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Mitos que comemos

Que ensinamentos tirar da dieta do pH?

Também chamada de dieta alcalina, pretende promover o equilíbrio ácido-base do nosso organismo.

Aceitam-se apostas para qual será a dieta da moda de 2014. À medida que proliferam as diferentes dietas, aumenta também a desconfiança com que são olhadas por todos os profissionais de saúde. Mas, sendo o factor decisivo de cada “dieta” a mudança de hábitos, vale a pena olhar para os casos de sucesso e tentar aprender algo com eles.

A dieta do pH ou dieta alcalina baseia-se, no fundo, em promover o equilíbrio ácido-base do nosso organismo através dos alimentos que ingerimos. E a este nível não interessa tanto o pH do alimento em si, mas sim o seu potencial ácido (PRAL), estimado através do balanço entre a sua composição em cloro, fosfatos e sulfatos por oposição ao sódio, potássio, cálcio e magnésio. Tudo isto explica que alimentos ácidos como o café, vinagre e a generalidade das frutas possuam um potencial ácido baixo e o oposto se verifique com alimentos mais alcalinos como o leite, ovos e alguns queijos. Resumindo, a dieta do pH coloca claramente o enfoque na ingestão de fruta e legumes (alimentos com uma carga ácida menor), ao invés de queijos curados, carnes processadas, marisco e alguns cereais, os “campeões da acidificação”.  

Do ponto de vista metabólico, a preocupação com este balanço ácido-base tem lugar devido à falta de eficiência - que os nossos rins vão acumulando com a idade - em excretar alguns resíduos ácidos da nossa alimentação, algo que poderia tornar o nosso pH sanguíneo paulatinamente mais ácido com o consequente prejuízo da nossa massa óssea e massa muscular. Mas será que este raciocínio fisiológico se comprova na prática? Curiosamente, as dietas alcalinas são daquelas que, para além de plausibilidade científica, possuem também alguma sustentação baseada na evidência, não estivéssemos nós no fundo a falar de uma abordagem que visa aumentar a ingestão de hortofrutícolas. Assim, uma dieta alcalina parece favorecer a preservação de massa magra quer em mulheres num alargado espectro etário quer em idosos. Já na massa óssea o efeito não é tão claro pois a homeostasia do cálcio não é afectada de modo muito significativo pela carga ácida da alimentação.

Integrando toda esta informação há que reconhecer que quer a massa óssea quer a massa muscular beneficiam igualmente da ingestão de proteína, daí que a solução não passe pela diminuição drástica da ingestão de carne, peixe, ovos e lacticínios mas sim por contrabalançar com um adequado aporte de fruta e legumes. Todas estas recomendações vão ganhando força com a idade e com o potencial declínio da função renal, uma vez que em indivíduos jovens e saudáveis não é expectável que exista qualquer desequilíbrio ácido-base no nosso organismo.   

No fundo o grande ensinamento das dietas alcalinas vai no sentido do aumento do consumo de fruta e legumes e, quanto a isso, nada contra. Tal como muitas vezes já foi falado nesta rubrica, a forma é tão ou mais importante do que o conteúdo da abordagem alimentar e para algumas pessoas será sempre mais fácil de convencer a fazer a “dieta do pH” do que aumentar a ingestão de hortofrutícolas. A “fruta” é a mesma, “vende-se” é de forma diferente.

Em resumo: 

- Exercício, exposição controlada ao sol e alimentação equilibrada são três pilares fundamentais para uma boa massa óssea e muscular que ganham mais relevância a cada ano que passa;

- Coma sopa ao almoço e ao jantar e no prato nunca deixe que a quantidade de carne / peixe / ovo seja maior que a porção de legumes / salada: eis a sua dieta do pH!