Mitos que comemos
Quando o alimento é bom, não há colesterol que resista
A história nutricional de ovos, mariscos e moluscos não é contada apenas pelos seus níveis de colesterol.
De certeza que já ouviu muitos nutricionistas dizerem que não existem bons e maus alimentos e que o que interessa é que todos eles sejam consumidos com a devida moderação. Esta abordagem não deixa de estar correcta, sobretudo para quem não tem nenhum indicador de saúde “fora do sítio”. Já para as muitas pessoas que possuem níveis de colesterol acima do desejado, não há grande lugar para meios-termos e existem objectivamente alimentos bons e alimentos maus. Mas surpresa das supresas: os ovos, mariscos e moluscos estão no primeiro grupo.
Começando pelo essencial, o colesterol é absolutamente indispensável ao nosso organismo e à nossa sobrevivência. Tão indispensável que, mesmo na ausência da sua ingestão proveniente dos alimentos, o nosso organismo consegue sintetizá-lo internamente e são esses mecanismos internos de regulação uma das razões para a não existência de uma relação linear entre o colesterol que “comemos” e aquele que circula no nosso sangue.
Mas passando para o modo como o podemos manipular através da alimentação, todos temos de reconhecer que comemos alimentos e não nutrientes, por isso, olhar para os seus constituintes de forma isolada e descontextualizados do padrão alimentar que o envolve será sempre um exercício falacioso. Neste caso concreto, é lógico que todos os alimentos citados possuem certamente muito colesterol, mas também muito pouca gordura saturada e nenhuma gordura trans, estes sim mais associados ao aumento do colesterol sanguíneo e risco cardiovascular.
Também no efeito deletério dos níveis excessivos de colesterol para a saúde se exige que se olhe para a floresta e não apenas para a árvore e, como tal, o nosso sistema cardiovascular - que é o mais prejudicado pelos níveis elevados de colesterol - tem muitas coisas a ganhar com a riqueza em vitaminas A, D, B12, B6, ácido fólico e ómega 3, existente no conjunto dos ovos, mariscos e moluscos.
Mas então, se os “maus” afinal são bons, quais são os mesmo maus?
Uma tríade potenciadora dos níveis de colesterol sanguíneo é sem dúvida o elevado valor calórico dos alimentos, grande quantidade de gordura saturada e grande quantidade de gordura trans, não nos podendo esquecer igualmente dos açúcares e cereais refinados que não oferecem nenhuma vantagem adicional quando substituem as gorduras saturadas na nossa alimentação, tendo ainda o condão de aumentar os níveis de triglicerídeos em circulação. Assim sendo, “preciosidades” como enchidos, queijos e carnes gordas, manteiga, natas, folhados, snacks, salgadinhos e outros fritos, biscoitos, bolachas e demais alimentos e bebidas excessivamente açucaradas são com toda a certeza muito mais prejudiciais ao colesterol (e não só) do que os “pseudo bichos papões” acima descritos.
Claro que no caso dos ovos o consumo não deve ser exagerado (até um ovo por dia ou menos em indivíduos diabéticos), recomendando-se o mesmo com mariscos e moluscos, uma vez que existe neste campo uma inevitabilidade à qual não devemos fugir que é a da variabilidade inter-individual na resposta à ingestão de colesterol. Tal como acontece com o sal e pressão arterial, também a este nível existem pessoas que respondem positivamente à ingestão de alimentos ricos em colesterol aumentando os seus níveis sanguíneos e outras que não o fazem. Como tal, apesar de todas estas recomendações, cada caso será sempre um caso.
Em resumo:
- Se tem níveis de colesterol elevados há muito que pode mudar na sua alimentação, mas dificilmente diminuir a ingestão de ovos será uma dessas mudanças;
- Para além de restringir o consumo dos “maus” alimentos para o colesterol aqui referidos, tente igualmente aumentar a ingestão de fruta, legumes e frutos gordos (noz, amêndoa, pinhão, etc.), pois nas gorduras interessa bem mais a qualidade do que a quantidade.