Mitos que comemos
Procura bebidas que dêem asas? Tome antes um cafezinho!
Quando se fala de bebidas energéticas é inevitável fazer a analogia à sua equivalência em cafés. Afinal, uma bebida energética “equivale a cinco ou seis cafés, à vontade!”. É um chavão que de facto vende bem e que nunca importou às marcas dessas bebidas desmentir.
Respondendo então à questão essencial: a quantos cafés equivale uma lata (250 ml) de uma bebida energética? A um (sim, leu bem), apenas um café, podendo até ter menos cafeína do que um café cheio. Aproveitando o embalo, fica também a nota de que um café cheio tem mais cafeína do que um café curto (mesmo que o último seja mais “concentrado”, o valor total de cafeína é tanto maior quanto maior o volume de café ingerido). Ainda assim, o marketing das bebidas energéticas não se cinge ao seu teor de cafeína pois afinal também possuem taurina (um aminoácido que vende pelo nome) e também glucoronolactona (o que quer que isso seja!).
Começando pela taurina, ao contrário das imagens que semeia no nosso imaginário, ela não nos dá uma “força de touro”. Trata-se apenas de um aminoácido que intervém em vários processos no nosso organismo (osmorregulação, neuroprotecção, regulação do cálcio intracelular, etc.), mas nunca foi provado qualquer tipo de efeito na performance cognitiva. Aliás, foi mesmo verificado num estudo (apesar de ter sido feito com cápsulas e não com a bebida em si) que a taurina pode inclusive diminuir o papel positivo da cafeína a este nível.
Já a glucoronolactona é um metabolito formado no fígado a partir da glicose cujo efeito ao nível da performance cognitiva e atlética é, até ver, inexistente. Ou seja, aquilo que podemos afirmar sobre as bebidas energéticas é que de facto a sua ingestão moderada e ocasional (para além de cada lata equivaler a um café, possui também quatro pacotinhos de açúcar no seu interior) não acarreta riscos de maior para a saúde, mas o seu efeito benéfico na nossa performance, quer física quer mental, deve-se única e exclusivamente à cafeína, pois todos os seus outros compostos são totalmente irrelevantes a este nível.
Uma questão que pode sim preocupar é a conjugação cada vez mais em voga destas bebidas com o álcool. Se ao nível da desidratação cafeína e álcool em excesso actuam em conjunto, os seus efeitos no sistema nervoso central já são antagónicos pois este é estimulado pela cafeína e deprimido pelo álcool. Na prática, com esta interacção, o indivíduo pode continuar a beber álcool sem percepcionar os efeitos deletérios do mesmo na coordenação motora e tempo de reacção visual. Isto é, pensa que está bem quando de facto já não está! Existem mesmo associações (que deverão ser interpretadas com a devida precaução) de que a ingestão desta mistura aumenta o risco de prática de sexo sem protecção em estudantes universitários.
Em suma, não podemos dizer que as bebidas energéticas são uma mentira bem contada porque o seu efeito de facto está lá. Mas não espere mais do que os resultados de tomar um cafezinho!
Em resumo:
- Não há nenhum risco em ingerir esporadicamente bebidas energéticas, não espere é ganhar asas;
- Evite misturá-las com bebidas alcoólicas;
- Se, de facto, se sente mais revigorado com estas bebidas do que com o tradicional café, então, continue! Mas lembre-se de que possuem açúcar e, mesmo das versões light, não convém abusar.