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Como começar uma garrafeira de whiskey irlandês, garrafa a garrafa e golo a golo

Em vez de estar sempre a comprar a mesma garrafa da mesma marca — mesmo que seja a favorita — é mais divertido ir comprando garrafas diferentes e assim ir construindo uma garrafeira. É mais fácil escolher uma área, conforme a bebida preferida — no meu caso, whiskey irlandês — e especializar-se do que tentar fazer uma garrafeira que cubra todos os gostos.

Fazendo uma garrafeira o tempo passa a jogar a nosso favor. É incrível a rapidez com que vai crescendo — ao fim de dois anos fica-se com uma escolha impressionante.

Uma garrafa de whisky aberta, conforme a quantidade de ar que fica na garrafa, dura dois anos. É esse o tempo que se tem para acabar cada garrafa. Uma boa regra é acabar as garrafas quando chegam a meio. Caso não dê jeito pode-se transferir o whisky para uma garrafa mais pequena: quanto menos oxigénio ficar, melhor.

Não é preciso comprar mais de uma garrafa de cada vez. Quanto ao consumo — embora seja óbvio — é preciso lembrarmo-nos que tanto gastamos quando bebemos só de uma garrafa como quando bebemos de 20 garrafas. Uma colecção custa um bocadinho mais a constituir (já que não se gasta cada garrafa até ao fim) mas, uma vez constituída, custa tanto a manter como custa substituir uma mesma garrafa vazia por uma cheia.

Há muitos prazeres que só se têm com uma garrafeira: fazer provas, por exemplo. Também é importante poder ter whiskies mais leves para beber como aperitivos (ou no Verão) e outros mais velhos para beber depois do jantar (ou quando está mais frio).

Infelizmente o mundo do whisky está cheio de snobices e de barretes, dissuadindo os principiantes. Há também muitos whiskies famosíssimos e muito apreciados que têm um sabor medicinal fortíssimo. Não são só os maltes caros feitos com muito peat, são os blends baratos que usam estes maltes para ficar com um cheirinho fumado. 

Paradoxalmente o gosto por estes whiskies fumados ganha-se depois de conhecer os whiskies que são menos pungentes. Mas, para um principiante, são um desastre. Quase toda a gente que mantém que não gosta de whisky não gosta é de whiskies, sejam maltes ou blends, que são levemente peated. Um exemplo notório é o Johnny Walker Red.

Eis alguns whiskies de malte muito bons e deliciosos que cativarão uma pessoa que quer começar a gostar de whisky: Glenmorangie Original, Glen Grant, Tomatin, Aberlour (os mais jovens e baratos) e, não obstante o preço altíssimo, o Macallan de 12 anos envelhecido em cascos de Xerez Oloroso. Evitem-se os Macallans mais baratos e aqueles envelhecidos em carvalho novo: são uma experiência falhada.

Para começar uma garrafeira de whiskey irlandês, comece pelo Jameson e pelo Bushmills. O Jameson é um blend que contém (pouco) pot still whiskey. O Bushmills é um blend que contém (pouco) whiskey de malte. Custam à volta de 16 euros. Por 20 euros compra o excelente Black Bush da Bushmills que contém (bastante) mais whisky de malte, menos jovem e mais jerezado. Pelo mesmo dinheiro é de comprar a variante original de Bernard Walsh, The Irishman que não tem grain whiskey nenhum: é 70% pot still e 30% whiskey de malte.

Por 25 euros compra-se o magnífico Crested da Jameson com (bastante) mais pot still, menos jovem e mais jerezado. Por 30 euros já se chega ao levíssimo Bushmills Malt de dez anos, 100% malte. Não poderia ser mais diferente dos whiskies pot still.

Por este preço é irresistível o Black Barrel da Jameson que, para além de ter um bom bocado de pot still, contém um grain especialmente delicioso, destilado apenas um dia por ano. Ainda se encontra a versão anterior — o Select Reserve — que é parecida mas mais elegante.

Por 40 euros vale a pena comprar a versão mais luxuosa do blend de Bernard Walsh, com 60% pot still e 40% malte: o Writers’ Tears Copper Pot. Melhor ainda é o jovem pot still (100%) Green Spot, apesar de ter perdido qualidade nos últimos anos.

Com 60 euros já se podem comprar dois puros pot still com 12 anos de idade. O Powers John’s Lane é uma obra-prima enquanto o Redbreast 12 anos é talvez o mais elogiado pelos próprios irlandeses.

São todos whiskies irlandeses mas são tão diferentes um dos outros que chegam para nunca mais acabar a discussão. Ainda bem.