Vincent West/ Reuters

Uma bela omoleta pode e deve durar o dia, o Verão e o ano inteiro

A omoleta, quente, morna ou fria entra na época da sua glória. Aqui usamos a omoleta como os japoneses usam a omoleta deles - dashimaki tamago - nos restaurantes de sushi, sem pressas. Podemos comer parte dela acabada de fazer ao almoço, guardar outro bocado para fazer uma sanduíche ou usar bocadinhos frios numa salada.

É melhor e mais rápido fazer uma omoleta grande com seis ovos do que duas de três ovos. Põe-se a omoleta no meio da mesa e as pessoas vão cortando tiras conforme lhes apetece.

Há muitas maneiras de fazer omoletas mas a minha, com um pouco de prática, é boa para principiantes. A parte mais difícil é dobrar a omoleta. Para já, se não quiser, não tem de dobrá-la. Pode transferi-la inteira e circular para um prato.

Para motivar-se, pode assistir à versão-pesadelo da dobragem no YouTube procurando japanese omelette no KaitenSushiTV. Um dos maiores espectáculos da minha vida gastronómica foi assistir ao saudoso Mestre Yoshitaki a fazer uma na cozinha do Aya.

Descanse que a nossa omoleta é muito mais simples. Só precisa de seis ovos, uma colher de sopa de azeite, flor de sal e pimenta acabada de moer, uma frigideira anti-aderente, uma espátula de madeira. Ponha a frigideira com o azeite ao lume. Enquanto espera que aqueça, bata os ovos com um garfo num prato de sopa. Bata o suficiente para desfazer as gemas e deixar entrar algum ar. Um erro comum é bater de mais, produzindo uma omoleta fofinha mas sensaborona, cheia de ar.

Para experimentar a frigideira, deite um fio de ovo. Deve solidificar imediatamente, mas sem ficar castanho. Se levar tempo a solidificar, precisa de aquecer mais um bocado. Se ficar castanha, está quente de mais e precisa de arrefecer um bocadinho.

Deite os ovos para a frigideira e espere uns quinze segundos (é o tempo de passar por água o prato e o garfo). Depois, com a espátula, vá afastando a omoleta do rebordo, fazendo escorrer para o espaço que abriu mais um bocado do líquido.

Faça isto constantemente durante um minuto, até ter uma omoleta muito enrugada. O princípio é afastar da frigideira os ovos mal fiquem feitos e substitui-los por ovos líquidos até já não haver quase líquido nenhum.

Transfira a omoleta para um prato raso. O método é segurar a frigideira na vertical e deixar tombá-la sobre si mesma. Não é preciso outro gesto seu. A gravidade trata de tudo.

Já dobrada, a omoleta volta para a frigideira durante uns trinta segundos, para cozer o interior. Se gosta da omoleta baveuse (mal passada) bastam dez segundos.

Não compreendo a mania de acrescentar coisas às omoletas. Não é melhor uma omoleta simples com uma salada de tomate ou uma tomatada do que uma omoleta de tomate?

A excepção é a clássica omelette aux fines herbes que leva quatro ervas aromáticas (estragão, cerefólio, salsa e cebolinho) bem picadas. É sublime. Nos anos 1960 e 70, os bons restaurantes serviam-na como entrada mas agora é raro ver, mesmo em França.

Os franceses usam manteiga, claro, que também fica muito bem. Se quiser ver uma execução impecável procure Pierre-Dominique Cécillon na LarousseCuisine, disponível no YouTube. Não sei como é que esta brilhante lição de dois minutos e tal conseguiu apenas 24 mil visionamentos.

Aproveite para ver as outras execuções dele: o soufflé au fromage, por exemplo, é perfeito. O mal do YouTube é estar cheio de receitas idiotas e execuções desastradas mas se procurar as companhias com boas reputações (como a LarousseCuisine, que tem 117 vídeos) será amplamente recompensado.

Fuja às versões britânicas e americanas, que são sempre "adaptadas" para serem mais ao gosto britânico ou americano. Não há nada como o japonês para a cozinha japonesa ou o francês para a cozinha francesa.

Combine a omoleta já feita com o que quiser. Verá como é fácil acompanhá-la, com quase tudo o que quiser.