Mitos que comemos
O fabuloso mundo das dietas detox
Para desintoxicar promove-se de tudo. Desde dietas líquidas, a sumos com mais ou menos fruta e açúcar, passando pela exclusão de alimentos de origem animal e a períodos de jejum.
Logicamente que para quem as vende e promove é muito interessante e vantajoso cimentar a ideia que este processo detox é uma “fase” (existem aliás dietas detox que possuem várias “fases”) e que no final desta “fase” tudo pode voltar a ser como dantes, até porque nessa altura será necessária nova dieta detox, sendo este um ciclo que se regenera e auto alimenta.
Então, como é que o nosso organismo de “desintoxica” e de que forma a alimentação pode ajudar? Rins, pulmões, pele, sistema gastrointestinal e fígado (sobretudo este), todos desempenham um papel na eliminação de substâncias indesejáveis, tornando-as menos tóxicas e solúveis em água de modo a poderem ser eliminadas na urina, fezes e bílis. Minimizar a nossa exposição a estas substâncias será sempre a prioridade, mas existem de facto formas relativamente simples de tornarmos a nossa alimentação mais detox. Esta simplicidade não passa pelas abordagens comuns, até porque uma alimentação monótona, apenas à base de líquidos e hortofrutícolas é altamente contraproducente a um processo onde as necessidades de vitaminas e minerais (fundamentais para “alimentar” as enzimas responsáveis por estas reacções de “desintoxicação”) estão aumentadas.
Algumas vitaminas do grupo B, vitamina E, zinco, selénio e mesmo aminoácidos como a cisteína, estão presentes em alimentos como as carnes, peixe, ovos e frutos gordos, alimentos muitas vezes excluídos de dietas detox. Aliás, prolongando este padrão alimentar durante demasiado tempo podemos ter a certeza que vamos de facto perder os tão célebres “resíduos”, mas à custa de massa muscular. É certo que alguns fitoquímicos presentes em alimentos como brócolos, couve-flor, cebola e alho podem auxiliar o trabalho destas enzimas, mas o mesmo não se pode dizer dos suplementos que reúnem um “cocktail” antioxidante com grandes quantidades de extractos de vários alimentos que nos são benéficos (café, cacau, chá verde, frutos vermelhos, etc.), exercendo estas megadoses um efeito reverso ao inibir parcialmente a acção dos complexos enzimáticos responsáveis pela metabolização dessas “toxinas” no nosso organismo.
Evidências de alimentos e nutrientes específicos que possam ajudar neste processo existem muito poucas e praticamente todas em experimentação animal. Ainda assim, fica a nota para o efeito positivo do ácido málico (uvas e vinho), ácido cítrico e pectinas (presentes nos citrinos), curcumina (pigmento presente no açafrão), coentros, selénio (presente na castanha do Pará, moluscos e carnes vermelhas) e das algas nori e chlorella na eliminação de metais como o alumínio, chumbo, cádmio e mercúrio e também de bifenilos policlorados.
Também a prática regular de exercício é fundamental uma vez que o aumento da expressão de glutationa (um dos nossos antioxidantes mais importantes) é um dos vários efeitos benéficos do treino o que faz com que indivíduos treinados, desintoxiquem muito melhor!
Por isso, sem entrar em fundamentalismos, aqui ficam 10 boas ideias para colocar em prática a sua dieta detox:
- Beba muita água e se não gostar beba chá sem açúcar (falaremos deles no próximo artigo)
- Evite ao máximo a utilização de fármacos e a auto-medicação (mesmo que sejam coisas “simples” como anti-inflamatórios ou analgésicos)
- Tente não fumar ou fazê-lo com a menor frequência que conseguir
- Use e abuse de legumes e saladas (a alface é tão pobre nutricionalmente que “não conta”), temperando - não encharcando - com azeite, uma vez que muitos dos seus compostos benéficos são lipossolúveis
- Tente minimizar o número de binge drinking e consequentes intoxicações alcoólicas
- Habitue-se a cozinhar com algumas especiarias e ervas aromáticas acima faladas
- Elimine as gorduras visíveis da carne e todas as zonas carbonizadas em grelhados/torradas
- Durma o mais próximo das 8 horas por noite que conseguir (por o sono “em dia” ao fim de semana não é o suficiente)
- Evite alimentos excessivamente processados e com longas listas de ingredientes
- Pratique exercício ao ar livre em zonas verdes e com menor poluição que áreas mais urbanas
Colocar estas regras em prática todos os dias é essencial até porque este é um processo que ocorre 24 horas por dia e 7 dias por semana. O fígado trabalha continuamente e não entra em fase detox apenas nas 2ªs feiras seguintes a um fim-de-semana mais abusado ou após as férias. De resto, pode constatar que a mesma dieta que é boa para desintoxicar é igualmente boa para gerir o peso e para prevenir uma multiplicidade de doenças. Por isso podemos afirmar com toda a certeza: em vez de uma dieta, tenha um estilo de vida detox!