Mitos que comemos

As bebidas gaseificadas descalcificam os ossos?

Já a nossa mãe dizia que o gás descalcifica os ossos. E nem sequer precisava de ser o dos refrigerantes, mesmo as águas gaseificadas sofriam do mesmo mal! Dos conselhos de mãe nunca convém duvidar, mas será que as bebidas gaseificadas podem mesmo colocar em causa a saúde óssea?

Quando falamos de bebidas gaseificadas temos de as dividir claramente entre os seus constituintes. Por um lado temos o gás, que pode ser “natural” nas águas gasocarbónicas ou adicionado nas águas gaseificadas e nos refrigerantes. Este gás (independentemente da sua origem) até hoje não esteve relacionado de nenhuma forma com a desmineralização óssea. Assim, se é daquelas pessoas que só bebe água com gás, pode continuar a fazê-lo desde que tenha em atenção o pequeno-grande detalhe do seu teor em sódio. É que em algumas marcas este valor é tão elevado que “apenas” 1 litro de água gaseificada consegue suprir 1/3 das nossas necessidades diárias deste mineral. Uma informação que ganha especial relevância quando em Portugal existe um grande apetite pelo sal e a ingestão de sódio é o dobro da recomendada.

Mas como nem só de gás se fazem estas bebidas, temos de explorar os seus outros constituintes. Das versões light e dos respectivos edulcorantes, já tivemos oportunidade de falar anteriormente. Quanto ao açúcar, é do senso comum que, em excesso, bem não faz, apesar de directamente não exercer nenhum efeito deletério sobre a saúde óssea (mas o mesmo já não se pode dizer sobre a saúde oral).

Deixamos para o fim as características destas bebidas que mais nos interessam: o seu teor em ácido fosfórico, cafeína e pH, todos eles com um potencial efeito adverso na densidade mineral óssea. De todos os refrigerantes, as “colas” são aquelas que reúnem de forma mais vincada estas três características e aquelas que sem surpresa estão mais associadas a uma baixa densidade mineral óssea (particularmente em mulheres) e também à erosão dentária. Também as águas “com sabor” e as bebidas energéticas não são igualmente muito amigas da integridade dos nossos dentes, fruto da sua elevada acidez.

Apesar de todas estas associações entre os constituintes das bebidas gaseificadas e a densidade mineral óssea, muitas vezes o verdadeiro problema não reside nelas mesmas, mas sim naquilo que estas bebidas substituem. Não são raras as vezes (particularmente em crianças e adolescentes) que assistimos à substituição de leite e iogurtes por estas bebidas - particularmente os refrigerantes - em lanches e merendas. Temos assim, indivíduos em plena construção óssea que não só desprezam o teor em cálcio dos primeiros como ainda ingerem compostos que podem danificar a densidade mineral óssea já existente ideia que, de resto, até a Universidade de Harvard (não muito fã dos lacticínios) parece confirmar.

Este é assim apenas mais um exemplo de um muito útil princípio de vida: mãe tem sempre razão, mesmo quando não tem…

Em resumo: 

- As águas gaseificadas parecem estar inocentes neste processo de desmineralização óssea, mas quer pelo seu teor eventualmente elevado em sódio quer pelo baixo pH em algumas versões “com sabores”, não convém abusar do seu consumo;

- O mundo não lhe vai cair em cima se beber um refrigerante de vez em quando (mesmo que seja uma cola). Tente é que não se torne num hábito nem que substitua sistematicamente os lacticínios na sua alimentação.