Enric Vives-Rubio

Mitos que comemos

O drama do Natal light

Prepare-se porque nestes dias está no auge a saga das sobremesas natalícias light.

Logicamente que reduzir a quantidade de açúcar das rabanadas, aletria, arroz doce, sonhos e afins e trocar o bolo-rei por bolo-rainha serão sempre boas opções, mas melhor mesmo é aproveitar os dois dias de Natal sem grandes preocupações com a alimentação. O único “drama” associado ao Natal, reside no autêntico buffet de sobremesas que pode habitar nas nossas casas quer antes, quer depois de dia 24 e 25 e no périplo de jantares de Natal (empresa, grupo de amigos A, grupo de amigos B, etc..) que sempre acontece nesta altura. Aliás, nesta altura do ano por mais “inofensiva” que seja a situação ou o contexto é bem provável que acabe a comer uma rabanada ou uma fatia de bolo-rei!

Na prática os abusos cometidos no jantar de dia 24 e durante todo o dia 25 podem não ser muito diferentes de um típico fim-de-semana onde se junta a jantarada com amigos de sábado à noite com o almoço/brunch/lanche de família de domingo. Diga-se até em abono da verdade que não é esta desinibição alimentar em contexto social que por norma está associada ao aumento de peso (ao contrário dos erros alimentares diários e dos cometidos em resposta a estados emocionais instáveis). Existe até um chavão muito utilizado nesta altura de que “o que engorda não é o que se come no Natal à Passagem de Ano, mas sim da Passagem de Ano até ao Natal”. Esta altura do ano apenas pode ser crítica quando não existe a devida compensação e quando aos quilos acumulados nestes dias se juntam todos aqueles dos anos anteriores. Aí sim, a época natalícia pode ser um importante contributo para o agravamento dos números de obesidade, até porque parecem ser os indivíduos já neste grupo quem mais massa gorda ganha nesta época.

Como tal, a abordagem de cada pessoa a esta época é de fundamental importância para perceber como flutuará o seu peso. Quem o encara como “são dois dias de desgraça e acabou” estará sempre no bom caminho! No entanto, para quem dá consultas é certo e sabido que Novembro e Dezembro são os meses com menor afluência de pacientes, até porque “ninguém vai começar uma dieta quando vem aí o Natal”, pensamento que já pressupõe que o Natal é todo um mês de abusos, quando deveria ser apenas em dias pontuais.

Não obstante a recomendação para “desligar a ficha” nestes dois dias e aproveitar tudo de bom que o Natal tem para nos dar, aqui ficam algumas sugestões “cumpríveis” e não fundamentalistas para fazermos um bom “controlo de danos” natalício:

– Não caia na tentação de comer doces “não natalícios”. De certeza que irá receber muitas caixas de bombons e chocolates, mas face à fartura de sobremesas que existe na mesa, guarde-os para outras alturas do ano;

– Evite igualmente juntar mais calorias líquidas nestas refeições. Acompanhá-las com um bom vinho fará todo o sentido, mas para quem dele não gosta, acrescentar mais açúcar proveniente de sumos e refrigerantes é totalmente evitável;

– Tente colocar no mesmo prato um “rodízio” de sobremesas. São as primeiras exposições ao alimento que despoletam em nós o sentimento de recompensa por isso, provando apenas uma pequena amostra de todos os doces, reduz o seu aporte calórico e retira o mesmo prazer;

– Se não trabalhar no dia 24, aproveite os vários convívios temáticos desportivos que costumam ser realizados nesta manhã. Caso não consiga, dia 26 é sinónimo de voltar às rotinas normais que pressupõe alimentação equilibrada e exercício físico;

– Se já sabe que não consegue resistir aos doces, evite os hidratos de carbono ao longo desse dia. O pão nem sequer deve ir para a mesa ou fazer parte do pequeno-almoço, e use e abuse das hortaliças e legumes a acompanhar o bacalhau evitando a batata;

– Não chegue à hora da consoada com demasiada fome. Os frutos gordos são excelentes alternativas para saciar durante todo o ano, mas infelizmente só no Natal estão na moda;

– Caso receba vários cabazes/presentes comestíveis das suas empresas/clientes/amigos, tente oferecer igualmente os produtos que não precisa às muitas instituições que deles precisam. Se nesta quadra recebeu cinco bolos-rei ou queijos da Serra não precisa de os colocar todos na mesa!

Em suma, o Natal não tem ser light, tem de ser Natal!

Mais do que nunca, nesta época é sempre importante relativizar as calorias e a “linha”. Se existem muitos jantares de Natal da empresa e amigos e abundância de doces na consoada, é sinal que existe emprego, família, amigos, casa e condições para uma mesa farta. Fossem esses todos os nossos “problemas”.

Um Feliz Natal a todos os leitores!