Mitos que comemos
Da necessidade ao embuste – o fantástico mundo dos aditivos alimentares
Sabe qual a quantidade de carne que existe em hambúrgueres e almôndegas congelados? Ou a quantidade de peixe presente em douradinhos, rissóis e delícias do mar?
No último artigo sobre os produtos “light” ficou prometida uma abordagem sobre os aditivos que muitas vezes (sobre)povoam estes e outros alimentos. E tal faz todo o sentido, até porque ganham cada vez mais fãs os sites e blogues que se dedicam a uma alimentação sem aditivos.
Sendo este um tema demasiado complexo para ser resumido em tão poucas palavras, é lógico que a utilização de aditivos em alguns alimentos é uma inevitabilidade tendo em vista a sua conservação e aumento do prazo de validade, acrescentando mesmo alguns deles algum valor nutricional (vitamina B2, C, E, e Ferro são aditivos vulgarmente utilizados). Ainda assim, muitos outros existem com efeitos não tão benéficos e apesar de estarem bem definidos intervalos de segurança e níveis de exposição toleráveis serão sempre de evitar as longas listas de ingredientes com nomes quase impronunciáveis.
Há igualmente que referir que as crianças constituem a este nível um grupo de risco e que muitos dos coloridos alimentos que as atraem (refrigerantes, gomas, cereais, gelatinas, etc.) podem igualmente estar associados a um aumento de hiperactividade, algo que, aliado à sua grande quantidade de açúcar, faz com que não se perca nada em deixar estes alimentos fora de casa.
Mas o objectivo principal deste artigo é de alertar para outros “aditivos” que passam despercebidos em muitos alimentos e descaracterizam quase por completo quer o seu valor nutricional quer o seu produto base. Vamos a alguns exemplos: Sabe qual a quantidade de carne que existe em hambúrgueres e almôndegas congelados? Ou a quantidade de peixe presente em douradinhos, rissóis e delícias do mar? Se no caso dos processados de “carne” esse valor pode andar entre os 50 a 60% (com mais alguma e mais barata proteína de soja à mistura), já nos produtos de peixe podemos ir dos 65% de pescada nos douradinhos aos 15% de camarão em rissóis.
Aliás, basta fazer o curioso exercício de procurar a quantidade de proteína nestes produtos e verificar que na maioria dos casos as quantidades de hidratos de carbono e gordura são superiores, que é como quem diz “comprar gato por lebre”. Como tal, hambúrgueres, salsichas e almôndegas industriais nunca serão carne “a sério”, tal como douradinhos, rissóis e delícias do mar nunca poderão ser vistos como boas alternativas ao peixe. Se é válido o argumento que apresentar estes alimentos às crianças é evitar alguns problemas domésticos, é igualmente válido que hambúrgueres, salsichas e almôndegas são coisas que se podem fazer em casa (até com a ajuda dos mais novos), com carne picada no momento, especiarias e ervas aromáticas bem como atum, filetes de pescada e salmão, são algumas das muitas alternativas de peixe sem espinhas e sem demais aditivos.
Ir às compras é um dos mais importantes actos de promoção da saúde/prevenção da doença que pode fazer por si e pela sua família. Por isso, vale a pena “perder” algum tempo a consultar não só a informação nutricional mas também a listagem de ingredientes de modo a mesmo quando escolhe algum alimento processado, optar pela versão mais “limpa” possível.
Por isso, terminamos da mesma forma que o artigo anterior dizendo que hortícolas, leguminosas, fruta, frutos gordos, sementes, carne, peixe, ovos, azeite, arroz, água são tudo exemplos de alimentos sem uma numerosa lista de ingredientes e nos quais deve assentar grande parte da nossa alimentação.
Take home messages:
- Apesar da nossa exposição aos aditivos alimentares poder ser considerada segura, é bastante mais saudável fazermos das especiarias e ervas aromáticas os nossos corantes e conservantes naturais;
- Habitue-se a fazer da análise dos rótulos uma prioridade nas suas idas ao hipermercado e a ser bastante mais criterioso naquilo que compra.
Pedro Carvalho, assistente convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto (pedrocarvalho@fcna.up.pt)