Paulo Pimenta

No primoroso Ichiban, no Porto, a principesca cozinha japonesa está em primeiríssimo lugar

Chama-se Ichiban e o chef japonês é Masaki Onishi. A Embaixada do Japão em Portugal foi buscá-lo a Quioto, ao restaurante Kyoshinzan e consegui segurá-lo, como chef, durante três anos. Note-se que o grande cozinheiro japonês de Lisboa, Tomoaki Kanazawa, do excelentíssimo restaurante Tomo em Algés, também foi chef na Embaixada.

Os embaixadores japoneses que temos tido têm prestado um grande serviço ao povo português viciado na cozinha japonesa, trazendo grandes senhores que, nestes dois casos, decidiram ficar por cá. Os nossos sinceros agradecimentos.

Em Portugal vivem-se tempos de grande miséria no que toca ao sushi e ao sashimi. Praticamente só há falsificações e aldrabices. Desde que morreu o grande mestre Yoshitaki, a verdade é que só há duas casas dignas do nome, da beleza e do prazer gastronómico da cozinha tradicional japonesa, que começa por exigir mais de uma década de trabalho duro como aprendiz de um mestre japonês da escola antiga e eterna.

Uma é o Tomo e a outra é o Ichiban. Começa logo pelo arroz, perfeitamente cozido e temperado. O dashi (caldo de aparas de atum seco e alga kombu) era admirável. É por aqui que se vê a qualidade de uma casa de sushi e sashimi: pede-se um pouco de arroz e uma colher de caldo. Se o arroz não for perfeito (não pode ser doce nem avinagrado) e o caldo não estiver no ponto, pode ir-se embora sem gastar um cêntimo.

Se o restaurante se recusar a deixar provar o dashi é porque não é sério: ou usa dashi instantâneo ou então nem isso, comprando as sopas em pacotes. No Ichiban até o wasabi tem verdadeiro wasabi, do caríssimo e raríssimo, raspado ali à nossa frente.

Masaki Onishi tem um aprendiz brilhante, de nome Daniel, que conseguiu aperfeiçoar as mais difíceis técnicas japonesas de corte. O sashimi é cortado grosso - o que é mais arriscado mas mais delicioso - mas a textura é perfeita, sem qualquer fibra ou inconsistência.

Antes de começarmos, o próprio Masaki Onishi vem trazer-nos saladas sublimes que ele próprio acabou de preparar. Começando por tais alturas, desconfiamos que não conseguirão manter as expectativas. Excedem-nas com cada novo prato.

Fomos lá duas vezes e em ambas as refeições escolhemos a selecção maior de sashimi e de sushi. Escrevemos uma lista do que não queríamos (omolete, tofu, salmão) e o resto ficou inteiramente ao critério do itamae Daniel, que é como deve ser.

Faz parte da arte do itamae adivinhar a alma e os gostos de quem se senta à frente dele e foi isso que ele fez: não parávamos de suspirar e de sorrir, tal era a sucessão de frescurinhas do mar, das hortas e dos pomares.

Os peixes têm de estar na época e perfeitos, escolhidos um a um. Assim foi com o atum, o pargo, o carapau, o choco, o robalo e, espectacularmente, o peixe-porco e o rodovalho.

Chorámos por mais e mais veio. Foi como tomar o primeiro banho de mar do ano: habitámos o oceano através das bocas, das narinas e dos olhos.

Em qualquer outro país pagar-se-ia 500 ou mais euros por um almoço tão luxuoso: pagámos apenas 40 por pessoa, comendo muito peixe e pouco arroz. Podíamos ter almoçado por apenas 16,50 euros, com direito a salada do dia, sopa de misosushisashimi, uma bola de gelado, uma bebida e um café que, por acaso, é Illy e foi o melhor que alguma vez bebi em território português.

Por mais 2 euros (18,50) também lhe dão uma tempura de gambas e vegetais. É uma pechincha para iguarias tão sumptuosas. Só às quintas-feiras ao jantar, por 25 euros apenas, tem um menu de degustação de sushisashimi e pratos de cozinha e oferecem o vinho (ou cerveja), um cocktail japonês e o tal café.

É difícil, muito difícil, descer depois à terra.

 

Ichiban
Avenida do Brasil, 454, Porto
Tel.: 226186111
Fecha às segundas-feiras