Mitos que comemos
Adoçantes: não há doce sem senão
Refrigerantes, “águas” com sabor, néctares, iogurtes, gelatinas. Tudo hoje apresenta uma versão light, zero ou sem açúcar. A pergunta que se impõe é lógica: faz sentido optar pelas versões light em vez do alimento na sua versão original?
Do ponto de vista estritamente calórico, sim, sem dúvida. Passarmos de uma lata de refrigerante com cerca de 150 kcal e o equivalente a cinco pacotinhos de açúcar para outra quase sem calorias (0 a 20 kcal) e com uma quantidade residual de açúcar é, objectivamente, um ganho.
De igual modo, optar pela versão light ou sem açúcar de um iogurte, néctar ou gelatina com metade das calorias da sua versão original também encerra em si um benefício – isto se não existir uma desresponsabilização da pessoa ao ingerir o dobro da quantidade! Ainda assim, e partindo do pressuposto de que a segurança relativamente à ingestão destes edulcorantes está garantida, uma outra questão se levanta. Não haverá mesmo qualquer desvantagem do ponto de vista metabólico da ingestão excessiva de edulcorantes? O nosso organismo deixa-se enganar assim tão facilmente?
Em primeiro lugar, há que reconhecer que os edulcorantes imitam o açúcar no sabor, mas, a partir daí, a história é diferente. Depois de ingeridos, não conseguem estimular algumas hormonas responsáveis pela diminuição da velocidade do esvaziamento gástrico e supressão do apetite. Uma outra questão – mais académica e ainda por ser devidamente comprovada – prende-se com a dissociação a nível cerebral entre a percepção do sabor doce e a não correspondência em calorias que pode resultar numa insuficiente activação do sistema de recompensa cerebral, o que faz com que a procura de alimentos doces continue. Aliás, esta repetida exposição a alimentos doces pode ter o condão de nos dessensibilizar deste sabor, promovendo um efeito “bola de neve”.
Aquilo que então podemos dizer é que, muito provavelmente, os edulcorantes não são substâncias totalmente inertes no nosso organismo. Poderão ser bastante úteis na gestão do peso e na melhoria de vários parâmetros de saúde, mas só se forem bem utilizados na substituição de alimentos mais açucarados.
Assim, a título de exemplo, se bebe dois litros de refrigerante por dia, a solução não é substituí-los pela sua versão light, mas sim por água. Para além dos edulcorantes, o ácido fosfórico presente em alguns refrigerantes pode não ser propriamente o melhor amigo dos nossos dentes e ossos. Se o seu consumo é ocasional e dentro dos limites do bom senso, então opte pela versão que lhe sabe melhor, mas com a consciência de que os eventuais efeitos adversos dos edulcorantes na nossa saúde são menores que os do açúcar em excesso.
Em resumo:
– Pesando prós e contras, a troca de um alimento açucarado pelo seu equivalente com edulcorantes é positiva e poupa-nos objectivamente a ingestão de algumas calorias;
– O consumo destes alimentos também deve ser feito de forma regrada. Não é por terem poucas ou nenhumas calorias que devem ser ingeridos sem critério. No caso dos refrigerantes light, estes nunca poderão substituir a água como bebida de eleição;
– Habitue-se a ingerir apenas o açúcar naturalmente presente nos alimentos. O nosso paladar também se educa, por isso, quanto menor for o estímulo de alimentos doces, menor será a sua necessidade deles.