Uma nova e séria marisqueira é sempre uma alegria. A alegria é maior no caso da Água e Sal por ser tão boa e estar tão bem pensada.

Pedro Dias é filho da grande cozinheira e alma das Azenhas do Mar, a Dona Lurdes. Já aqui elogiei, agradecido e justo, a célebre Adega das Azenhas, onde a Dona Lurdes mostra diariamente (excepto às quintas-feiras) como se faz comida portuguesa para as multidões. Em três minutos se desce da Adega para a Água e Sal.

A Dona Lurdes também é mãe desta nova casa, tendo empurrado o filho para abrir na Páscoa, coisa que ele conseguiu fazer depois de mais de um ano de obras e equipamentos.

Já lá almocei duas vezes — vim de lá há bocadinho — e posso recomendá-la plenamente. Não caiam é lá todos de uma vez que o lugar, para ser simpático e soalheiro, é pequeno.

Não há qualquer concorrência entre a Adega das Azenhas e a Água e Sal. Não há um único prato em comum. A Água e Sal é uma marisqueira de gama completa que também serve pregos, pica-pau e bife do lombo. Não há pratos cozinhados. Para isso é preciso ir à Dona Lurdes: porque não há lugar melhor para comer comida portuguesa na freguesia de Colares.

A obra-prima do Pedro é uma salada russa com mariscos, feita no momento, que custa 11 (onze) euros e sabe-nos ao triplo do preço, tal é a variedade de mariscos e de vegetais.

A primeira vez que comi tinha mexilhões, lavagante, gambas, bróculos, couve-flor, batata, ervilhas, nabo, cenoura, pimento vermelho e umas algas cozidas, sensacionais. A segunda vez não tinha mexilhões mas tinha espargos frescos. A maionaise é levíssima e a combinação de verduras, batatas e mariscos é perfeita. Posso honestamente dizer que até ir à Água e Sal todas as saladas russas com mariscos que comi foram desilusões, aldrabices ou banalidades.

A Água e Sal é totalmente despretensiosa. Tal como as antigas marisqueiras da linha do Estoril pode-se lá ir beber um café. Tem também uma gelataria artesanal, num balcão à parte, com gelados muito bons. Pode-se pegar num cone e arrancar ou, no caso de se estar sentado, vêm trazer à mesa.

O ambiente não é apenas informal: é amistoso. Apetece lá passar o dia. As mesas na esplanada são especialmente apetitosas.

Os preços da Água e Sal são preços de amigo. A açorda de mariscos, para duas pessoas, custa 22 euros. O bife do lombo com batatas fritas às rodelas (infelizmente irresistíveis) custa 12,50 euros. Caso queira rebentar com a conta, o molho com natas e cogumelos frescos (tristemente irresistível também) leva o preço do bife aos 13,50 euros. E é um bifalhão, de carne excelente, grelhado com carinho e sabedoria.

O prego no prato com ovo e as ditas batatas (grrr...) custa 6,50 euros e o preguinho no pão são 3 euros. O pica-pau de lombo fica em 9 euros.

Os mariscos, apesar de estarem esplendidamente instalados num aquário novinho em folha, também não se fazem caros. A santola está a 22 euros o quilo e vale muito mais a pena, sendo um caranguejo infinitamente superior, do que a sapateira, que está a 20.

O lavagante — vivaço e bonito — vende-se ao excelente preço de 50 euros o quilo. Prefiro-o à lagosta nacional que custa 70 euros. Melhores e mais caros de todos são os lagostins. Custam 95 euros por quilo mas são dos grandes e bons. Nas marisqueiras são difíceis de encontrar por menos de 120 euros.

Uma dose de mexilhão custa 8 euros e as ameijoas à Bulhão Pato (bem feitas, só com azeite, coentros e alho) são 11 euros.

Como está aberto todo o dia é ideal para petiscar. Uma salada russa com marisco dá perfeitamente para duas pessoas (ficando a 5,50 para cada um) e o ambiente amistoso faz com que ninguém se importe com isso.

Raúl Lino, o meu pai e centenas de milhares de outros portugueses acharam as Azenhas do Mar a mais bonita aldeia portuguesa à beira-mar. Continua a ser. Nada mudou. Até agora. Agora tem também, mesmo no coração das Azenhas, uma marisqueira e gelataria à altura. A altura é grandiosa. E a Água e Sal também é.

Água e Sal, Largo do Padre António, nº5, Azenhas do Mar. Tel: 214 083 362