Adriano Miranda

Mitos que comemos

Óleo de coco: A gordura certa ou mais banha da cobra?

A resposta à pergunta sobre qual a melhor gordura sempre esteve na ponta da língua: “Azeite!”.

E fazemo-lo orgulhosamente não fosse ele parte indissociável da nossa identidade gastronómica e o nosso país um dos seus produtores mundiais de excelência. Ultimamente o óleo de coco surgiu com força nas notícias vindo “perturbar” este consenso. Será que temos mesmo mais uma “gordura saudável” ou será apenas mais uma moda?

Esta questão faz ainda mais sentido quando o óleo de coco é o campeão das gorduras saturadas possuindo mais de 85% de ácidos gordos saturados na sua composição, os tais que sempre ouvimos dizer que estão mais ligados ao aumento do colesterol e potenciadores de doenças cardiovasculares. Todavia, nem todos os ácidos gordos saturados são iguais e o óleo de coco possui quantidades interessantes de ácidos gordos de cadeia média que possuem alguns efeitos interessantes ao nível da gestão do peso como o aumento do gasto calórico e controlo do apetite. Ainda assim estes efeitos benéficos são por norma observados com ácidos gordos de cadeia média (6, 8 e 10 carbonos), sendo que os ácidos gordos presentes em maior quantidade no óleo de coco (láurico e mirístico – 12 e 14 carbonos), já escapam de certa forma a estes efeitos.

Um argumento comum na (sobre) valorização do óleo de coco passa por extrapolar para a realidade “ocidental” o facto de que algumas tribos com elevadas ingestões de óleo de coco possuem uma prevalência quase nula de doença cardiovascular, algo que sem sombra de dúvida entra no domínio da desonestidade intelectual pois a disparidade de estilos de vida não permite (ou não deveria permitir) comparar situações que não são comparáveis.

Assim, quando falamos de óleo de coco propriamente dito e não dos seus ácidos gordos isoladamente, a principal dificuldade é a escassez de estudos de intervenção em humanos. Um dos poucos, demonstrou um efeito benéfico com a suplementação diária de 30ml óleo de coco na diminuição do perímetro da cintura em mulheres com obesidade. É no entanto necessário reconhecer que esta foi uma melhoria média de 1,4 cm (na prática quase insignificante e quase dentro do erro técnico de medida aceitável) e que o mesmo óleo de coco aumentou os triglicerídeos e o colesterol e deixou inalterável a razão entre o “mau” (LDL) e o “bom” (HDL) colesterol. Este efeito benéfico no perímetro da cintura foi corroborado por uma outra intervenção (sem grupo de controlo e apenas verificado em homens), mas sem qualquer alteração no perfil lipídico. Apenas um estudo registou melhorias nos níveis de triglicerídeos e na razão LDL:HDL quando uma dieta rica em ácidos gordos trans (estes sim, consensualmente os piores para a nossa saúde) foi substituída por outra com o dobro da quantidade de gordura saturada, principalmente ácido láurico. Sendo, neste caso, o ponto de partida tão desequilibrado não serão logicamente de estranhar estes resultados, realçando ainda assim que neste protocolo foram comparadas duas margarinas nutricionalmente diferentes e não o óleo de coco propriamente dito.

Assim, não existe um único efeito consistente verificado até agora com a ingestão de óleo de coco, não sendo no entanto de desprezar um potencial efeito positivo ao nível da diminuição do perímetro da cintura e aumento do “bom” colesterol. Mas, no fundo, passando do contexto da “investigação científica” para a “realidade”, se o objectivo for melhorar o nosso perfil lipídico, existem outras alterações do estilo de vida mais benéficas (perder peso, fazer exercício, ingerir bebidas alcoólicas com moderação, deixar de fumar, limitar ingestão produtos processados, etc.) do que passar a utilizar óleo de coco.

Como tal, um dia mais tarde poderemos estar enganados e vir a ser devidamente comprovado que o óleo de coco é uma excelente alternativa, mas para já não justifica toda a histeria que o rodeia.

Take home messages:

  • Se experimentou óleo de coco e gostou não há razão para o eliminar. Se foi como substituição da manteiga provavelmente será melhor. Caso tenha sido do azeite, nem por isso!
  • O óleo de coco continua a ser uma gordura e a ter quase 900 kcal por 100g, por isso se o objectivo passa por perder peso não abusar desta ou de qualquer outra gordura é fundamental.