Mitos que comemos
Desafio aceite! O que pode a alimentação fazer contra o cancro
Nenhum alimento pode ser visto como um fármaco nem como uma arma isolada no combate ao cancro, mas existem alguns que possuem compostos bioactivos que estão associados à prevenção do cancro.
Quando surgem algumas modas e correntes nas redes sociais formam-se sempre dois grupos: os que aderem desenfreadamente antes de pensar na verdadeira utilidade dessa acção, e os que criticam acerrimamente esse espírito de manada não acrescentando igualmente nada à questão. No meio disto tudo podemos sempre adoptar um espírito construtivo e aproveitar o embalo para dar conselhos realmente úteis e falar de que forma pode a alimentação prevenir o cancro.
Em primeiro lugar, seria bom que manipular algumas variáveis na alimentação fosse o suficiente para a prevenir o aparecimento do cancro. Infelizmente uma alimentação cuidada e a prática regular de exercício físico não são o garante de nada, pois muitas das vezes os factores genéticos sobrepõem-se aos ambientais. Ainda assim, como só conseguimos manipular estes últimos, convém relembrar as mais importantes guidelines para a prevenção do cancro.
Não será novidade para ninguém que a manutenção de um peso adequado é meio caminho andado para a prevenção de muitas patologias. Neste caso em concreto, o “desarranjo” metabólico causado pelo excesso de massa gorda, particularmente na zona visceral que se traduz num aumento da inflamação, resistência à insulina e promoção da angiogénese (desenvolvimento de novos vasos sanguíneos) é um cocktail perfeito para o desenvolvimento tumoral.
Falando de alimentos individualmente, apesar de nenhum deles poder ser visto como um fármaco nem como uma arma isolada no combate ao cancro (ao contrário do que alguns sites e notícias mais fantasiosas nos podem levar a crer), existem alguns que possuem compostos bioactivos que estão associados à prevenção do cancro. Por isso baseie muita da sua lista de compras nos alimentos que se seguem: frutos vermelhos (mirtilos, framboesas, amoras, morangos), brássicas (brócolos, couve flor, couve Bruxelas, repolho), sementes linhaça, nozes, leguminosas (feijão, grão, lentilha), cereais integrais, alho, maçã, tomate, cogumelos, café. Já percebeu então que um padrão alimentar principalmente focado em alimentos de origem vegetal é um objectivo a atingir. Por outro lado, quando observamos os nutrientes que mais estão ligados a um aumento do risco de cancro, a tríade sal, gordura e açúcar é algo a que queremos fugir, quer pelo valor calórico que lhe está intrínseco e consequente efeito directo no aumento da adiposidade, quer por se agruparem em muitos alimentos que possuem por si só uma ligação positiva e infeliz ao desenvolvimento de cancro como os fritos, enchidos e carnes processadas (diferente de carnes vermelhas).
Também as partes carbonizadas de carne, peixe e outros grelhados, bem como no pão torrado são igualmente de evitar a todo o custo, e as bebidas alcoólicas para ingerir com moderação, uma vez que são dois hábitos altamente potenciadores do cancro. Quem bebe lacticínios como quem bebe água tem igualmente de refrear esse consumo e optar principalmente por iogurtes e queijos magros, não ultrapassando as 3 porções diárias já que esse consumo pode ser considerado equilibrado e seguro. Já a relação entre o consumo de soja e cancro da mama é sempre conflituosa, sendo que a prevalência deste tipo de cancro é muito menor na população asiática do que na ocidental, algo que para além do consumo das isolavonas da soja pode estar também relacionada com outros factores como a ingestão destas desde a adolescência, maior ingestão de hortofrutícolas, melhores hábitos de actividade física, peso mais controlado e maior capacidade de produção de S-equol um composto derivado da fermentação intestinal dessas mesmas isoflavonas. Por isso, apesar de existir evidência de que a soja pode ter genericamente um efeito protector no cancro da mama, mesmo depois do diagnóstico, alguns estudos revelam que convém existir alguma contenção principalmente em pacientes nos quais o diagnóstico foi já efectuado.
Apesar de todas as variáveis não controláveis numa patologia como o cancro, a adesão a estas guidelines está associada a uma menor incidência de vários tipos de cancro, sendo que o cancro da mama (para além do endometrial e colorectal) parece ser dos que mais “facilmente” é prevenido por estas mudanças.
Assim, se realmente gosta destes desafios, leve-os até ao fim. Baldes de água fria e fotos a preto e branco não fazem realmente muito, mas tornar-se dador de medula óssea sim (se não sabe onde pode ver aqui) e fazer um donativo para as instituições de referência também. Só assim pode mesmo ter um #desafioaceite.