Na ponta da língua

Não há melhor banana que a banana da Madeira, é pena é ser tão cara e tão difícil de encontrar. Mentira
Cada vez que como uma banana que não seja da Madeira arrependo-me. As bananas sul-americanas são muito boas para quem nunca tenha provado bananas da Madeira.
Estupidamente, só provei a minha primeira banana da Madeira quando vim viver para Colares. Há na Várzea de Colares uma mercearia encantadora e simpática chamada O Pomarinho da Várzea. Quem lá está são a Fernanda e o Manuel, que se conheceram lá em 1961 com dez anos de idade. A mercearia chamava-se O Bananeiro (e continua a ter esse nome para as pessoas cá da terra) e o dono, pai da Fernanda, era um madeirense chamado João Fernandes cuja especialidade era — espectacularmente na altura — a banana da Madeira.
A Fernanda e o Manuel casaram-se e, quando mudaram para minimercado, mudaram o nome para O Pomarinho da Várzea. O Manuel está sempre genuinamente bem disposto e não é dos preços que cobra, que são muito em conta. A Fernanda é uma daquelas pessoas de coração aberto, que se torna amiga de toda a gente. É um prazer lá ir.
Um dia, o Manuel viu-me a comprar bananas sul-americanas e desafiou-me a levar duas bananas da Madeira. “Mas são tão pequenas…”, protestei. “Prove!”, respondeu.
E provei. De repente as outras bananas pareciam farinhentas, doces, secas e sensaboronas. Se calhar o Manuel escolhe as bananas sul-americanas a dedo para ser maior o contraste… Mas nunca mais se volta atrás. A banana da Madeira — sobretudo se ainda tiver uma sombra de verdura — tem um sabor quase cítrico. É doce mas a doçura é fresca e frutada. Para exagerar, a banana da Madeira sabe a banana e as outras bananas não sabem a nada.
Nem deveria haver concorrência. As outras bananas vêm de longe e são criadas para serem transportadas e armazenadas durante muito tempo. As da Madeira vêm directamente da Madeira, não pagam impostos, não são mexidas, crescem como lhes apetece, não havendo melhor clima ou terra para elas.
As bananas do Pomarinho são muito bem escolhidas — segundo os segredos que João Fernandes contou à filha e ao genro — e custam 1,60 euros.
Cada banana deliciosa sai por 20 cêntimos. É uma das grandes pechinchas do nosso tempo. A banana é a fruta com a embalagem mais genial de sempre. Não precisa de mais nada. Não poderia ser mais portátil ou fácil de descascar. É tão pura que se puser uma banana destas no frigorífico ela fica toda preta de desgosto e luto.
Não há má banana da Madeira e boa banana da Madeira. As bananas da Madeira são todas boas. É incrível: mesmo se eles quisessem, a Madeira é incapaz de produzir uma banana má. Podem comprar-se à vontade nas grandes superfícies. Procure o autocolante azul que proclama orgulhosamente ser da Madeira. No Continente (que pertence à Sonae, dona deste jornal) um quilo destas bananas é apenas 84 cêntimos.
Aproveite agora, quando já começa a estar frio, para se deliciar com este glorioso fruto tropical. A banana da Madeira encarece sempre no Inverno mas, que eu saiba, nunca custam mais do que 2,50 euros por quilo.
As papas de banana são um doce irresistível. Uma boa proporção é uma banana da Madeira por meia tângera. Quanto mais acidulada a tangerina ou a laranja, melhor fica a papa. Para duas pessoas bastam duas bananas e o sumo de uma tângera.
É um erro fazer papas com bananas velhotas ou de má qualidade. Para a papa atingir o auge de delícia de que é capaz, tanto a banana como o citrino têm de ser da melhor qualidade e, sempre que puder, de agricultura biológica.
O açúcar dispensa-se, claro. A banana da Madeira é doce de mais e fresca de mais para levar açúcar industrial. Embora me lembre, quando era pequeno, de cortar uma banana em rodelas e pôr uma pitada de açúcar em cada uma, não tanto pelo saber como pelo crocante da textura.
Mas, lá está, não eram bananas da Madeira. Eram das outras. As bananas da Madeira eram dificílimas de encontrar fora da Madeira. E, caso se encontrassem eram — justamente — bastante mais caras do que as outras.
Hoje em dia as bananas da Madeira são baratas e fáceis de encontrar. É com muita honra que me junto a Dolores Aveiro, a mãe do Cristiano Ronaldo, que fez um encantador vídeo publicitário sobre a banana da Madeira, a incitar as pessoas a deixarem de comer as pseudo-bananas e chiquita-bananas de uma vez por todas.