Virgilio Rodrigues

Mitos que comemos

Suplementos de Verão

Problemas sérios como o excesso de peso ou maus hábitos alimentares não se tratam com pensos rápidos como estes, por mais português que seja este hábito.

Quando começa a cheirar a Verão o desespero de perder em algumas semanas os quilos que não se perderam em meses, leva à procura de soluções de último recurso. É por isso natural que chegados a esta fase se procure sempre algo “para secar” ou para “queimar” mais gordura.

Antes de detalharmos mais sobre este tema é bom que se retenha uma mensagem importante: mesmo os suplementos que apresentam resultados positivos na perda de peso possuem um efeito de magnitude muito reduzida e com significado clínico quase irrelevante. Perder 1 ou 2 kg durante 2-3 meses ou aumentar o gasto energético diário em 100 ou 200 calorias é algo muito redutor e que nem é sequer comparável com algumas mudanças na alimentação e exercício.

Que suplementos então podem ter um resultado positivo? De todos os “fat burners” a cafeína e o extracto de chá verde são aqueles que estão na linha da frente quanto aos “melhores” resultados. Convém referir que mesmo estes efeitos modestos na perda de peso e perímetro da cintura são observados com quantidades de extracto de chá verde na ordem dos 500-700mg/dia, algo que é 10 vezes superior ao encontrado por norma numa chávena de chá e mais facilmente alcançável com suplementos. A co-existência de cafeína nesse suplemento pode potenciar o seu efeito, sendo estes dois “termogénicos” aqueles que possuem um maior corpo de evidência na perda de peso.

Sobre outros estimulantes que estão presentes em muitos suplementos como a yohimbina e a forskolina, acaba por não haver muito para dizer fruto dos poucos estudos realizados até à data, existindo apenas um estudo para cada um a demonstrar resultados positivos, sendo sempre necessário monitorizar eventuais efeitos adversos que estão quase sempre relacionados com insónias, taquicardias, ansiedade e hipertensão.

Na grande panóplia de substâncias encontradas em muitos suplementos estão também a centelha asiática e o crómio, cada um com efeitos moderamente positivos ainda que na melhoria da circulação sanguínea (em indivíduos com insuficiência venosa crónica) e no controle glicémico (em diabéticos) respectivamente. O seu efeito na perda de peso é praticamente nulo.

Dois dos grandes “flops” no que diz respeito aos suplementos para emagrecimento são o CLA (Ácido Linoléico Conjugado) e a L-Carnitina. O CLA tinha tudo para dar certo desde plausibilidade biológica a resultados positivos em animais, no entanto os resultados em humanos têm sido uma desilusão e o efeito na perda de massa gorda é sempre demasiado pequeno para ter alguma relevância clínica. Com a L-Carnitina acontece algo semelhante, uma vez que o único estudo que conseguiu demonstrar um aumento da sua quantidade dentro do músculo após suplementação o fez com a ingestão simultânea de 160g de hidratos de carbono durante 6 meses. Não parece então fazer muito sentido para quem está a tentar perder peso um aporte diário de 640 calorias para aumentar os níveis intramusculares de uma substância cujo papel na oxidação de gordura é ele próprio também modesto, embora haja que reconhecer que o aumento da oxidação de gordura decorrente deste protocolo de suplementação possa contrabalançar esse aporte extra de hidratos de carbono.

Já quando falamos de manipulados farmacêuticos que a algumas substâncias acima descritas adicionam também laxantes e diuréticos, aí a conversa já é outra, uma vez que é muito provável que o peso desça. Eventualmente pode não ser o peso que interessa, nem ser o sinónimo de ganho em saúde, sendo que com este tipo de “batotas” apenas se engana a si próprio e quase sempre paga a factura mais tarde.

Assim, se a opção e a procura por um suplemento for sinónimo de uma assunção de que está na hora de fazer alguma coisa para perder peso e modificar favoravelmente o estilo de vida, aí sim temos boas notícias, mas perceba que o suplemento nesse caso apenas vai ser o reflexo dessa mudança e não a sua causa.

Problemas sérios como o excesso de peso ou maus hábitos alimentares não se tratam com pensos rápidos como estes, por mais português que seja este hábito. Na saúde não convém muito “desenrascar” mas sim “resolver de vez” com reeducação da alimentação e do treino.