardar garrafas de álcool já abertas no congelador. Mas em casa estamos à vontade.

A temperatura é importantíssima. Os bons gins bebem-se bem sem acrescentar nada, à temperatura ambiente. Aquecer ou arrefecer esconde qualidades — e defeitos. É por isso que há todo um movimento para cocktails feitos sem gelo, servidos como estão.

O gin toma-se classicamente com um bocadinho de boa água, lisa ou gaseificada. O gin não costuma ser envelhecido ou amaciado por estágio em carvalho. Daí que com 40 graus o álcool queime a boca.

A propósito: desconfie das marcas de gin que têm menos de 40 graus. Foram diluídas com água para poupar dinheiro e, ao mesmo tempo, para amansar o gosto do álcool.

Se acrescentar um bocadinho de água fria ao seu Dry Martini sem água faça-o antes de deitar o limão. Agora prove. Fica melhor? Fica pior?

Até aqui não foram necessários copos para misturar, colheres de mistura ou shakers. O que temos é o Dry Martini mais forte e frio que é possível.

Como os Dry Martinis aquecem muito depressa, é fundamental que sejam servidos em copos muito pequenos (e frios). ?Os Dry Martinis são deliciosos mas não se pode beber mais ?do que dois ou três pequenos porque embebedam muito depressa. É deprimente estar bêbado uma hora depois ?de ter começado a beber. ?É por isso que o Dry Martini é bebido antes de uma refeição.

Agora é altura de fazer dois desdobramentos: o da azeitona e da cebolinha em pickle. Esqueça o limão e experimente azeitonas desde as Manzanilla às recheadas com pimento. Ou experimente com limão e azeitona ao mesmo tempo. O que prefere? Se gosta da azeitona, experimente deitar um bocadinho da água do frasco das azeitonas. Eis o Dirty Martini. Também são bons. O frasco de azeitonas também tem de ficar no frigorífico, claro.

Pessoalmente gosto do Dry Martini só com casca de limão mas acompanhado com um pratinho de azeitonas Gordal ou Manzanilla.

Para fazer um Gibson basta substituir uma pequena cebola de cocktail. Não é tão mau como soa. O vinagre fica bem. O Dry Martini é uma sopinha gelada vegetariana em que a carne é o álcool. Porque não um cornichon, por exemplo?

Até aqui o Dry Martini só tem um cheirinho de vermute branco extra-seco. É altura de começar a pôr mais um bocadinho. Escolha um vermute seco que ache delicioso sozinho. O vermute é um vinho fortificado que se estraga depressa. Não há pior Dry Martini do que aquele feito com vermute estragado.

Estabeleça o outro extremo: um Dry Martini que seja metade vermute e metade gin. Faça um pequenino para provar.

A partir do Dry Martini só com cheirinho vá aumentando o vermute até chegar à mistura que prefere.

Quando souber as proporções comece a trabalhar na diluição. Encha um copo de mistura com gelo, deite o vermute e o gin e, com uma colher de mistura, mexa o Dry Martini até o copo ficar cheio de condensação. Sirva para um copo frio com o acompanhamento escolhido.

A Net e as bibliotecas estão cheias de receitas. Mas aquilo que interessa é conhecer as variáveis para poder manipulá-las até chegar ao Dry Martini perfeito para cada um. Afinal, é o único que interessa.