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Mitos qure comemos

As vitaminas abrem mesmo o apetite?

A prescrição de vitaminas com o propósito de abrir ou estimular o apetite é uma recomendação clássica e quase do senso comum. A prática está particularmente enraizada em crianças e adolescentes, mas há dados que a consubstanciem?

E é de facto uma procura longa e com escassos resultados, pois rareiam estudos que tenham investigado esta ligação entre vitaminas e apetite. De facto, em vários manuais, a falta de apetite aparece como um sintoma clássico de carência de algumas vitaminas como a B12, C e vitamina A. Na prática, os poucos estudos que investigaram esta relação nunca chegaram a comprová-la devidamente.

Em dois deles, realizados em crianças anémicas e com atrasos de crescimento no Benim (exemplo extremo de carência nutricional) não foi verificado um aumento de apetite (avaliado pela ingestão livre de uma refeição) associado à suplementação vitamínica e mineral durante seis semanas. Já quando o apetite das crianças foi reportado pelas mães - uma vez que as crianças do estudo tinham entre 17 a 32 meses - este aumentou independentemente de estarem a tomar o suplemento “a sério” ou o placebo, o que nos indica que este efeito pode até ter um cariz marcadamente comportamental e de certo modo tranquilizante para os pais preocupados com eventuais carências nutricionais do filho.

Logicamente que seis semanas poderá ser um espaço temporal bastante curto para se tirarem ilações definitivas, mesmo tendo em conta que situações de carência como estas são dificilmente verificadas na nossa realidade. Ainda assim, se a falta de apetite estiver associada a uma alimentação claramente deficitária e a outros sintomas como apatia, palidez, sonolência, pele seca, cabelos quebradiços, fissuras nos cantos da boca, etc. é mais do que provável que essa carência de facto exista e que seja necessário ser corrigida.

Já quando falamos em adultos sem qualquer tipo de carência associada, foi até demonstrado o efeito inverso com os suplementos multivitamínicos a diminuírem o apetite em mulheres obesas a cumprirem um programa de perda de peso. O único relato positivo relacionando um suplemento nutricional com o aumento do apetite em adultos saudáveis foi mesmo com cápsulas de óleo de peixe, maioritariamente EPA e DHA, dois ácidos gordos da família dos ómega 3, algo que pode até ter sido um achado meramente casual, uma vez que não existe um mecanismo óbvio entre estes ácidos gordos e a regulação do apetite.

Em resumo:

- Não existe nenhum mecanismo fisiológico que justifique um efeito positivo dos suplementos vitamínicos no aumento do apetite;

- Se o seu filho alega uma falta de apetite esporádica e selectiva, existem algumas formas de resolver este problema de índole comportamental, mas nenhuma passa pela ingestão de vitaminas;

- Se a toma de um suplemento vitamínico foi aconselhada pelo seu médico com o objectivo de aumentar o apetite, naturalmente deve seguir o conselho, mas desconfie se antes não for questionado sobre a sua alimentação.